“A ONU está no terreno para ouvir e apoiar as pessoas”
Afirmou a Dra. Catherine Sozi, Coordenadora da ONU e Coordenadora Humanitária para Moçambique, durante a sua primeira visita à Província da Zambézia.
MAPUTO, Moçambique - Em sua primeira missão oficial pela Provincia da Zambézia, Dra. Catherine Sozi, Coordenadora da ONU e Coordenadora Humanitária para Moçambique, testemunhou em primeira mão intervenções de desenvolvimento e ações humanitárias complementares das Nações Unidas em apoio às pessoas que mais precisam e às iniciativas do Governo de Moçambique.
Durante a visita no início do mês de setembro, a Chefe da ONU Moçambique reuniu-se com parceiros humanitários, autoridades locais e representantes das instituições locais mais ativas na província.
A Zambézia foi a província mais afetada pelo ciclone tropical Freddy no início do ano. O ciclone atingiu a cidade de Quelimane, entre os dias 11 e 12 de Março, registrando ventos de 160-170 km/h – foi o segundo e mais severo impacto do mesmo ciclone em território moçambicano.
Com chuvas intensas, inundações generalizadas e diversos rios em alerta nos dias que se seguiram, ao todo, o ciclone impactou a vida de mais de 1 milhão e 200 mil pessoas no País, destruindo casas, infraestruturas essenciais, alagando machambas e acabando com o meio de vida de comunidades inteiras.
Neste contexto, a ação coordenada do Governo de Moçambique apoiada pelas entidades da ONU presentes no terreno e outros parceiros humanitários foi essencial para salvar vidas após o ciclone e ajudar com que as pessoas afetadas tivessem apoio para reconstruírem suas vidas.
Dra. Sozi ouviu de representantes do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) local sobre trabalho realizado pela plataforma de coordenação do governo e parceiros do setor humanitário e de desenvolvimento, estabelecida para compartilhar informações e identificar necessidades durante a emergência.
“Temos que reconhecer que os esforços de Moçambique na preparação e resposta aos extremos climáticos oferecem uma lição valiosa para todo o continente africano”, destacou a Chefe da ONU Moçambique.
Dra. Sozi visitou um armazém destruído do INGD onde viu o impacto da devastação causada pelo ciclone Freddy.
“Tendo em vista que seremos cada vez mais afetados pela crise climática, as ações antecipadas são vitais para a sobrevivência das pessoas mais vulneráveis e para não perdermos os ganhos de desenvolvimento já conquistados por Moçambique”, diz a Chefe da ONU Moçambique.
“A ações antecipadas devem ser financiadas de forma adequada e continua” - Dra. Catherine Sozi, Chefe da ONU Moçambique.
Com parceiros locais da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha, Dra Sozi pode perceber os principais desafios das ONGs locais operantes no terreno e colher lições valiosas sobre a coordenação de emergências.
As pessoas e os ciclones no terreno
Em uma visita ao distrito de Nicoadala a cerca de uma hora da capital Quelimane, a Chefe da ONU Moçambique encontrou-se com autoridades locais bem como com as populações afetadas por ciclones que atingem o país de forma cíclica ano após ano.
Em uma comunidade reassentada Namitangurini no ano passado devido ao ciclone Gombe, e novamente afetada pelo Freddy este ano, Dra Sozi pode observar as necessidades dos grupos mais vulneráveis.
Ela interagiu com um grupo de pessoas apoiado pela UNFPA, em uma iniciativa com o objetivo de garantir a continuidade e acessibilidade de serviços básicos de saúde e de resposta à violência baseada em gênero, com particular foco nas mulheres.
"Chegamos aqui em março do ano passado por causa do ciclone Gombe. Fomos bem acolhidos, recebemos informações de saúde, comida e tivemos apoio para plantar, mas veio o ciclone Freddy e levou tudo que iriamos colher", diz Rita Namahule que integra o grupo de teatro que faz a conscientização comunitária sobre a violência baseada em gênero.
"As mulheres estão entre as principais vítimas das mudanças climáticas, ao apoiarmos as mulheres em conquistar independência e equidade de género toda a sociedade ganha em termos sociais e económicos", diz Dra Sozi.
Também no contexto de apoio aos mais afetados pelo ciclone, a Chefe da ONU Moçambique visitou a Escola Primaria Eduardo Mondlane, onde o PMA apoia o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PRONAE) a entregar lanche quente a mais de quatro mil alunos diariamente
"Há três anos, essa escola tinha dois mil alunos, hoje já são mais de quatro mil; Essa escola consegue reter e atrair mais os alunos desde que começamos com o lanche escolar; Temos crianças na comunidade que tem na escola a única refeição do seu dia", explica Emiliano de Oliveira Augusto, diretor pedagógico da escola.
Soluções no campo
A visita incluiu uma ida à machamba coletiva do programa PROMOVE Agribiz, implementado pela FAO e outros parceiros.
