“Ouvir as pessoas, autoridades e instituições é parte essencial do trabalho da ONU”
Afirma a Dra. Catherine Sozi, Coordenadora da ONU e Coordenadora Humanitária para Moçambique, durante a sua primeira visita à Província de Cabo Delgado.
MAPUTO, Moçambique – A Dra. Catherine Sozi terminou na sexta-feira passada sua primeira visita a Cabo Delgado para ver e ouvir em primeira mão sobre as atividades humanitárias e de desenvolvimento na província.
Durante a visita de uma semana, a Chefe da ONU Moçambique teve a oportunidade de encontrar-se com autoridades, instituições e funcionários humanitários.
A Dra. Sozi também pode ouvir diretamente de pessoas deslocadas internamente e famílias acolhedoras sobre suas histórias e como o apoio humanitário e de desenvolvimento das Nações Unidas ao governo moçambicano salva e transforma vidas.
“Ouvir as pessoas, deslocados, famílias acolhedoras, autoridades e instituições, suas necessidades e seus conhecimentos são partes essenciais de todo o trabalho da ONU; Apenas assim podemos ter uma ONU adequada ao seu propósito” - Dra. Catherine Sozi, Chefe da ONU Moçambique.
Devido à complexa crise causada por ataques de grupos armados não-estatais na Província de Cabo Delgado, cerca de 1,2 milhão de pessoas recebem assistência humanitária e de desenvolvimento que salva e transforma vidas. Com o apoio às autoridades de 14 entidades das Nações Unidas, 500 funcionários da ONU e 43 organizações humanitárias nacionais e internacionais.
Encontro com autoridades, sociedade civil e humanitários
Encontros com autoridades incluíram reuniões com o Governador da Província, e equipa do Secretário de Estado, assim como as Forças Armadas e de Defesa de Moçambique, membros da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM), o Comandante-Geral da Polícia da República de Moçambique.
Nos encontros, a Chefe da ONU reafirmou o apoio às instituições nacionais para a construção de um futuro melhor para todos.
A Chefe da ONU Moçambique também se encontrou com organizações da sociedade civil, organizações humanitárias nacionais e internacionais, além de trabalhadores humanitários ao redor da província.
Apoio de desenvolvimento
No âmbito das iniciativas de desenvolvimento e recuperação projetos de treinamento vocacional e profissional, de ensino à distância, de alimentação escolar e de reconstrução foram visitados.
Por meio do Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), o governo de Moçambique apoia jovens em Cabo Delgado com treinamento vocacional e inclusão econômica. Depois de aprenderem uma profissão enquanto recebem salário, os jovens são destinados a estágios e ingressam no mercado de trabalho - com habilidades que levarão para toda a vida. Em 2022, cerca de 800 pessoas se beneficiaram das formações.
Com polos de ensino a distância, a UNESCO apoia autoridades de Cabo Delgado a empoderar jovens e apoia a construção da paz. Cerca de 20 centros de ensino à distância serão abertos e mais de 16.000 beneficiar-se-ão do programa apoiado pelo governo do Japão.
“Tenho a certeza que os jovens que aqui estão vão poder construir o futuro do país”, afirmou a Dra. Sozi, após visitar um dos pólos de ensio à distância no Distrito de Metuge.
“Devemos investir para que todos tenham acesso à educação, treinamento e empregos decentes para atingir todo o seu potencial”, continuou a Dra. Catherine Sozi.
Ainda em Metuge, a Dra. Catherine visitou escola beneficiária do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PRONAE), assistida pelo Programa Mundial para a Alimentação (PMA). A alimentação escolar incentiva a frequência, enquanto melhora a nutrição, a saúde e o aprendizado das crianças.
O PRONAE beneficia 220.000 alunos em 340 escolas de Moçambique, incluindo mais de 42.000 estudantes na Província de Cabo Delgado.
“A Alimentação Escolar simboliza um investimento no maior bem de Moçambique – o seu povo”, afirmou a Dra. Sozi.
Em Pemba, a Coordenadora Residente da ONU e Coordenadora Humanitária para Moçambique visitou projeto de construção de um sistema de drenagem - selecionado pela comunidade como prioridade – apoiado pelo PMA e a Fundação Avsi.
Sistemas de drenagem melhoram a resiliência a eventos climáticos extremos além de capacitar e gerar renda para a comunidade.
Ao redor da Província, o Projeto de Recuperação da Crise do Norte (NCRP) executado pelo UNOPS, projeto desenvolvido pelo Governo de Moçambique e o Banco Mundial em resposta à crise em Cabo Delgado, melhora o acesso a serviços básicos e oportunidades económicas das comunidades deslocadas e acolhedoras.
Durante a missão, a Dra. Catherine Sozi teve a oportunidade de visitar a área de construção de um novo centro de saúde na comunidade de Naminawe. O centro servirá a mais de 10.000 mil pessoas deslocadas internamnete e famílias acolhedoras.
Além de dar treinamento e emprego a própria comunidade, a construção do centro também reforça a coesão social e a capacidade de resposta à emergências da região.
"Com o apoio do Banco Mundial e estreita coordenação com o Governo de Moçambique, o UNOPS está a tentar construir um futuro melhor para o povo de Cabo Delgado, criando oportunidades de subsistência, fomentando a coesão social e melhorando a educação e as infra-estruturas de saúde em toda a província", afirmou Asim Ayub, Gerente de Programa Sênior do UNOPS.
