"ONU ajuda a garantir equilíbrio entre países grandes e pequenos"
Afirma Sua Excelência o Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, durante entrevista à ONU News; Presidente acredita em papel multilateral das Nações Unidas.
NOVA IORQUE, EUA - Moçambique traz uma mensagem de renovação às Nações Unidas, neste momento em que a organização completa 80 anos. Já o país africano celebra o 50º aniversário desde sua independência de Portugal.
O país está sendo representado no Debate Geral das Nações Unidas pelo seu novo presidente, Daniel Chapo. Nesta primeira entrevista à ONU News, desde que assumiu o posto, ele disse que a ONU segue sendo indispensável para um mundo mais próspero e justo para todos.
Semente para a juventude
“E não tem como desenvolver sem ter paz e segurança e não estar dentro deste grande órgão que toma grandes decisões sobre estes aspectos a nível do mundo. Portanto, esta é a grande mensagem que queria deixar para a juventude. Pensarmos numa ONU no futuro. O engenheiro António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, já lançou uma semente. Cabe a nós regá-la, acarinhá-la para crescer e termos, portanto, uma ONU do futuro”.
Chapo chega à ONU, após uma onda de violência em seu próprio país depois das eleições presidenciais. Houve protestos de rua e até mortes. O novo chefe de Estado também herdou uma situação de conflito na província de Cabo Delgado, uma área rica em recursos naturais, no norte de Moçambique, que está sendo alvo de extremistas islâmicos e grupos armados não-estatais desde 2017.
Terrorismo em Cabo Delgado
“Realmente em Cabo Delgado, norte da província de Cabo Delgado, principalmente, temos descoberta de recursos naturais, principalmente o gás. Temos três empresas, mas quatro projetos. Com a Eni que é italiana, tempos dois projetos Coral Sul e Coral Norte. Os dois estão orçados em cerca de US$ 14 bilhões. Tempos um projeto com a Total que é francesa, cerca de US$ 15 bilhões. E um outro projeto liderado pela americana Exxon de cerca de US$ 20 bilhões. Portanto os três projetos fazem cerca de US$ 150 bilhões, mas infelizmente, desde 2017 que estamos a ter ataques terroristas”.
O presidente disse que o apoio de forças africanas regionais com alguns países têm ajudado a controlar a situação, mas “ataques esporádicos” ainda ocorrem.
Numa outra frente política, ele lançou um diálogo nacional para promover reconciliação e mais entendimentos em todos os estratos da sociedade moçambicana.
Desastres naturais
Em 2019, Moçambique foi atingido por dois ciclones em um mês: Idai e Kenneth. A partir daí, o país tem sofrido com desastres naturais, que assolam regiões inteiras deixando milhares de desabrigados. Este é um tema que o presidente está levando a cabo com o governo para que a esfera de alertas precoces se alastre por todo o território nacional.
Ao falar da mensagem que deve levar para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP30, Daniel Chapo, defendeu que os países que poluem mais precisam contribuir mais para a ação climática. E para ele, a ONU é o fórum ideal para esse diálogo.
Justiça global
“Quando realmente não há este fórum de comunicação multilateral e passamos para apenas comunicações bilaterais, o que acontece é que depois há aquele jogo dos mais fortes e os mais fracos. Em função disso, há realmente reuniões em que se tomam grandes decisões, mas depois não se cumprem. Mas quando organizações multilaterais desta dimensão, achamos que é muito importante depois dar seguimento e passarmos não só da palavra para a ação. O financiamento climático está a acontecer. Nós, há duas semanas, com Moçambique aprovamos uma estratégia de financiamento climático, a nível do Conselho de Ministros, mas temos que sair da palavra para ação e sobretudo fazermos a justiça global nesse aspecto associado com a mudança climática e as suas consequências”.
Um dos temas da 80ª. Sessão da Assembleia Geral este ano é o Primeiro Diálogo Global sobre Governança da Inteligência Artificial. Para o secretário-geral da ONU, é preciso assegurar que os seres humanos estejam no centro das políticas sobre inteligência artificial para que a nova tecnologia seja usada para o bem.
Redes sociais
Chapo que investe nas redes sociais como uma das vertentes de comunicação e informação do seu próprio governo diz que é preciso ser consequente com o trato da informação tanto para quem divulga como para quem recebe.
“Como se sabe, as redes sociais, elas trazem tudo incluindo os famosos fake news, mas também a questão relacionada com manipulações em termos de informação e conteúdo. E com a inteligência artificial, a situação piorou de vez, em todo o planeta Terra. Daí que acho que é extremamente importante a manutenção de órgãos tradicionais como este caso da ONU News. Quando nós estamos em órgãos como esse, as pessoas sabem muito que bem que esta notícia, esta informação, esta entrevista é real e é verdadeira”.
Daniel Chapo chega ao poder como um dos estadistas mais jovens do continente africano e representando uma faixa eleitoral que exige mudanças. Para ele, esse também deve ser o rumo a tomar quando se trata da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Cplp.
Cplp
O bloco, que faz 30 anos em 2026, deve ser mais comercial para gerar riqueza e influência política para seus cidadãos. E isso passa por mobilidade para que qualquer lusófono possa trabalhar e viver livremente dentro desse espaço geográfico, que inclui os quatro cantos do globo.
Daniel Chapo foi claro: a Cplp tem que investir mais em negócios ao mesmo tempo que faz concertação diplomática e promove a língua em comum.
Moçambique é o terceiro país de língua portuguesa a discursar na ONU no primeiro dia do Debate Geral.
O presidente Daniel Chapo será seguido pelos chefes de Estado e Governo de Angola, Guiné-Bissau, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe.