“A COVID-19 está nos causando mais medo do que ciclones e inundações, mas encontramos coragem pois as pessoas precisam da nossa ajuda”
19 agosto 2020
Hitesh Kanakrai, funcionário do PMA Moçambique, explica como está liderando uma equipa humanitária para superar com inovação os novos desafios da pandemia.
Maputo, Moçambique – Há 23 anos, Hitesh Kanakrai está na linha de frente do trabalho do Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas (PMA) em Moçambique. Ele se esforçou para ajudar o PMA a fornecer assistência alimentar que salva vidas em meio às enchentes em 2000 no sul de Moçambique; cruzou o Rio Zambeze muitas vezes em pequenos barcos perigosos para chegar a comunidades de difícil acesso que precisavam de alimentos; teve que fugir de muitos elefantes ao cruzar uma reserva natural para chegar a uma aldeia isolada assistida pelo PMA; entre muitas outras aventuras. Hitesh é um dos muitos herois da vida real em Moçambique. Por meio da história de Hitesh Kanakrai, as Nações Unidas em Moçambique homenageia a todos os trabalhadores humanitários no país.
Hiteshi Kanakrai gosta de contar sobre seus anos de trabalho humanitário em Moçambique. Hoje é a ameaça invisível do coronavírus que o está acordando à noite. “Apesar de todos os cuidados que tomamos, de todas as medidas de saúde que seguimos, não conseguimos ver o vírus; enquanto os ciclones, a chuva e as enchentes são mais tangíveis”, diz o experiente Hitesh, de 50 anos. “A COVID-19 está nos causando mais medo do que ciclones e inundações, mas encontramos coragem pois as pessoas precisam da nossa assistência alimentar”.
É ao pensar em todas as pessoas que dependem da assistência alimentar na Província de Tete (centro de Moçambique) que a Hitesh encontra motivação para continuar a trabalhar na linha da frente da resposta humanitária. “Temos que ser a linha de frente da resposta à COVID-19”, diz Hitesh. “Quando estamos em campo, temos que encontrar as pessoas e falar com elas diretamente; não podemos fazer tudo por telefone ou online quando estamos no campo ”, diz Hitesh.
Estar alerta é a primeira medida de prevenção da COVID-19. Hitesh está em constante comunicação com toda a sua equipa humanitária. “Precisamos saber com os colegas de diferentes lugares sobre casos suspeitos, investigar e reduzir nossa movimentação quando possível”, explica Hitesh. “Precisamos estar perto das pessoas; então, isso afeta nosso trabalho no campo com as comunidades necessitadas. Por isso, precisamos encontrar alternativas inovadoras”, afirma Hitesh.
“As transferências monetárias são uma solução inovadora para manter a assistência alimentar em tempos de distanciamento social”
Hitesh desempenhou um papel fundamental no estabelecimento de soluções baseadas em dinheiro do PMA em Moçambique, começando com o primeiro projeto piloto na Província de Tete em 2018. Ele trabalhou diretamente com a mobilização de comunidades para o uso de transferências baseadas em dinheiro (CBT em sua sigla em inglês), bem como defendeu junto ao governo a garantia de adesão de todos os parceiros. Sua experiência com CBT agora está rendendo frutos em tempos de pandemia da COVID-19. Essa mesma solução vai agora ser aplicada como parte das atividades de resposta do PMA à COVID-19, em estreita coordenação com o Governo e outros parceiros da ONU, incluindo o UNICEF e a OIT.
Uma vez que os contatos sociais devem ser evitados para prevenção da COVID-19, as soluções baseadas em dinheiro são preferíveis para fornecer assistência alimentar em vez das normalmente lotadas distribuições de alimentos em espécie para as comunidades. Além disso, as transferências baseadas em dinheiro permitem que os beneficiários sejam mais autônomos e tenham liberdade de escolha sobre quando e o que comprar. Ao invés de receber mensalmente uma cesta básica pré-estabelecida, as pessoas recebem um equivalente em dinheiro digital (MPesa por exemplo) e podem comprar outros itens importantes para si, como sabonetes e produtos de limpeza. “As transferências monetárias são uma solução inovadora para manter a assistência alimentar em tempos de distanciamento social”, explica Hitesh.
Hitesh também trabalha para inspirar sua equipe a encontrar e implementar continuamente soluções inovadoras para manter a assistência alimentar para os mais vulneráveis. Desde abril, todas as aulas foram suspensas em Moçambique. Com as escolas fechadas, os alunos não podem mais receber as refeições quentes que os ajudavam a suprir suas necessidades nutricionais. Hitesh está, portanto, liderando esforços para iniciar a distribuição de rações para levar para casa. Os pais das crianças podem ir às escolas e receber alimentos secos para levar para casa para complementar a ingestão de alimentos da família - o que é especialmente importante em momentos em que a geração de renda está sendo afetada pelas restrições de movimento.
“Preciso estar pronto e motivar a equipa para que sintam que nosso trabalho faz a diferença na vida das pessoas”
A Hitesh trabalhou muito para sensibilizar as comunidades escolares, beneficiários, governo local e parceiros a fim de garantir o acordo e a colaboração de todas as partes. “Temos que trabalhar muito para engajar as comunidades e o governo em todas as etapas”, diz Hitesh. As primeiras distribuições de comida para levar para casa nas escolas aconteceram em meados de Junho em Tete.
Hitesh já pensava que os seus desafios profissionais aumentavam com os efeitos das alterações climáticas em Moçambique. “Estamos tendo mais secas cíclicas e chuvas fortes; as comunidades precisam ser mais resilientes, para reduzir a degradação do meio ambiente, para aplicar novos métodos para se preparar para a próxima crise; Isto exige que apoiemos a transferência de conhecimento ”, reflete Hitesh.
Com a COVID-19 ele prevê que seus desafios aumentem. “Preciso estar pronto e motivar a equipa para que sintam que nosso trabalho faz a diferença na vida das pessoas”, afirma Hitesh. “Tenho que levá-los a campo também olhar nos olhos das pessoas que sofrem nas áreas mais isoladas do país para que sintam que não podem parar de trabalhar; porque estamos melhorando vidas aqui”.