Estrela Ayuba participa dos projetos de geração de renda do PNUD em Moçambique, no âmbito do programa Mecanismo de Recuperação.
Quando o ciclone Idai chegou na cidade da Beira, Moçambique, no dia 14 de março de 2019, Estrela Ayuba, 24 anos, e sua família pouco percebiam a situação. Despreparados para a intensidade da tempestade, tiveram de abandonar sua residência na encosta da praia para se abrigar seguramente. A casa não aguentou e foi completamente destruída naquela noite.
Meses se passaram até que eles pudessem se reestabelecer emocionalmente e recuperar alguns de seus pertences. A falta de emprego dificultou ainda mais a adaptação de Estrela a uma vida em abrigos temporários e longe de sua comunidade de origem.
Sua perspectiva de uma vida com mais qualidade aumentou quando decidiram deslocar-se para um dos assentamentos oficiais do governo estabelecidos para as vítimas do ciclone. Já estabelecida no assentamento de Mutua com a família, Estrela encontrou uma vasta terra para iniciar o plantio de horta e construir uma casa. A incerteza já não tanto a fome e a moradia, mas sua recuperação financeira.
A mentalidade começou a mudar quando passou a ser assistida pelo programa do PNUD “Mecanismo de Recuperação”, no qual um dos pilares é a recuperação dos meios de susbsistência das comunidades afetadas pelo ciclones Idai e Kenneth.
“Antes não havia um lugar para retomar minha vida. Agora quero continuar aqui, por me sentir segura e capaz”, relata Estrela.
Um dos objetivos dos projetos de meios de vida do PNUD é também evidenciar a resiliência humana e o engajamento comunitário possíveis de serem resgatados em meio às populações afetadas. Ações e soluções centradas nas pessoas e lideradas pelas suas comunidades são, portanto, componentes norteadores durante esse processo.
Apenas no Ciclone Idai, cerca de 950 mil pessoas foram diretamente afetadas, das quais 53% são mulheres (PDNA 2019). Baseado nisso, mulheres passaram a compor os grupos de pessoas mais vulneráveis em face ao desastre e os projetos de recuperação voltaram-se também para contemplá-las.
Legenda: Mulheres do grupo de produção de fogões melhorados reúnem a comunidade para falar de seu negócio.
Estrela e outras 19 mulheres em Mutua formam agora um dos grupos de trabalho para Promoção do Empoderamento Econômico das Mulheres. Dentro da iniciativa, elas recebem mentoria e treinamentos sobre cooperativismo, microfinanças, administração de negócios e gestão de conflitos, o que as permite aumentar sua renda e crescimento dos negócios coletivos.
Diversas atividades foram apresentadas às mulheres para que imediatamente pudessem retomar suas atividades econômicas. A que chamou-lhes a atenção foi a produção de fogões melhorados a partir do barro e da queima de peças cerâmicas.
A produção dos fogões começou devagar, ainda como um processo de aprendizagem. O forno de tijolos e uma casa-depósito foram erguidas pela comunidade, com apoio do PNUD e dos parceiros de implementação ADEL-Sofala e Young Africa, para que as primeiras peças pudessem ser estocadas e vendidas.
“Também estamos nos preparando para produzir tijolos e os venderemos a um preço acessível, para que as pessoas possam construir melhores casas na comunidade”, conta Estrela, animada sobre os próximos planos. Para o aumento dos investimentos com segurança, o grupo também participa dos grupos de poupança e empréstimos estebelecidos pelo Mecanismo de Recuperação.
Mais de 103.000 famílias vítimas dos ciclones já foram apoiadas pelo PNUD em Moçambique com projetos similares de geração de renda, dentro do Mecanismo de Recuperação, programa de cinco anos, em parceria com o governo de Moçambique e apoiada por multi-doadores como União Europeia, China, Canadá, Finlândia, India, Holanda e Noruega. As ações de recuperação de meios de vida incluem o fornecimento de kits de iniciação de pequenos negócios, estabelecimento de grupos de poupança e micro-crédito, e programas de cash-for-money e food-for-assets.
Em seis meses, Estrela e seu grupo venderam 3.000 peças e aumentaram consistentemente sua renda, o que totalizou MTZ$ 15.000 a cada participante. À medida que suas habilidades e conhecimentos práticos estão evoluindo desde o início do projeto, elas agora são capazes de produzir 600 fogões por semana, com maior valor agregado ao preço de venda e já estão construindo o segundo depósito de peças.
Com toda a experiência adquirida, Estrela também passou a ser vista como líder para o grupo. Como atual Presidente do negócio de fogões, ela sabe que o trabalho em equipe e o envolvimento da comunidade são muito importantes para uma vida mais resiliente. “Sinto-me bem por estar no projeto, e agora precisamos de mais oportunidades para trabalhar com nosso negócio. Queremos melhorar nossa comunidade”, diz Estrela, muito determinada.
Legenda: Estrela com os filhos e as mulheres da produção de fogões.