Quando uma refeição é vital para garantir a frequência e o sucesso escolar
06 junho 2023
Zainabo Amisse, mãe lactante, regressou à sua casa em Palma, Cabo Delgado, após os ataques armados de 2020.
MAPUTO, Moçambique - Zainabo Amisse, de 29 anos, residiu no distrito de Palma durante sete anos, até que os ataques liderados por grupos armados não estatais destruíram aldeias, casas e a vida como ela a conhecia em 2020. Ela perdeu a sua casa e familiares e teve de fugir do distrito com os filhos para se refugiar em zonas mais seguras, conseguindo regressar a Palma apenas em 2022, graças ao restabelecimento das condições de segurança.
A sua história é um exemplo entre milhares de pessoas que viram as suas vidas impactadas pela complexa crise no Norte de Moçambique.
Actualmente, existem aproximadamente 3,1 milhões de pessoas em Moçambique que estão a viver com elevados níveis de insegurança alimentar aguda com mais de 530 mil pessoas em Cabo Delgado na Fase 3 (crise) da Classificação Integrada de Fases (IPC, conforme sua sigla em inglês) devido à insegurança, violência e deslocações internas.
A emergência afecta a educação de milhares de crianças que tiveram de interromper os seus estudos para escapar da violência ou matricularem-se em escolas que ficaram sobrecarregadas pelo aumento acentuado das matrículas dos deslocados.
“Desde que os ataques começaram, o número de crianças matriculadas aumentou de forma significativa; Antes, tínhamos 96 alunos, mas desde os ataques, o número subiu para 1.600”, afirma Sandra Lagido, directora da Escola Primária Eduardo Mondlane, distrito de Mueda.
Face à esta situação e visando atrair e reter alunos nas escolas, o Progama Mundial para a Alimentação (PMA) implementa um Programa de Alimentação Escolar em Emergência e Recuperação que fornece rações secas compostas por arroz, óleo, sal e feijão às famílias dos alunos matriculados nas escolas primárias dos distritos de Mueda e Palma, na Província Cabo Delgado.
Em 2023, o programa prevê alcançar a mais de 41 mil beneficiários, entre alunos e pessoal afecto às escolas, em 45 escolas seleccionadas nos distritos de Palma e Mueda. As escolas abrangidas pelo programa apresentaram um aumento de 40% nas matrículas no novo ano lectivo, e o próprio programa de alimentação escolar foi destacado como um factor de atracção para manter os alunos na escola.
Além da distribuição dos alimentos secos a assistência inclui actividades que promovem a igualdade de género para meninas e meninos e distribuição de kits de higiene menstrual para meninas adolescentes.
Zainabo e os seus filhos beneficiam do programa desde Setembro de 2022. Antes da ajuda do PMA, Zainabo recorria à agricultura como meio de subsistência, uma prática que foi restringida devido às fortes chuvas e ciclones que atingiram Moçambique recentemente, reduzindo a disponibilidade de alimentos para ela e a sua família.
“Gosto do programa, porque os alimentos que recebo cozem bem e são de boa qualidade”, comenta a Zainabo, ao receber a sua cesta, que consiste em 5 kg de arroz, 1 litro de óleo, 1 kg de sal e 1 kg de feijão por criança.
“O programa de alimentação escolar garante que as crianças continuem a frequentar a escola, apesar de todos os desafios socioeconómicos causados pela insegurança no Norte”, afirmou Antonella D'Aprile, Representante Residente e Directora Nacional e do PMA Moçambique.
Esta abordagem tem-se revelado eficaz. Apenas em 2023, a Escola Primária da Unidade, no distrito de Palma, duplicou o número de alunos matriculados.
“Ao fornecer alimentos saudáveis para as crianças comerem em casa e aprenderem melhor na escola, o programa incentiva os alunos a se matricularem”, continuou Antonella D'Aprile, Representante Residente do PMA.
“Eu sei que o objectivo do programa é manter de manter os nossos filhos na escola e não desistirem dos estudos por causa da fome, que é muita aqui”, diz Zainabo.
“Agora eu e a minha família podemos fazer três refeições por dia graças ao apoio do PMA e vejo que os meus filhos estão mais motivados para ir à escola estudar” - Zanaibo Amisse.
Sandra, a directora da Escola Primária Eduardo Mondlane, em Mueda, afirma que, desde que a distribuição começou, os alunos faltam menos à escola e são mais participativos nas aulas. “As crianças sentem-se motivadas, e é também uma motivação para os pais enviarem os filhos à escola, nomeadamente para as raparigas, porque antes, muitas delas ficavam em casa a ajudar nas tarefas domésticas ou no campo”.
O programa de Alimentação Escolar em Emergência e Recuperação do PMA é financiado pelos Governos da Alemanha e da Noruega desde 2022, e implementado pelo PMA, em conjunto com o seu parceiro ForAfrika e o Governo de Moçambique.
O programa complementa o Programa Nacional de Alimentação Escolar de Moçambique (PRONAE), liderado pelo Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, que abrange mais de 220 mil beneficiários em 340 escolas em todo o país.
Escrito por
Narcia Walle
PAM/PMA
Associada Sênior do Programa de Alimentação escolar