OIM publica Avaliação do Impacto da COVID-19 na Região Central de Moçambique
O relatório da Matriz de Monitoria de Deslocados da OIM (DTM) oferece uma visão geral do impacto da pandemia nas províncias do centro de Moçambique.
Maputo, Moçambique - Embora os esforços concertados para prevenção da COVID-19 em Moçambique tenham claramente retardado a propagação da doença, os números de casos que desde ontem situam-se acima dos 1.200, o dobro do número do mês anterior, demonstram a urgência de esforços preventivos contínuos.
A fim de fornecer uma atualização sobre o estado das medidas de prevenção, impacto da doença e de informar o planeamento de novas intervenções, a OIM publicou recentemente dois relatórios de avaliação da COVID-19 centrados nas províncias de Manica, Sofala, Tete e Zambézia no centro de Moçambique.
O relatório da Matriz de Monitoria de Deslocados da OIM (DTM): Avaliação do Impacto da COVID-19 na Região Centro de Moçambique oferece uma visão geral do impacto da pandemia. Conduzido ao nível dos postos administrativos, o relatório apresenta dados sobre a consciencialização do público, o estado dos serviços de saúde, o acesso aos serviços, a situação do desemprego e das empresas, as restrições de mobilidade, e os retornados do estrangeiro. Os dados foram recolhidos através de entrevistas directas cara-cara com representantes de mais de 150 postos administrativos.
Dos informantes-chave entrevistados: mais de metade (52%) reportaram aumentos de preços, e 36% reportaram escassez de produtos, apontando os produtos alimentares e de higiene pessoal como os mais afectados; 27% reportaram perdas de emprego que afectaram a maioria das pessoas nos seus postos. Um quarto relatou que a maioria dos negócios no seu posto administrativo fecharam e não terão capacidade para reabrir.
Quase todos (97%) relataram ter recebido informações sobre as campanhas COVID-19. No entanto, 22% acreditam que as pessoas com a doença podem esconder o seu estado por receio de estigma. Quase todos (95%) relataram que os centros de saúde públicos primários estão em funcionamento, 80% afirmaram que a população tem acesso as brigadas de saúde móveis, mas apenas 48% relataram ter acesso a hospitais públicos.
Um outro relatório da OIM DTM: Relatório da Avaliação da Preparação contra a COVID-19 nos Bairros de Reassentamento, agora na quinta ronda, apresenta dados sobre a preparação e consciencialização nos 72 Bairros na Região Centro de Moçambique, onde residem actualmente mais de 95.000 indivíduos deslocados pelo ciclone Idai e inundações.
Foram tomadas medidas de prevenção e controlo da COVID-19 em 97% dos bairros de reassentamento e todos eles relatam uma mudança notável nos comportamentos dos deslocados em relação à prevenção da COVID-19. Contudo, a necessidade de maior preparação é contínua: apenas 65% dos bairros avaliados relataram ter material de protecção pessoal, e 61% indicam ter novas estações de lavagem das mãos com água e sabão.
"As pessoas mais vulneráveis, incluindo as que enfrentaram deslocamentos, estão em maior risco de serem afectadas pela COVID-19, devido à falta de recursos para se protegerem", disse a Chefe de Missão da OIM Moçambique, Laura Tomm-Bonde.
"O impacto da COVID-19 nos meios de subsistência destas comunidades é tangível. Estas comunidades vulneráveis precisam de ser apoiadas com informação e ferramentas para prevenir a COVID-19, e precisam de mais apoio para mitigar os vastos impactos económicos e sociais da doença".
Estes relatórios são publicados num momento crítico; na terça-feira, 14 de Julho, quase quatro meses após o primeiro caso de COVID-19 ter sido reportado em Moçambique, havia um total de 1.268 casos COVID-19 - mais que o dobro dos 583 casos reportados há um mês (a 14 de Junho). As quatro províncias do centro de Moçambique apresentam um total de 105 casos no total até ontem, 13 de Julho, com 87 casos activos, e dois casos de morte reportados. O estado de emergência nacional em Moçambique teve início a 30 de Março, e foi prorogado novamente até 31 de Julho de 2020. Ambos os relatórios da OIM DTM foram produzidos em colaboração com o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) de Moçambique.
"A preparação é essencial para prevenir a propagação de doenças infecciosas. Antes que as pessoas nos bairros de reassentamento sejam afectadas, precisamos de mais recursos para continuar a implementar medidas de protecção e prevenção", disse o delegado do INGC para a Província de Sofala, Almeida Teixeira.
"A prevenção é a melhor medida – para informar as comunidades sobre os riscos, a necessidade de lavar as mãos, a importância de manter o distanciamento físico, e a importância de seguir as directrizes do decreto do estado de emergência. Precisamos de trabalhar em coordenação na prevenção, com meios mais abrangentes para alcançar mais pessoas".
A resposta da OIM incluiu a formação de activistas comunitários nos bairros de reassentamento, que divulgam informação sobre a prevenção da COVID-19. Sara Vasco, Activista Comunitária no Bairro de Reassentamento de Bandua 2, afirmou: "Andamos de casa em casa no bairro e fazemos sensibilização e apresentações. Os residentes deste bairro estão todos cientes da COVID-19. As pessoas compreendem e seguem as orientações sobre como prevenir esta doença, lavar as mãos com água e sabão, usar máscaras e manter uma distância de 1,5 metros. O sabão é difícil de obter para muitos, por isso usam cinza para limpar as mãos. Sabem que as pessoas não se podem aglomerar e precisam de usar uma máscara quando vão ao poço de água, ou quando visitam os vizinhos. Devido à COVID-19, os residentes fazem esforços para não saírem do bairro. Se saírem, devem apresentar-se no posto médico/hospital no regresso, e depois passar 14 dias em quarentena domiciliar longe dos outros".
A contribuição da OIM no combate à COVID-19 em Moçambique inclui também o rastreio dos impactos da restrição da mobilidade, mapeamento dos pontos fronteiriços, comunicação dos riscos e envolvimento da comunidade, e prevenção e controlo das infecções em bairros de reassentamento e realocação para pessoas deslocadas. Outros esforços incluem o apoio a pontos de rastreio de entrada para camionistas transfronteiriços, a aquisição de equipamento de protecção pessoal para pontos de entrada e instalações de saúde, e apoio a doentes com HIV/TB em bairros de reassentamento para acesso a cuidados e prevenção.
A OIM DTM na região centro de Moçambique é financiada pela Protecção Civil e Operações de Ajuda Humanitária Europeias (ECHO), Gabinete de Assistência Humanitária da USAID, e pelo Departamento para o Desenvolvimento Internacional, do Reino Unido (DFID).