Discurso da Ministra de Negócios Estrangeiros de Cooperação de Moçambique na Comemoração do Mês da Anistia da União Africana
Discurso da Ministra de Negócios Estrangeiros de Cooperação de Moçambique, Verónica Macamo, na Comemoração do Mês da Anistia da União Africana.
MAPUTO, Moçambique
- Distintos colegas, Membros do Conselho de Ministros;
- Sua Excelência Secretário de Estado da Cidade de Maputo;
- Sua Excelência Presidente do Conselho Autárquico da Cidade de Maputo;
- Sua Excelência , Presidente do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, e Representante Permanente da República dos Camarões junto à União Africana;
- Suas Excelências Embaixadores dos Estados-Membros do Conselho de Paz e Segurança da União Africana;
- Distintos Membros do Corpo Diplomático Acreditado na República de Moçambique;
- Sua Excelência Enviado Pessoal do Secretário-Geral das Nações Unidas para Moçambique;
- Excelentíssimo Senhor Director do Centro Regional das Nações Unidas para a paz e Desarmamento em África;
- Ilustres convidados;
- Minhas Senhoras e meus Senhores;
É com elevada honra que a República de Moçambique acolhe a Cerimónia de Comemorações do Mês da Amnistia em África, referente ao ano 2023.
Em nome de Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique, saúdo os delegados e convidados que nos honram com a sua presença nesta cerimónia que se realiza sob o lema: ”Desarmamento, Oportunidade Chave para o Silenciar das Armas em África: Lições da República de Moçambique”.
Trata-se de um tema oportuno e relevante face à conjuntura actual do continente Africano e particularmente de Moçambique.
A vossa presença atesta o compromisso de todos, na multiplicação de iniciativas e acções visando acelerar a eliminação da proliferação de armas ilícitas no nosso continente.
A proliferação de armas ilícitas tem contribuído para a perpetuação de conflitos armados e da violência em África e não só.
Este fenómeno tem consequências humanitárias graves, condiciona o alcance das premissas consagradas na Iniciativa para o Silenciar das Armas em África até 2030.
Excelências, minhas senhoras e meus senhores,
A história recente de Moçambique tem sido marcada por momentos de conflitos armados, com destaque à guerra dos 16 anos e a tensão político-militar recentemente terminada.
Com a assinatura do Acordo Geral de Paz entre o Governo e a RENAMO em 1992, as Nações Unidas, através da sua Missão (ONUMOZ) iniciou ao processo de desmantelamento das armas ilícitas.
Este processo foi continuado com a participação da Sociedade Civil e das comunidades locais, através de iniciativas como “Transformar as Armas em Enxadas”, sob auspícios do Conselho Cristão de Moçambique.
No entanto, o Governo continua empenhado na recolha de todo o tipo de armas, que dada a sua indevida utilização podem constituir uma potencial ameaça à paz e segurança no País.
Neste sentido, continuamos a exortar os moçambicanos para a entrega voluntária de armas, para garantir que as nossas crianças possam crescer livremente num ambiente de paz e desprovido de potenciais causas de conflitos.
Gostaria de aproveitar este ensejo para saudar de forma especial o engajamento da sociedade civil, confissões religiosas e lideranças locais, assim como o envolvimento dos nossos parceiros neste processo de entrega voluntária de armas.
Neste sentido, permitam-me enaltecer e saudar a total abertura, entrega e determinação de Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique, que com o então líder da Renamo, Senhor Afonso Dlhakama, decidiram deitar abaixo estereótipos e diferenças, e abraçar uma causa justa e nobre que é a paz.
Com a mesma abertura, Sua Excelência o Presidente da República prosseguiu o processo de paz com o actual líder da RENAMO, Senhor Ossufo Momade, o que permitiu a conclusão, com sucesso, do processo de Desarmamento e Desmobilização dos antigos guerrilheiros da Renamo.
A conclusão do DDR representa um importante contributo aos esforços colectivos para uma paz duradoura, estabilidade e reconciliação entre os moçambicanos.
Excelências,
A experiência de Moçambique demonstra que a construção da paz e reconciliação nacional depende do diálogo franco e da vontade política das lideranças, bem como do envolvimento de todos os actores da sociedade.
O Conselho da Paz e Segurança da União Africana, ao realizar esta cerimónia em Maputo, enaltece a contribuição de Moçambique no alcance da visão continental sobre o Silenciar das Armas, um dos principais pilares na construção da África que queremos para as gerações presentes e futuras. É um momento para profunda reflexão.
