ONU propõe renda básica temporária para reduzir pandemia entre os mais carentes
PNUD diz que custo mensal para atender 2,7 bilhões de pessoas, abaixo da linha de pobreza, seria de US$ 199 bilhões; pesquisa revela que proposta é “viável".
Maptuo, Moçambique - A criação de um pacote de renda básica temporária para os mais pobres do mundo pode combater o aumento no número de casos de Covid-19. A medida beneficiaria pelo menos 2,7 bilhões de pessoas no mundo.
A proposta é parte de um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, divulgado esta quinta-feira, pelo chefe da agência, Achim Steiner.
Setor informal
Segundo a pesquisa do Pnud, a medida custaria US$ 199 bilhões por mês para atender pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza em 132 países em desenvolvimento.
A agência lembra que todas as semanas, surgem 1,5 milhão de novos casos da Covid-19, principalmente nessa região. Sete em cada 10 trabalhadores nesses países atuam no setor informal e não têm como se sustentar ficando em casa.
Muitos dos cidadãos sem proteção social são mulheres e jovens, refugiados, migrantes e pessoas com deficiência.
O Pnud pesquisou mais de 60 países e disse que a criação de uma renda temporária “é viável e necessária urgentemente.”
Financeiramente, a pesquisa diz que a medida é possível. Implementar a renda básica por seis meses, por exemplo, custaria 12% da resposta financeira total esperada ainda este ano, e equivale a um terço dos pagamentos em dívidas externas em 2020.
Os países poderiam custear a medida redirecionando os fundos destinados ao pagamento de suas dívidas, no valor de US$ 3,1 trilhões para as nações em desenvolvimento.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, já pediu um congelamento da dívida para este grupo de países.
Soluções
Em comunicado, Achim Steiner afirmou que “tempos sem precedentes exigem medidas sociais e econômicas sem precedentes.”
Segundo ele, “os planos de resgate e recuperação não podem se focar apenas em grandes mercados e grandes empresas.”
Esta opção permitiria que as pessoas injetassem dinheiro nas economias locais, ajudando a manter as pequenas empresas em funcionamento.
A pesquisa revela que os governos precisam fazer mais para proteger empregos, expandir o apoio a pequenas e médias empresas e usar soluções digitais no combate à exclusão de pessoas.
Ação
Alguns dos exemplos vêm da África, onde Togo distribuiu US$ 19,5 milhões a mais de 12% da população, principalmente mulheres no setor informal. Na Europa, a Espanha aprovou um orçamento mensal de 250 milhões de euros para ajudar 850 mil famílias vulneráveis e 2,3 milhões de indivíduos.
Segundo estimativas da ONU, mais de 100 milhões de pessoas deverão ficar em situação de pobreza extrema até o final do ano. Cerca de 1,4 bilhão de crianças foram afetadas pelo fechamento de escolas. Os níveis de desemprego estão batendo recordes em vários países.
O Pnud prevê que o desenvolvimento humano deve cair este ano pela primeira vez desde que o conceito foi introduzido, em 1990.