O grupo de trinta agricultores, a maioria mulher, da Escola de Campo de Agricultores de Curungo e do Grupo de Nutrição para Mulheres em Liquar, demonstrou soluções sustentáveis de adaptação às mudanças climáticas para pequenos agricultores.
Algumas das soluções inlcuem o recebimento e interpretação de informações meteorológicas para melhorar o planeamento das plantações e a produção de pesticidas orgânicos para combater as pragas no campo.
O grupo também demonstrou como pequenas melhorias na dieta permitem potencializar os benefícios nutricionais de alimentos encontrados localmente.
“Antes do projeto comíamos mais xima e pão. Agora fazemos papas enriquecidas com amendoim, moringa e verduras para alimentar as crianças pequenas,” conta Inês Domingos Martins, presidente do grupo.
Inês e os outros membros do grupo de agricultores recebem um e-voucher para comprar insumos agrícolas de forma a contribuir para sua produtividade no campo e geração de renda familiar.
Soluções para as estruturas
Além das pessoas, suas casas e machambas, as infraestruturas também são afetadas pelas mudanças climáticas.
O Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (UN-Habitat) trabalha com o conceito de reconstrução melhorada e resiliente de salas de aula, uma metodologia que foi adotada pelo Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, e agora é replicada em todas as novas construções de escolas no país.
A Chefe da ONU observou no terreno a Escola Primária Josina Machel no distrito de Namacurra reconstruída com apoio do UN-Habitat e parceiros locais e o os danos causados pelo ciclone freddy ao Hospital de Quelimane, que será reabilitado com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Dra Sozi destacou a necessidade da mobilização de mais fundos para reconstruções resilientes. “Somente assim conseguiremos caminhar para frente e assegurar que nosso investimento em desenvolvimento não seja perdido a cada nova época ciclônica”, afirma.
Foco nas pessoas
Na cidade de Quelimane, em uma roda de diálogo com associações de direitos humanos com foco no empoderamento e empreendedorismo feminino, a Chefe da ONU teve contato direto com ativistas e mulheres das comunidades que estão na linha de frente da luta pela equidade de gênero em diversas áreas.
“Como mulher africana, me orgulha muito ver a força das mulheres moçambicanas em liderar a mudança. Estou aqui para ouvir das mulheres e raparigas o que tem feito e qual o apoio que necessitam para continuar vosso trabalho”, destaca Dra. Sozi ao conversar com as mulheres participantes das associações.
Considerando que raparigas e mulheres em situações econômicas vulneráveis enfrentam riscos mais altos de engravidar ou serem forçadas a casar, o apoio das entidades da ONU às intervenções de empoderamento econômico, incluindo o programa Rapariga Biz, tem contribuído para aumentar as oportunidades profissionais e de negócios para meninas e jovens mulheres como mentoras e mentoradas.
Isto melhora seus níveis de renda, acesso e controle de micro e pequenos empreendimentos a nível comunitário. O Rapariga Biz é uma iniciativa conjunta da UNICEF, ONU-Mulheres, UNFPA e UNESCO.
Participante do programa Rapariga Biz desde 2018 como mentora, Cristina Loforte Gabriel de 23 anos, é responsável por orientar trinta mulheres, com diálogos abertos sobre saúde sexual e reprodutiva, violência baseada em gênero, direitos entre outros.
“A mulher deve ter voz e liberdade, temos que ter informação para podermos decidir sobre nossos corpos, quando e se queremos ser mães”, diz Cristina que pretende continuar trabalhando na área do ativismo e gênero.
Como Cristina, mais 6 mil raparigas e mulheres entre 15 e 24 anos, tanto de áreas rurais quanto urbanas da Zambézia, foram capacitadas com informação e economicamente por meio de treinamento em educação financeira, participação em grupos de poupança, treinamento em gestão de negócios e fornecimento de kits para iniciar pequenos empreendimentos comerciais.
Como resultado do empoderamento econômico, as mulheres acabam por fortalecer seu poder na tomada de decisões sobre seus próprios corpos e destinos.
“Conheci o Rapariga Biz e logo entrei no grupo de poupança, recebi uma máquina de pipoca e treinamento para abrir meu negócio”, conta Regina Junior Evaristo da Silva, de 21 anos, mãe do bebé Dickson de 6 meses. “Hoje eu sustento a casa com esse pequeno negócio e com o que aprendi”.
"Quando uma mulher tem trabalho e informação, seus filhos crescem saudáveis e toda a comunidade ao redor dela se desenvolve junto," afirma Dra. Sozi.
Em todos os encontros realizados, a Chefe da ONU destacou a necessidade dos parceiros de desenvolvimento em escutar as populações em condições mais vulneráveis para a implementação de programas efetivos e sustentáveis. Ela ainda reforçou que a ONU está presente para apoiar as instituições nacionais para um desenvolvimento sustentável e focado nas pessoas.