MAPUTO, Moçambique – Ana Sitoe* e Isabel Cossa*, de nove anos, alunas da Escola Primária Guava em Marracuene, Maputo, receberam a sua primeira vacina contra o papilomavírus humano (HPV) graças a uma campanha de imunização dirigida às raparigas.
“Eu tinha medo da agulha, mas sabia que a vacina fazia bem para proteger a nossa saúde contra essa doença, para podermos brincar, estudar, crescer e realizar nossos sonhos no futuro”, diz Ana.
A taxa de mortalidade prematura por cancro em Moçambique é de 10,4%, ocupando a oitava posição entre mais de 184 países, de acordo com os dados mais recentes disponíveis da Organização Mundial de Saúde (OMS). Mais de 60% dos casos ocorrem entre mulheres e mais de um terço estavam relacionados com o cancro do colo do útero (34,6%), seguido do cancro da mama (12,8%).
Em 2018, a OMS emitiu um apelo à acção para a eliminação global do cancro do colo do útero até 2030. Na sequência deste apelo, no mesmo ano, Moçambique desenvolveu a sua estratégia de vacinação contra o HPV para raparigas dos nove aos 14 anos. Devido às perturbações da pandemia de COVID-19, a vacinação só começou três anos depois de 2021. Desde o início, a vacinação contra o HPV foi integrada no calendário de imunização de rotina.
Para recuperar o tempo perdido, Moçambique fez grandes esforços para alcançar o maior número possível de raparigas e alcançar uma elevada cobertura vacinal. O programa alargado de imunização do país realizou uma campanha de recuperação em Abril de 2022, quando as escolas abriram, para vacinar raparigas elegíveis nascidas em 2012 que ainda não tinham recebido a primeira dose da vacina contra o HPV.
O programa de vacinação escolar, no qual as raparigas recebem duas doses num intervalo de seis meses, é complementado por outras estratégias para alcançar as raparigas difíceis de alcançar, incluindo a utilização de uma abordagem porta-a-porta, sensibilização móvel e vacinação em locais fixos. instalações. Vanessa e Cristina foram vacinadas no primeiro trimestre do ano e, assim como suas colegas, receberão a segunda dose no terceiro trimestre.
O país fez bons progressos num curto período de tempo. Segundo dados administrativos do Ministério da Saúde, a cobertura da primeira dose é superior a 80% e da segunda dose, 40%.
Aissa Cutane, técnica de saúde pública do Centro de Saúde Habel Jafar, em Marracuene, confirma que a estratégia de vacinação nas escolas tem sido muito eficaz. “É mais fácil comunicar os benefícios às raparigas, às suas famílias, à comunidade local e aos profissionais de saúde locais quando se leva o serviço ao grupo-alvo”, diz ela.
Após o consentimento dos pais, os profissionais de saúde também entregam mensagens de sensibilização às crianças antes de procederem à vacinação. Fernando Chacatane, professor de Vanessa e Cristina, considera muito vantajosa a articulação entre unidades de saúde e escolas.
“Em vez de as crianças e os pais perderem muito tempo a ir às unidades de saúde e ficarem em longas filas, as vacinas são entregues de forma rápida e eficaz”, afirma Fernando.
“Embora o início da vacinação contra o HPV tenha sofrido atrasos, os resultados alcançados nos últimos dois anos demonstram vontade política e compromisso com as metas globais de eliminação”, afirma o Dr. Severin Ritter Von Xylander, Representante da OMS em Moçambique. “A OMS apoiará o país na aceleração das suas ações para que possamos erradicar o flagelo do cancro do colo do útero entre as mulheres.”
Tanto Vanessa como Cristina foram aconselhadas a aumentar a consciencialização sobre a importância de se vacinarem contra o HPV e estão agora a encorajar outras raparigas não vacinadas a fazerem o mesmo.
“Não devemos ter medo da picada da agulha. A vacina é boa e previne o HPV, por isso preferimos crescer bem e saudáveis”, afirma Isabel.
*Nomes alterados.