“Quero realizar o sonho da minha filha”
Afirma Anli Nicolau, um dos milhares de membros de comunidade acolhedoras e pessoas deslocadas internanamente apoiados pela FAO no norte de Moçambique.
PEMBA, Moçambique – Anli Nicolau quer um futuro melhor para sua filha. Como qualquer outro pai, ele quer o melhor para sua família. Pai de quatro filhos, sendo Maria a mais nova com 20 anos, ele é membro da comunidade acolhedora de Nacuta, distrito de Metuge, na Província de Cabo Delgado.
Como muitas pessoas que vivem no norte de Moçambique, ele sente o impacto da complexa crise que afeta a região em sua subsistência e na de sua comunidade. Desde 2017, ataques de grupos armados não estatais têm afetado Cabo Delgado.
“Aqui na comunidade foram acolhidas muitas pessoas que fugiram da violência do norte; se não fosse a ajuda para plantar na hora certa com sementes de qualidade, não sei como todo mundo teria o que comer”, diz Anli com um sorriso no rosto ao mostrar seus próprios produtos em uma feira organizada pelo Governo de Moçambique e FAO na sua comunidade.
Pelo menos 1,5 milhão de pessoas no norte de Moçambique precisam de assistência e proteção humanitária para salvar e sustentar suas vidas devido ao impacto contínuo do conflito, violência e insegurança apenas na província de Cabo Delgado. Mais da metade deles são crianças e mais de 60% dos adultos são mulheres, que fugiram de uma brutalidade horrível em busca de segurança. Um total de 800.000 são pessoas deslocadas internamente.
Agricultura salva vidas
Cerca de 80% das pessoas em Cabo Delgado dependem da agricultura para sobreviver. Isso inclui animais leiteiros e peixes que alimentam crianças diariamente e colheitas que fornecem alimentos básicos para as famílias durante o ano.
Com o apoio da FAO, o Governo de Moçambique está a ajudar pessoas deslocadas internamente e comunidades acolhedoras a proteger e restaurar a sua própria produção alimentar, aumentando a resiliência dos seus meios de subsistência contra a complexa crise que afecta o norte de Moçambique e dando-lhes esperança e dignidade.
No caso da Anli, essa esperança vem na forma de ferramentas agrícolas, sementes de hortaliças e assistência técnica, fornecidas pelo Governo de Moçambique com o apoio da FAO.
“Se não fosse o apoio com as sementes, eu não conseguiria plantar minhas hortaliças e fazer negócios para sustentar minha família”, diz Anli Nicolau.
O fornecimento de insumos agrícolas e conhecimento de boas práticas em apoio às pessoas deslocadas internamente e comunidades acolhedoras visa aumentar a produtividade, o acesso a dietas saudáveis, promover o consumo de alimentos nutritivos e proporcionar oportunidades de geração e diversificação de rendimentos para cobrir outras necessidades não alimentares das famílias.
Anli conseguiu plantar uma variedade de culturas, incluindo alface, couve, pimentão, tomate, cebola e abóbora em sua machamba. Isto não só lhe proporciona auto-suficiência e segurança alimentar e nutricional, mas também gera meios de subsistência sustentáveis, uma vez que vende o excedente da sua produção no mercado central da cidade de Pemba, capital da província de Cabo Delgado.
“Bem cedo pela manhã, pego transporte para o mercado central na cidade de Pemba para vender meus produtos; Com o dinheiro que ganho consigo sustentar minha família, economizar um pouco e dar uma chance melhor para minha filha no futuro”, comenta Anli.
“Minha filha quer ser médica, alguém com diploma, com formação”, diz Anli. “Quero realizar o sonho da minha filha e com esse apoio que recebi com as sementes estou tornando isto realidade”.
O trabalho de emergência e resiliência da FAO
Construir a resiliência das populações rurais vulneráveis em contextos frágeis, como conflitos e eventos climáticos extremos, por meio da transformação dos sistemas agroalimentares, é uma prioridade fundamental para a FAO.
O trabalho de emergência e resiliência da FAO é multissetorial, abrangendo todos os aspectos da agricultura: culturas, pecuária, pesca, silvicultura, garantindo uma gestão pacífica e sustentável dos recursos naturais e apoiando uma abordagem de cadeias de valor.
Entre janeiro e julho de 2023, a FAO conseguiu fornecer insumos agrícolas por aprox. 50.000 pessoas deslocadas internamente, comunidades acolhedoras e aqueles que voltam para seu lugar de origem apenas em Cabo Delgado.
O fornecimento oportuno de sementes, ferramentas e assistência técnica e o plantio de safras produzem alimentos nutritivos suficientes para garantir a autossuficiência por três a seis meses para uma família média de cinco pessoas.
“O apoio técnico da FAO aos atores locais melhorou a qualidade dos serviços oferecidos aos agricultores, resultando em maior rendimento e produção para pessoas deslocadas internamente e comunidades acolhedoras”, diz Reine Anani, Coordenadora de Emergência e Resiliência da FAO e Chefe do Escritório local de Pemba.
“Este apoio incluiu insumos agrícolas, reforçados pela formação, incluindo o reforço da capacidade dos extensionistas distritais”, continua Reine Anani. “Como resultado, a segurança alimentar e nutricional das famílias melhorou, bem como a renda gerada para sua autossuficiência”.
O Quadro Estratégico da FAO 2022-2031 está impulsionando a transformação dos sistemas agroalimentares, alinhando-se com a Agenda 2030. Este compromisso com uma melhor produção, melhor nutrição, um ambiente melhor e uma vida melhor ecoa em histórias como a de Anli Nicolau, onde os esforços da FAO tiveram um impacto profundo.
No entanto, mais ação é necessária. Para estender a assistência transformadora a mais de 800.000 deslocados internos em 2023, a FAO e seus parceiros precisam urgentemente de US$ 35,3 milhões.