Alimentação Escolar: Nutrindo Futuros em Tete

TETE, Moçambique - "Eu nunca pensei que viveria numa casa melhor", diz Otília, uma pequena agricultora no distrito de Changara, Província de Tete, Moçambique. "Mas agora, vivo", acrescenta com um sorriso. 

Otília é uma das muitas agricultoras locais que fornecem produtos frescos para as escolas no âmbito do programa de alimentação escolar “Combate ao Absentismo e Redução de Barreiras à Educação” (CARBE), financiado pelo Canadá.

Implementado pelo Programa Mundial para a Alimentação (PMA) das Nações Unidas, o programa oferece refeições diárias e nutritivas a mais de 51 mil crianças do ensino primário e funcionários em 104 escolas em cinco distritos da Província de Tete com insegurança alimentar, nomeadamente: Cahora Bassa, Changara, Doa, Marara e Mutarara. 

O programa conecta as escolas às associações de agricultores locais para a aquisição de produtos frescos, promovendo o mercado local e gerando renda estável para pequenos agricultores como Otília.

Francisco, líder de uma associação de agricultores desde 1997, começou a vender produtos frescos para as escolas em 2017. 

"Eu vendo tomates, couve e batata-doce de polpa alaranjada para seis escolas", explica. "Esta tem sido uma grande oportunidade para nós", comenta Francisco.

 Através da associação, os agricultores participam em concursos e celebram contractos com as escolas para o trimestre escolar.

"A importância é clara, nós trazemos os nossos produtos para as escolas, registamos o que entregamos e distribuímos os rendimentos entre os nossos membros", destaca Américo, outro agricultor.

As associações permitem que os agricultores se unam para fornecer produtos frescos às escolas, utilizando as suas produções individuais de forma complementar. Esta abordagem sistemática não só garante transparência, mas também incentiva a responsabilidade entre os agricultores.

Em 2023, o CARBE facilitou a compra de mais de 900 toneladas métricas de produtos frescos, resultando em um apoio financeiro substancial para os agricultores das comunidades.

As compras locais promovem cadeias de abastecimento curtas, o consumo de alimentos frescos nas escolas, e ainda contribuem para a economia local.

O sucesso do programa de alimentação escolar vai além dos ganhos financeiros: inclui a capacitação dos pequenos agricultores através de suas associações em agricultura de conservação, técnicas de redução de perdas pós-colheita, produção de biopesticidas e compostagem.

Em 2023, o PMA formou várias dezenas de representantes de associações de agricultores em Tete, melhorando as suas habilidades e aumentando a sua capacidade de produção. 

Essas formações têm sido transformadoras para os agricultores que anteriormente praticavam agricultura de subsistência.

"Antes, armazenávamos nossos grãos em silos tradicionais, o que levava a grandes perdas", lembra Pedro, um dos agricultores membro do programa. "Agora, temos melhores métodos de armazenamento e vendemos para as escolas, garantindo uma renda estável".

No total, o programa conta com nove associações de agricultores que fornecem produtos frescos às escolas abrangidas. Ao todo, são 335 agricultores participando do programa, dos quais 147 são mulheres.

Além de fornecer capacitação, o PMA também auxilia na formalização jurídica das associações de agricultores e na melhoria do acesso ao mercado através da plataforma móvel Farm2go. 

A plataforma Farm2go liga os pequenos agricultores a um mercado digital, aumentando as suas oportunidades de garantir melhores preços para os seus produtos.

"Entrar para a associação tem sido muito útil”, diz Inácio, membro de uma das associações de agricultores. “Recebemos vários tipos de formação e podemos adquirir equipamentos juntos, o que seria difícil individualmente, Fazer parte desse grupo tem as suas vantagens". 

“Nossas vidas mudaram, alguns membros têm casas melhores agora, e outros podem mandar os filhos para a escola; as vendas têm um impacto significativo nas nossas vidas", acrescenta Inácio com grande satisfação.

Os programas de alimentação escolar “são uma manifestação clara do compromisso do país para com a nutrição e a educação e ancorados num modelo de desenvolvimento local”, afirma Antonella D'Aprile, Directora Nacional e Representante do PMA em Moçambique.

“A alimentação escolar não é apenas sobre nutrição física, é um investimento no desenvolvimento cognitivo e educacional das nossas crianças e no desenvolvimento do futuro capital humano do país - Quando bem-nutridas, as mentes podem se concentrar e prosperar”, continua Antonella D'Aprile.

"Na nossa comunidade, as coisas estão melhores; muitas crianças vão à escola regularmente devido à alimentação escolar", diz Pedro.

Esse sentimento é compartilhado por outros agricultores que vêm a correlação direta entre a frequência escolar e a provisão de refeições nutritivas.

"Precisamos que este programa continue e precisamos de mais escolas para acompanhar o nosso aumento de produção”, exorta Américo, um dos agricultores participantes do programa. Sentimento compartilhado por Otília. Para ela, o "programa deve continuar e não parar".

O CARBE é implementado desde 2020, em paralelo ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PRONAE), liderado pelo Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, que fornece refeições diárias a mais de 240 mil alunos em 340 escolas em todo Moçambique.