Apoio humanitário
Pelo menos 1,5 milhão de pessoas no norte de Moçambique (Províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa) precisam de assistência e proteção humanitária para salvar e sustentar suas vidas devido ao impacto contínuo do conflito, violência e insegurança apenas na província de Cabo Delgado.
Mais da metade deles são crianças e mais de 60% dos adultos são mulheres, que fugiram de uma brutalidade horrível em busca de segurança. Um total de 800.000 são pessoas deslocadas internamente.
Em Cabo Delgado, mensalmente, UNICEF alcança cerca de 360.000 pessoas por meio de campanhas de comunicação para promover práticas de higiene e garantir que comunidades vivam em um ambiente seguro e sem cólera.
Um dos projetos visitados do UNICEF pela Coordenadora Residente da ONU em Mocímboa da Praia envolve implementar abordagens inovadoras para fornecer saúde mental e apoio psicossocial para as crianças. Isso inclui atividades lúdicas, esporte, capoeira, desenvolvimento de habilidades para a vida e ações contra casamento prematuros.
Na mesma linha, a Organização Internacional para a Migração (OIM), engaja jovens vulneráveis por meio de apoio à meios de subsistência como medida para prevenir a violência e o extremismo. Por meio do planemaneto participativo e treinamentos de Clubes De Paz, a coesão social das comunidades afetadas pela complexa crise em Cabo Delgado é fortalecida.
“Não há dignidade na fome, Moçambique precisa de apoio urgentemente”, afirmou a Dra. Catherine Sozi ao visitar distribuição de alimentos organizada pelo PMA em Mocímboa da Praia.
O PMA distribui comida para mais de 660 mil pessoas vulneráveis, incluindo quem retornou aos seus sítios de origem. Desde 2022, as distribuições de alimentos são feitas a cada dois meses devido à falta de fundos.
Para combater a fome, a FAO aumenta a resiliência dos meios de subsistência dos deslocados internos e das comunidades acolhedoras no norte do país por meio da distribuição de sementes de qualidade, ferramentas, insumos agrícolas e assistência técnica.
Em 2022, FAO e autoridades provinciais e distritais conseguiram fornecer insumos agrícolas para mais de 75.000 pessoas apenas em Cabo Delgado.
“O trabalho de resiliência da FAO é multissetorial, abrangendo todos os aspectos da agricultura: cultivos, pecuária, pesca, silvicultura e gestão de recursos naturais por meio da abordagem de cadeias de valor”, comentou Reine Anani, Chefe da FAO em Cabo Delgado, durante distribuição de insumos no distrito de Metuge.
“Sem saúde não há desenvolvimento”, afirmou Catherine Sozi, ao visitar a comunidade 25 de Junho em Metuge, onde Ministério da Saúde, OIM e Organização Mundial da Saúde estabeleceram clínica temporária para prestar serviços essenciais de saúde aos 15.000 deslocados internos e famílias acolhedoras que ali residem. Num único mês, são feitas mais de 4.000 consultas na clínica.
A parceria entre o Ministério da Saúde e OMS também se extende para o fornecimento de medicamentos e logística de saúde. Em Cabo Delgado, o armazém do Cluster de Saúde mantém 955mt de medicamentos e suprimentos para alcançar mais de 500.000 pessoas.
Em Moçambique, brigadas móveis são necessárias para chegar à população que vive longe dos centros de saúde. Em Cabo Delgado isso não é diferente. Com apoio do Fundo das Nações Unidas para População (UNFPA), mais de 24.000 deslocados internos e membros de comunidades acolhedoras já foram assistidos por meio de brigadas móveis apenas este mês.
O UNFPA também apoia comunidades por meio de espaços seguros para mulheres, onde elas podem se entir fisica e emocionalmente seguras nestes espaços e receber apoio psicosocial e de resposta à violência baseada no gênero.
“Sempre informo as raparigas sobre violência e casamentos prematuros”, diz Amina de 24 anos. Ela é uma das 1.300 mulheres que frequentam o espaço seguro na comunidade 23 de Fevereiro em Metuge.
“As mulheres não param de fazer sexo ou de engravidarem em emergências - planeamento familiar, apoio psicológico e aconselhamento sobre violência baseada no gênero são essenciais para que mulheres prosperem, sejam ouvidas e vivam sem medo”, frisou a Dra. Catherine Sozi durante sua visita à comunidade 23 de Fevereiro.
Townhall dos funcionários da ONU
Em seu último dia de missão, a Dra. Catherine Sozi liderou reunião com todos os funcionários das Nações Unidas na Província de Cabo Delgado. São mais de 500 pessoas trabalhando para 14 entidades da ONU diferentes ajudando a salvar a transformar vidas diariamente.
“As Nações Unidas estão aqui para ficar e apoiar o povo de Moçambique com ação humanitária e de desenvolvimento; Muito obrigada por serem o sangue quente que corre na veia desta organização” - Dra. Catherine Sozi, Chefe da ONU Moçambique.
Ao fim da missão, a Coordenadora Residente da ONU e Coordenadora Humanitária para Moçambique afirmou sua gratidão pelo trabalho de todos para transformar Cabo Delgado para a melhor.
“Testemunhei a dedicação do pessoal da ONU, humanitários, ONGs internacionais e nacionais ao trabalharem com as autoridades em Cabo Delgado para tornar a província um lugar melhor para todos; Expresso minha gratidão por seu trabalho e meu orgulho em chamá-los de colegas”, Dra. Catherine Sozi.