Excelências,
A África continua a enfrentar desafios que ameaçam a paz, o desenvolvimento e a estabilidade social, que cada um dos nossos Estados pretende proporcionar aos seus povos.
Entre os desafios, destacamos o impacto nefasto do terrorismo e do extremismo violento.
Devido ao seu carácter transnacional devemos apostar na estratégia de prevenção e combate destes fenómenos ao nível regional, continental e global.
Devemos acelerar acções no desenvolvimento do capital humano e o reforço da segurança nas suas variadas dimensões, bem com garantir a segurança e integridade dos nossos territórios.
Distintos Delegados,
Como é do vosso conhecimento, Moçambique tem sido alvo de ataques terroristas desde 2017, com o epicentro na província nortenha de Cabo Delgado.
A nossa abertura à cooperação multilateral e bilateral culminou com o desdobramento da Missão da SADC em Moçambique, mais conhecida por SAMIM, bem como das forças do Ruanda, em 2021.
As forças da SAMIM e do Ruanda têm estado a complementar a acção vigorosa das Forças Armadas de Defesa de Moçambique permitindo progressos visíveis no combate ao terrorismo.
Como resultado do esforço conjunto, a segurança e tranquilidade em Cabo Delgado regista melhoria considerável, com a recuperação do controlo do Governo das zonas outrora ocupadas pelos terroristas, o desmantelamento das suas bases e alguns dos seus cabecilhas, são colocados fora de combates.
Graças à melhoria da situação, as populações deslocadas estão a regressar em massa às suas zonas de origem.
Paralelamente, estão em curso acções de reconstrução de Cabo Delgado que prevê as componentes de assistência humanitária e de desenvolvimento sustentável.
Gostaríamos de aproveitar o ensejo, para mais uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento a todos países e parceiros que nos têm apoiado nesta árdua tarefa do combate ao terrorismo.
Excelências,
No plano externo, a República de Moçambique tem-se desdobrado, na sua qualidade de membro não permanente das Nações Unidas, para o reforço da paz e segurança no continente africano e no mundo.
Neste contexto, em Março do presente ano, Moçambique assumiu a presidência rotativa mensal do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
No quadro da sua presidência, Moçambique realizou com sucesso vários debates abertos de alto nível com destaque para:
- “Paz e segurança em África: o impacto das políticas de desenvolvimento na implementação da iniciativa Silenciar as Armas”.
- “Experiência de Moçambique na Construção da Paz: Lições Aprendidas e Desafios Futuros”
- Mulheres paz e seguranças
Nestes debates partilhamos a nossa experiência que serviu de base para reflexão profunda sobre as formas inovadoras de prevenir conflitos, promover a sua resolução, tendo por finalidade a preservação, construção e consolidação da paz e a segurança internacionais.
Excelências,
O debate em Sede do Conselho de Segurança nas Nações Unidas, permitiu, entre outros, a construção de consensos entre os intervenientes, tendo como fundamento:
- A necessidade de proteger as comunidades expostas a factores geradores de conflitos armados;
- A garantia do acesso das populações aos meios de produção necessários a sua subsistência; e
- E que os jovens tenham acesso a um modelo de ensino, cada vez mais profissionalizante e gerador de rendimentos.
- Que o papel da justiça transnacional que não se limita à penalização dos crimes inerentes ao terrorismo, mas também em acções de coesão social incluindo a amnistia.
- A aposta no diálogo como única via para a resolução de conflitos, evitando o recurso à força das armas para mudanças inconstitucionais de Governo, pois é falando que a gente se entende.
Durante os debates foi consensual a necessidade do reforço da cooperação Norte-Sul e ao nível do Sul global, dando enfâse a transferência de conhecimento e tecnologia, bem como a reforma do sistema multilateral e financeiro internacional.
Excelências, minha senhoras e meus senhores,
Antes de terminar, gostaria de partilhar convosco que, no quadro da consolidação da democracia e da descentralização, Moçambique vai realizar no dia 11 de Outubro de 2023, as sextas eleições autárquicas.
No nosso país, a descentralização é um dos pilares para a consolidação da paz e reconciliação nacional.
Reafirmamos o compromisso do Governo da República de Moçambique de continuar a contribuir nos esforços da União Africana para o Silenciar das Armas em África até 2030.
Excelências,
Agradecemos a escolha de Moçambique como parte bem como para o acolhimento deste importante evento.
Termino apelando a todos para que usemos as comemorações do Mês de Amnistia para multiplicar iniciativas da paz, um elemento primordial para o desenvolvimento dos nossos países e criação do bem-estar dos nossos povos.
Pela atenção dispensada, aceitem, Excelências e caros delegados o nosso: Muito obrigada!