Conselho de Segurança: Prioridades de Moçambique
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Moçambique foi eleito por unanimidade para o Conselho de Segurança das Nações Unidas em 9 de junho passado. Veja quais são as prioridades do país no órgão.
MAPUTO, Moçambique - Moçambique foi eleito por unanimidade como membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas em junho de 2022, na vaga que cabia a África preencher e à qual concorria sem oposição, seguindo a habitual concertação no continente. O país se junta a Equador, Japão, Malta e Suíça para o mandato de dois anos entre 1 de janeiro de 2023 a 31 de dezembro de 2024.
É a primeira vez que Moçambique ocupa o lugar no órgão da ONU responsável pela manutenção da paz e segurança internacionais. Veja quais são as prioridades do país para o seu mandato.
Conselho de Segurança
O Conselho de Segurança das Nações Unidas é um órgão da ONU cujo mandato é zelar pela manutenção da paz e da segurança internacional. É o único órgão do sistema internacional capaz de adotar decisões obrigatórias para todos os 193 Estados-membros da ONU, podendo inclusive autorizar intervenção militar para garantir a execução de suas resoluções. O Conselho é conhecido também por autorizar o desdobramento de operações de manutenção da paz e missões políticas especiais.
O Conselho é composto por 15 membros, sendo cinco membros permanentes com poder de veto: os Estados Unidos, a França, o Reino Unido, a Rússia e a República Popular da China. Os demais dez membros são eleitos pela Assembleia Geral para mandatos de dois anos.
Uma resolução do Conselho de Segurança é aprovada se tiver maioria de nove dos quinze membros, inclusive os cinco membros permanentes. Um voto negativo de um membro permanente configura um veto à resolução. A abstenção de um membro permanente não configura veto.
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Prioridades de Moçambique
Moçambique tornou-se membro da ONU após a sua independência em 1975. É um dos 62 membros da ONU que nunca estiveram no Conselho. Moçambique lançou oficialmente a sua candidatura em setembro de 2021 e foi endossada pela Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a União Africana.
Durante a sua campanha, Moçambique destacou a sua história na luta contra a injustiça racial, salientando que foi um estado na linha da frente na luta contra o apartheid na África do Sul. A situação em Moçambique esteve na agenda do Conselho de Segurança na década de 1990, e a Operação da ONU em Moçambique (ONUMOZ) foi implementada para monitorar o acordo de paz assinado entre a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e a Frente para a Libertação de Moçambique (FRELIMO) em 1992.
Diálogo para uma paz definitiva
Por meio do Acordo de Paz e Reconciliação Nacional de Maputo assinado em agosto de 2019 por Filipe Nyusi e Ossufo Momade, líderes do Governo e da RENAMO deram mais um passo rumo ao alcance de uma paz definitiva no país por meio do diálogo.
No âmbito do Acordo de Paz e com apoio do Enviado Pessoal do Secretário-Geral para Moçambique, Mirko Manzoni, o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) já desmobilizou cerca de 90% dos 5,221 ex-combatantes da RENAMO, sendo que alguns foram incorporados nas Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas. Ao todo, 15 das 16 bases foram desativadas.
A constante utilização do diálogo como princípio norteador das relações internacionais de Moçambique aliada à sua experiência como estado pós-conflito aumenta a compreensão do país sobre os esforços do Conselho para lidar com os desafios da paz e segurança assim como formar pontes entres seus membros a aumentar a eficácia de suas decisões.
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Soluções africanas para desafios africanos
Embora Moçambique não tenha atualmente forças de paz da ONU destacadas no terreno, no passado foi um país que contribuiu com tropas. Seu pessoal civil e militar foi destacado como parte das operações de manutenção da paz da ONU na República Democrática do Congo, Sudão, Abyei, Timor-Leste e Burundi. Moçambique é também membro da Comissão Especial de Manutenção da Paz (C-34).
No Conselho de Segurança, Moçambique dará foco especial na luta contra o terrorismo, uma prioridade que reflete as suas próprias preocupações de segurança. Nos últimos anos, Moçambique tem lidado com a complexa crise nas províncias do norte do país. A Ruanda desdobrou as suas forças, com base em acordos bilaterais com Moçambique, para ajudar na estabilização da província de Cabo Delgado, demonstrando como a busca por soluções interafricanas para os desafios do continente é possível e pode gerar resultados. A Missão da SADC em Moçambique (SAMIM) também está em serviço desde julho de 2021 como parte de uma resposta regional à ameaça do terrorismo.
Tal como outros membros africanos do Conselho, Moçambique indicou em sua candidatura que apoiará a cooperação reforçada entre a ONU e as organizações regionais e sub-regionais, a ser guiado pelas decisões da SADC e da União Africana no avanço de posições sobre questões africanas no Conselho de Segurança.
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Mudanças climáticas e a segurança e a paz internacionais
Moçambique também apoia os esforços para que o Conselho de Segurança aborde ameaças não tradicionais à paz e segurança, como pandemias e alterações climáticas. O país tem sido cada vez mais vulnerável aos riscos relacionados ao clima, incluindo secas, inundações e ciclones.
Indicado pela Comissão da União Africana como país de excelência na gestão e redução do risco de desastres, o Governo de Moçambique tem desenvolvido, junto da sociedade civil e da comunidade internacional, métodos para prevenir ao invés de reagir aos choques climáticos com foco em plataformas de desenvolvimento locais focados na adaptação e mitigação.
Os planos de adaptação climática e os processos de planificação participativa de Moçambique são exemplos de como as instituições nacionais podem ouvir as vozes e as necessidades das comunidades para promover serviços públicos essenciais prestados pelos próprios governos locais para a comunidade com vistas à adaptação às mudanças climáticas ao mesmo tempo que criam comunidades mais coesas, resilientes e pacíficas.
As outras prioridades temáticas de Moçambique incluem armas ligeiras e de pequeno calibre; mulheres, paz e segurança; crianças e conflitos armados; direitos humanos; e ação humanitária. Em sua candidatura, Moçambique também demonstrou interesse em explorar as ligações entre cultura, turismo, esportes e paz e segurança no avanço do desenvolvimento sustentável.
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