MAPUTO, Moçambique - “Os jovens sabem usar a tecnologia melhor do que ninguém – e isso os torna essenciais no combate aos crimes digitais”, afirmou o Ministro da Comunicação e Transformação Digital de Moçambique, Américo Muchanga, na abertura do 3º Seminário sobre Cibercrime no país, promovido esta semana pela Procuradoria-Geral da República e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).
Realizado anualmente desde 2023, o evento deste ano marcou, também, o início de uma nova iniciativa do UNODC para o envolvimento académico de estudantes universitários em Moçambique.
Durante dois dias, os estudantes participaram em apresentações e debates sobre os desafios mais prementes do crime digital: desde o uso criminoso da inteligência artificial – como deepfakes e clonagem de voz – até aos esquemas de burla online complexos, incluindo fraudes relacionadas com as criptomoedas e o chamado “pig butchering”. Tiveram ainda contacto com abordagens de investigação cibernética e com ferramentas de literacia digital, essenciais para a prevenção destes crimes.
O seminário também coincidiu com uma realidade preocupante: o aumento dos crimes digitais em Moçambique. “O seminário veio num momento em que há uma onda de crimes digitais no país”, explica Silvana Silva, estudante do curso de Administração de Sistemas de Informação e Redes.
As reações não se fizeram esperar. Para Érica Princesa, estudante de Direito, a experiência despertou ideias. “Acredito que poderíamos desenvolver artigos científicos com soluções aplicáveis aos temas abordados”. Bitone Viage, finalista de Direito, afirmou que “aguardava há meses um evento desta natureza para fechar o meu artigo científico”.
Os estudantes participantes vieram de várias áreas, desde a Engenharia Eletrónica e Administração de Sistemas de Informação até às Ciências Jurídicas.
“Esta diversidade é exatamente o que procurávamos. O combate eficaz ao cibercrime requer a combinação de diferentes perspetivas e competências”, destaca Mari-Line Billaudaz, Coordenadora do Programa do UNODC sobre cibercrime em África.
Estudantes de Direito destacaram lacunas legais na punição de certos cibercrimes e referiram que o debate os ajudou a definir possíveis temas para os seus trabalhos de fim de curso.
Já os estudantes de áreas tecnológicas se mostraram especialmente interessados na articulação entre privacidade, monitoramento de redes e combate ao crime organizado, e acreditam que a academia pode contribuir com soluções práticas e científicas.
A Coordenadora do Programa do UNODC sobre cibercrime em África, elogiou o entusiasmo dos participantes. “Os estudantes demonstraram elevado grau de participação durante o seminário, levantando questões muito pertinentes durante os debates”.
“Acredito que vale a pena repetir a experiência, que foi muito bem recebida pelos Senhores Procuradores”, continuou.
“Aprendi como identificar vídeos manipulados pela IA e proteger os meus dados”, diz Iva Muchanga, estudante de Direito, destacando que o seminário, para além de conceitos teóricos, proporcionou também uma oportunidade para adquirir ferramentas úteis para se protegerem no dia-a-dia.
A nova iniciativa do UNODC de aproximação à comunidade estudantil é um passo estratégico para envolver as futuras gerações de profissionais nas áreas da prevenção do crime e da justiça criminal.
Até à data, encontram-se inscritos mais de 220 estudantes, habilitados a participar em eventos desta natureza sobre os mais variados temas, desde a corrupção e o uso de drogas à violência baseada no género e crimes contra o meio ambiente.
“Queremos, essencialmente, ser desafiados, que as nossas ideias consolidadas sejam confrontadas e enriquecidas pelas novas perspectivas daqueles que dominam estas tecnologias”, explica Antonio de Vivo, Chefe do Escritório do UNODC.
“A energia e o espírito crítica dos jovens que testemunhamos neste seminário são a prova de que a luta contra o crime, a droga e a corrupção precisa das vozes dos jovens”, rematou De Vivo.
O UNODC agradece aos Estados Unidos da América pelo seu apoio financeiro a esta iniciativa.
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