Deslocados por ciclones recebem atenção em ações para conter Covid-19 em Moçambique
02 junho 2020
OIM atua em áreas do centro e do norte abrigando mais de 100 mil pessoas; acesso a instalações de saúde continua sendo o maior desafio.
Maputo, Moçambique - A Organização Internacional para Migrações, OIM, chamou a atenção para o iminente risco de propagação da Covid-19 em áreas de Moçambique que acolhem mais de 100 mil deslocados pelos recentes ciclones Idai e Kenneth.
Esta terça-feira, as autoridades moçambicanas anunciaram que os casos notificados chegaram a 307, com duas mortes em nível nacional. Todas as províncias têm notificações.
Prevenção
A OIM apoiou a prevenção com a instalação de locais para lavagem de mãos e sensibilização em assentamentos do centro e norte. Mas os desafios continuam sendo o acesso a instalações de saúde, equipamentos de proteção individual, bem como a falta de espaços para isolamento.
Famílias no acampamento Samora Michel na Beira, em Moçambique, por OIM/Sandra Black
A especialista da agência em Moçambique, Laura Tomm-Bonde, disse que identificar casos de Covid-19 perto dos locais de reassentamento é um sério desafio para essas comunidades.
Os habitantes são particularmente frágeis por viverem “em abrigos temporários, onde o distanciamento social é difícil e eles têm recursos limitados para implementar medidas de prevenção recomendadas”.
A especialista acrescentou que o alvo da atuação com o Governo de Moçambique e de outros parceiros humanitários é melhorar a condição dos abrigos e serviços de saúde para proteger famílias e impedir a propagação da Covid-19.
Deslocados
Até esta segunda-feira, província de Cabo Delgado tinha cerca de 57% dos casos nacionais. A área do extremo norte foi a mais afetada pelo ciclone Kenneth e continua com milhares de famílias deslocadas mais de um ano após o desastre.
Moçambique declarou o nível de alerta 3 na sequência da pandemia. A medida inclui restrições a reuniões, à atividade comercial e o fecho de vários pontos de fronteira.
Nesses limites com outros países, a preocupação é maior por causa dos altos números de infectados nas nações vizinhas: mais de 32 mil casos na África do Sul, cerca de 500 na Tanzânia e acima de mil na Zâmbia.
A agência da ONU atua na sua máxima capacidade para atender às necessidades básicas de saúde, mas destaca que o país precisa de mais recursos para que as autoridades de saúde respondam à pandemia.
Proteção
Para o diretor médico do Departamento de Saúde Pública da província de Sofala, Assane Chamucha, é prioritário ter equipamentos de proteção individual para garantir que os profissionais de saúde cuidem dos pacientes sem medo.
Nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, a norte, cerca de 6,5 mil pessoas estão abrigadas em cinco locais de reassentamento criados após o ciclone Kenneth.
Avaliações feitas nesses locais indicam que é difícil ter acesso a um centro de saúde ou espaço de isolamento, mesmo após a instalação de estações de lavagem das mãos, oferta de informações e educação dos moradores. Apenas um desses locais tem acesso a material de proteção individual, como máscaras faciais.
Em cerca de 90% dos 72 locais de reassentamento das áreas centrais de Sofala, Manica, Zambézia e Tete, houve medidas para prevenção e partilha de informações com o apoio das autoridades. Nesses locais vivem mais de 95 mil pessoas.