Moçambicana ganha Prêmio Global da UNESCO para mulheres cientistas
08 outubro 2020
A Bióloga e Pesquisadora do Instituto Nacional da Sáude, Raquel Matavele Chissumba, venceu o prémio Early Career Fellowship da OWSD, programa da UNESCO.
Maputo, Moçambique - A busca de um tratamento natural para a Covid-19 é o foco das atenções da bióloga e pesquisadora moçambicana Raquel Matavele Chissumba. Ela ganhou o prêmio para Mulheres Cientistas do pograma Early Career Fellowship por um projeto de pesquisa de plantas medicinais que possam tratar a doença.
A iniciativa faz parte da Organização para Mulheres na Ciência para o Mundo em Desenvolvimento, Owsd na sigla em inglês, associada à Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco.
Motivos
A investigação de potenciais terapias para o novo coronavírus será feita em populações residentes nas zonas tropicais de África. Nesta conversa, em Maputo, Raquel Matavele Chissumba citou os motivos que a incentivaram a concorrer.
“Há cerca de 12 anos que eu tenho trabalhado com mecanismos de regulação da resposta imune em contexto de outras infeções virais, como para o caso do HIV e Htlv. que é outro vírus parecido com HIV. Eu já tinha conhecimento sobre como o sistema imune quando ele não é devidamente regulado, o que pode causar. Então, pelo fato da infeção do Sars Cov-2 (novo coronavírus) ter esse perfil, esse padrão de resposta imune exagerada e o conhecimento que eu já tinha sobre mecanismo de regulação, foi um dos fatores que despertou interesse.”
A paixão pelas plantas medicinais também foi um fator impulsionador para a proposta da bióloga que foi licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique.
No Brasil, a pesquisadora obteve o grau de mestre em Biologia Celular e Molecular pela Fundação Instituto Osvaldo Cruz. Retomou os estudos na Europa e obteve o grau de doutora em Ciências Biomédicas pela Universidade de Antuérpia, na Bélgica.
A cientista teve uma bolsa de investigação de US$ 50 mil para ajudar nos estudos para encontrar um tratamento da Covid-19. Ela disse acreditar que a paixão pelas plantas medicinais também levou ao reconhecimento de seu trabalho.
Potencial
“Na época que surgiu a batata africana (nome popular da planta Hypoxis rooperi) como alternativa para o tratamento do HIV. Foi um dos fatores que me fez seguir o curso de biologia, então, eu já tenho essa paixão pelas plantas medicinais já há bastante tempo. E também fiz alguns trabalhos com estudantes na área de pesquisa sobre o potencial que as plantas medicinas têm de moldar o nosso sistema imunológico. Então eu decidi tentar explorar este outro lado que é pesquisa do potencial modulador das plantas medicinais”
O projeto destaca o potencial de algumas plantas nativas para controlar a resposta inflamatória violenta que ocorre em casos graves da infeção provocada pelo novo coronavírus.
Em conversa com a ONU News, Chissumba detalhou como a concretização deste projeto pode contribuir para os países de língua portuguesa.
“Eu tenho visto algumas reações, principalmente dos países lusófonos, e a maior parte da pesquisa que é feita, que a gente vê descrita na literatura não é feita em países falantes da língua portuguesa, porque a maior parte da ciência esta escrita em inglês. Eu penso que isto também vai ser um fator que vai impulsionar e mostrar que apesar da dificuldade da língua e recursos que a gente tem conseguimos fazer alguma coisa.”
Condições
O programa de bolsas da Unesco apoia mulheres cientistas em início de carreira de pesquisa, para que possam liderar projetos de investigação científica importantes nos países em vias de desenvolvimento.
Como parte do estudo será feita a colheita de amostras em indivíduos com diferentes condições clínicas observando e “respeitando a questão da ética profissional”.
“Pelo fato de nós estarmos a trabalhar com material biológico, humano neste caso, nós precisamos de passar de um procedimento de aprovação ética para garantir que este estudo que a gente vai fazer segue todo aquele rigor ético que é um requisito para que se possa fazer o estudo. Portanto, para além da colheita das amostras, nós precisamos passar pelo processo de aprovação ética, que já iniciou e está quase no fim.”
Raquel Matavele Chissumba é uma das 15 mulheres no continente africano e da região da Ásia-Pacífico que recebem o reconhecimento entre candidatos de cerca de 60 países.
A cientista é funcionária do Instituto Nacional de Saúde, onde coordena o Programa de Doenças Endêmicas de Grande Impacto Sanitário.