NAMPULA, Moçambique - Yara *, 18 anos, ia a caminho do mercado numa manhã quando três homens a interceptaram, roubaram e violaram. Yara contou o que tinha acontecido à sua mãe e a uma amiga, que imediatamente a levou ao Centro de Assistência Integrada (CAI) de Nampula. Após receber tratamento médico, Yara conseguiu denunciar os seus agressores à polícia e obter apoio psicossocial num único local.
"Garantimos que cada paciente receba tratamento e possa voltar à sua vida normal", disse Berta Caminete, técnica de medicina geral e ponto focal de violência baseada no género neste CAI, apoiado pela Iniciativa Spotlight.
CAIs como o de Nampula fornecem cuidados vitais para mulheres e raprigas que sofrem violência, permitindo que elas obtenham ajuda sem precisar de contar sua história várias vezes ou visitar diferentes locais. Infelizmente, espera-se que a procura pelos serviços de resposta à violência cresça exponencialmente nas próximas semanas e meses, à medida que a pandemia do COVID-19 coloca ainda mais mulheres em risco de violência.
Garantimos que cada paciente receba tratamento e possa voltar à sua vida normal.
Berta Caminete, técnica de medicina geral.
Violência baseada no género e Covid-19
Estima-se que um terço da população do planeta esteja actualmente em isolamento total ou parcial, já que os governos impõem medidas para conter a propagação do COVID-19. Em Moçambique, o estado de emergência já foi declarado. É esperado que a incerteza, aliada à pressão económica e os níveis elevados de stress, leve a um aumento na violência baseada no género, assim como ocorreu noutras partes do mundo.
Para garantir que os centros de atendimento e as suas equipas estejam preparados, a Iniciativa Spotlight está a apoiar os parceiros do governo no fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPI), produtos de higiene e materiais informativos sobre a prevenção do COVID-19, além de alertar os parceiros do governo e da sociedade civil para o esperado aumento nos casos de violência.
Somos a base e [fornecemos um] mecanismo integrado para acabar com a violência.
Latoya Abubacar, ponto focal da justiça
Fornecendo serviços às mulheres e raparigas, quando mais precisam
À medida que as medidas de distanciamento social aumentam, muitos sobreviventes podem ter dificuldades para chegar aos centros de atendimento, quando mais precisam destes. Para garantir que isso não aconteça, a Iniciativa está a trabalhar para ampliar as linhas de apoio telefónicas existentes, e a equipar equipas nos sectores da saúde, polícia, justiça e protecção social, para continuar a ajudar mulheres e raparigas.
O sector da polícia irá receber apoio com EPIs, transporte e celulares para melhorar a sua capacidade de responder a casos de violência nas comunidades. As equipas de saúde e protecção social irão receber celulares para garantir que permaneçam conectados, possam acompanhar casos e contiuar a fornecer psicossocial à distância. Para garantir que as mulheres possam continuar a ter acesso à justiça, os tribunais móveis estão a ser apoiados com laptops, modems, crédito, combustível e EPIs, para poderem continuar o seu trabalho.
Os serviços de apoio a mulheres e raparigas vítimas de violência não podem parar em tempos de crise. De facto, esse trabalho torna-se ainda mais crítico.
"Somos a base e [fornecemos um] mecanismo integrado para acabar com a violência", diz Latoya Abubacar, ponto focal de justiça no CAI de Nampula.
Desde que foi inaugurado em 2019, este CAI já recebeu 44 mulheres e raparigas, incluindo a Yara. A Iniciativa apoia outros cinco CAIs em Moçambique.
A ampliação das operações e a garantia de que as equipas possam trabalhar com segurança é essencial para assegurar que os CAIs de Nampula, Gaza e Manica cobertos pela Iniciativa Spotlight estejam prontos a assistir as cerca de 40.000 mulheres e raparigas em Moçambique que irão procurar estes serviços ao longo do ano.
*o nome foi alterado