Ressurgindo da tempestade: moçambicanos reconstroem suas vidas após o ciclone Idai
28 novembro 2024
O projeto "Recuperação de Moradias" envolve a comunidade na construção de moradias resilientes após o ciclone Idai, com o apoio da OIM e ONU-Habitat.
BEIRA, Moçambique - Quando o ciclone Idai atingiu a costa em 2019, ele varreu o centro de Moçambique com força, destruindo casas, meios de subsistência e desalojando muitos. A intensidade do ciclone Idai tem sido associada às mudanças climáticas, com temperaturas oceânicas mais altas alimentando tempestades mais poderosas em todo o mundo. O Idai não só trouxe devastação, mas também conectou inesperadamente as vidas de Luiza e Maria.
Luiza, uma mãe solteira de três filhos, perdeu sua casa quando os ventos do Idai devastaram sua comunidade.
"Eu estava em casa com meus filhos quando o vento começou", ela lembra.
"Eu os agarrei e corremos para os vizinhos. Quando saímos, a casa desabou atrás de nós. Não conseguimos salvar nada — nem pratos, nem roupas — tudo se foi".
Maria, enquanto isso, estava grávida de sua filha Gabriela quando o ciclone atingiu. “Eu nunca tinha visto ventos assim. A água estava na minha barriga — ficamos aterrorizadas”, diz ela.
Embora sua casa tenha sido danificada, a família de Maria conseguiu consertá-la. Luiza e seus filhos, no entanto, não tinham para onde ir. Eles se refugiaram na casa modesta, mas acolhedora, de um vizinho, um espaço que se tornou seu abrigo pelos próximos cinco anos.
“Eles nos acolheram quando não tínhamos nada", diz Luiza com gratidão. "Sobrevivemos por causa da gentileza deles".
Maria trabalhava como empregada doméstica. Mas ela se viu atraída por esforços de reconstrução, entrando no campo da construção dominado por homens.
Hoje, ela mistura cimento, mede areia e sobe em andaimes ao lado de outros trabalhadores. “Eu digo que é um milagre”, ela reflete sobre sua transição das tarefas domésticas para os canteiros de obras.
Sua família duvidou dela no início; até mesmo sua mãe questionou se ela conseguiria lidar com o que era visto como “trabalho de homens”. Mas Maria estava determinada, respondendo: "Não é só trabalho de homens — mulheres também podem fazer".
Para Luiza, a vida depois do ciclone tem sido uma batalha difícil. Ela lava roupas para viver, juntando uma renda modesta enquanto reconstrói sua estabilidade.
Mas uma reviravolta recente do destino mudou sua perspectiva: ela foi selecionada para receber uma nova casa — uma casa central e resistente a desastres, construída por ninguém menos que Maria e uma equipe de artesãos locais.
O caminho de Maria para a construção foi auxiliado pelo treinamento no trabalho facilitado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM). Tendo aprendido o básico com seu pai, ela se adaptou rapidamente, dominando suas habilidades por meio da experiência prática.
"Quando cheguei aqui, pedi apenas uma pequena orientação e logo pude trabalhar sozinha", diz ela.
Sua parte favorita? "Colocar o cimento, medir a areia, distribuir pregos — isso me faz sentir viva".
A cada casa que conclui, Maria sente orgulho e propósito, sabendo que seu trabalho ajuda as famílias a reconstruir suas vidas. “Sinto-me feliz porque as pessoas agora têm alguma certeza. Elas sofreram muito”, diz ela. Ver essas casas se erguerem do chão a enche de realização.
“Começamos do zero e agora há uma casa completa na minha frente. Terminamos”, continua Maria.
Quando Luiza recebe as chaves de sua nova casa, seu rosto se ilumina. “Agora temos nosso próprio lugar”, ela afirma com um sorriso.
E todas as noites, quando Maria volta do trabalho, sua filha Gabriela a cumprimenta vestindo o uniforme da mãe e dizendo: “Mãe, eu também quero trabalhar na construção civil”.
O Governo de Moçambique, por meio do financiamento do GREPOC e do Banco Mundial, encarregou a OIM de implementar o projeto "Recuperação de Moradias", que visa ajudar 6.682 famílias vulneráveis na cidade de Beira, província de Sofala.
Em coordenação com a ONU-Habitat e o Município de Beira, esta iniciativa ajuda as comunidades afetadas pelo Ciclone Idai e ciclones e inundações subsequentes desde 2019 a reconstruir suas casas usando materiais mais fortes e duráveis.
Os artesãos locais são treinados em técnicas de construção resilientes, garantindo que as casas estejam mais bem preparadas para futuros choques climáticos.
O projeto enfatiza o envolvimento da comunidade ao fornecer materiais essenciais e suporte técnico, ao mesmo tempo em que constrói capacidade local para recuperação de longo prazo.
Ao reforçar casas e capacitar artesãos, a iniciativa promove a recuperação sustentável e fortalece a resiliência das comunidades mais vulneráveis de Beira.