Comunidades deslocadas e de acolhimento trabalham em conjunto para enfrentar a crise climática em Pemba
14 agosto 2023
Uma comunidade de deslocados e famílias acolhedoras está a trabalhar em conjunto para melhorar o sistema de drenagem do bairro Alto Gingone na cidade de Pemba.
PEMBA, Moçambique - A cidade de Pemba enfrenta muitos desafios urbanos. Devido aos últimos seis anos de conflito, o fluxo de pessoas deslocadas que fogem da violência para a capital da província aumentou significativamente. Hoje são 167 mil pessoas deslocadas vivendo em Pemba, exacerbando a pressão sobre os recursos e a partilha de espaço urbano.
Além dos desafios de coabitar o mesmo espaço, as comunidades deslocadas e acolhedoras enfrentam igualmente os desafios das condições climáticas extremas de Moçambique, como chuvas fortes, cheias e gestão de lixo muito limitada.
Num dos bairros mais procurados pelos deslocados, o Alto Gingone, a comunidade formada por pessoas deslocadas e antigos residentes juntou-se para enfrentar os impactos das fortes chuvas.
"Com as chuvas, o lixo entra diretamente em nossas casas carregado pelas enchentes", diz Norberto Teixeira, de 19 anos e morador do Alto Gingone desde que nasceu, preocupado com o estado da gestão de resíduos da cidade.
"Sempre que chove, a água entra em nossas casas, e as destrói. As casas simplesmente desabam", lembra Natifo Simrate, de 30 anos que sempre residiu no bairro Alto Gingone e conhece de perto o problema das cheias.
Por meio de uma parceria entre o Programa Mundial para a Alimentação (PMA) e a Fundação AVSI, a comunidade de deslocados e residentes mais antigos do Alto Gingone embarcou em uma jornada conjunta para aumentar a resiliência de 25 hectares do bairro contra os efeitos negativos das chuvas e inundações e viver melhor– como consequência, acabaram por estreitar laços de amizade e criar uma convivência mais harmônica.
O PMA e a AVSI desenvolveram em conjunto um projeto voluntário de consolidação da rede de drenagem, com 1.500m de comprimento para prevenir a erosão e as enchentes, problemas muito recorrentes nessa área da cidade.
Natifo foi treinado em construção no início do projeto e agora treina outros colegas e supervisiona as obras. "Acredito que este projeto deveria ser expandido para outros bairros com problemas".
As obras começaram rapidamente em maio deste ano, após a primeira fase de limpeza de uma área de 25 hectares , correspondente a área de influência dos canais de drenegem a serem intervenidos. Quatrocentos e sessenta (460) residentes da comunidade estão agora trabalhando para reabilitar canais de drenagem existentes e construir novas rotas de drenagem, esperando melhorar o escoamento da água da chuva e proteger mais de 250 casas vulneráveis.
Trabalhando juntas, famílias deslocadas e acolhedoras não apenas fortaleceram a resiliência de Alto Gingone, mas também fortaleceram seus relacionamentos uns com os outros. Destes 460 trabalhadores voluntários do projeto, 244 são deslocados e 216 são originalmente do bairro do alto Gingone. E a maioria dos trabalhadores é mulher (330).
Além disso, o programa de Restauração de Meios de Vida do PMA oferece a oportunidade para os participantes do projeto receberem senhas de valor que podem ser trocados por alimentos em lojas de comerciantes contratados nas proximidades.
Andurabe Faqui, de 46 anos, que fugiu da violência da vila de Macomia há quatro anos, vive com o marido e cinco filhos numa tenda montada no quintal da cunhada. Ela conta que o voucher é a única fonte de rendimento certo de sua família e que agora com o trabalho conhece melhor o bairro e os vizinhos.
“Queríamos mais iniciativas como esta; O trabalho é duro, mas não temos conflitos porque todos querem que o trabalho avance; Quando comecei a trabalhar no projeto, conheci mais pessoas da região", diz Faqui.
À medida que os preços dos alimentos na província - e no país - continuam a aumentar devido à crise global de alimentos, esses vouchers do PMA tornaram-se a única fonte de alimento para muitas famílias. Graças ao trabalho voluntário para a melhoria do bairro, 460 pessoas do Alto Gingone se tornaram-se beneficiárias do programa e agora estão recebendo vouchers.
Gaidano Ganos Amisse, de 23 anos, também fugiu com seus dois irmãos de ataques em Chiure há 3 anos, e diz que está a aprender um novo oficio com o projeto, antes só havia encontrado oportunidades de trabalho ocasionais (ganha-ganha). Hoje ele é o único de casa com alguma ocupação.
"Estou muito grato ao PMA por esta oportunidade de aprender e trabalhar; Mesmo quem não está diretamente trabalhando no projeto vai ser beneficiado pelas mudanças no bairro", comenta Gaidano.
Utilizando técnicas de engenharia baseada na natureza, mão de obra voluntária local, materiais reciclados e materiais locais acessíveis (como estacas de madeira, pedras, blocos, bambu, vegetação), o projeto PMA-AVSI contribuirá para o bem-estar geral da comunidade, melhorando a segurança alimentar dos residentes, criando um ambiente mais saudável ao reduzir os riscos e impactos de choques climáticos, com o fortalecimento da resiliência futura à crise climática.
Ao lado de outros projetos do PMA em comunidades vizinhas, como a melhoria das condições de higiene e segurança alimentar para alunos por meio da construção de instalações de armazenamento e cozinha e o estabelecimento de áreas verdes comuns nas escolas, o PMA espera melhorar a resiliência das comunidades deslocadas e acolhedores em Cabo Delgado.
Para reduzir o volume de água de escoamento superficial e reduzir a pressão no sistema de drenagem da cidade, o projeto também está criando áreas verdes para aumentar a permeabilidade do solo. São bacias de infiltração e jardins de chuva em áreas públicas e ao longo das vias e em 250 talhões ao redor das valas de drenagem.
Para continuar e expandir iniciativas como esta no norte de Moçambique e criar soluções mais duradouras para as comunidades, com oportunidade de geração de renda, o PMA precisa urgentemente de mais fundos.