Desenvolvendo um Sistema de Alerta Antecipado Robusto em Moçambique
23 maio 2023
Graças à ação e alerta antecipados, o número de mortes e pessoas deslocadas pelo ciclone Freddy é menor do que em ciclones anteriores de magnitude semelhante.
MAPUTO, Moçambique - Dias antes do ciclone Freddy atingir Moçambique pela primeira vez em 24 de fevereiro, rádios comunitárias, carros com alto-falantes e autoridades de todo o país alertaram os moradores a se mudarem para abrigos em terrenos mais altos. Quando o ciclone Freddy atingiu a costa, a população foi preparada, realocada para áreas seguras e com estoque de comida e água.
“Ouvi pela rádio que precisávamos de nos preparar para o ciclone e as autoridades locais também passaram pela minha aldeia para me alertar do perigo”, conta Ana Momade, de 35 anos, do distrito de Morrumbala, província da Zambézia, uma das mais afectadas áreas pelo ciclone Freddy.
“Perdi tudo, apenas uma parede permanece da minha casa”, continuou ela.
Ela evitou danos físicos graças a um sistema de alerta precoce baseado na comunidade que a instruiu a procurar abrigo em uma escola local.
Graças à ação antecipada e ao investimento em esforços de alerta por parte do Governo de Moçambique, o número de mortes e pessoas deslocadas pelo ciclone é menor do que em ciclones anteriores de magnitude semelhante.
Freddy é um dos ciclones mais fortes já registrados no hemisfério sul e pode ser o ciclone tropical mais duradouro, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Atingiu o centro de Moçambique duas vezes, arrancando telhados de edifícios e causando inundações generalizadas na província da Zambézia, antes de se deslocar para o interior em direção ao Malawi com chuvas torrenciais que causaram deslizamentos de terra.
“Eventos climáticos extremos não precisam se tornar desastres”, disse o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, nas comemorações do Dia Internacional para a Redução do Risco de Desastres em Maputo no ano passado.
Com o apoio das Nações Unidas, o país está desenvolvendo um robusto Sistema de Alerta Antecipado para proteger seu povo e os ganhos de desenvolvimento duramente conquistados. Sua base é a ação comunitária, novas tecnologias e infraestrutura, bem como preparação e resposta a emergências. Duas agências governamentais nacionais que lideram este trabalho são o Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Calamidades (INGD) e o Instituto Nacional de Meteorologia (INAM).
Gestão de risco de desastres com base na comunidade
Compostos por membros voluntários da comunidade, os Comitês Locais de Gestão e Redução de Risco de Desastres (CLGRD) são o braço operacional do INGD e servem de base para os Sistemas de Alerta Prévio do país.
Com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), voluntários em todo o país são treinados em redução de riscos de desastres e adaptação às mudanças climáticas para melhor identificar as ameaças existentes localmente para projetar e implementar atividades de prevenção, preparação e resposta.
Em colaboração com as comunidades e governos locais, um dos deveres dos membros do comitê é criar um plano de ação composto pelo histórico de eventos climáticos na área, planos de prevenção, prontidão e mitigação, mapa de recursos e mapa de riscos.
Cada membro do comitê recebe uma função, uma dessas funções é ouvir atentamente o rádio local para mensagens de alerta antecipado. Munido de informações de um evento climático iminente, o comitê local é acionado. Com base no plano de ação, os membros do comitê local sensibilizam a comunidade para se deslocar para áreas seguras previamente identificadas, bem como para centros de acomodação temporária.
Exercícios de simulação são realizados anualmente pelas delegações provinciais do INGD para avaliar o nível de prontidão dos comitês no caso de um evento extremo. Cerca de 1.500 comitês locais são estabelecidos em todo o país.
Papel das Rádios Comunitárias
“Quando ocorrem catástrofes como ciclones, a comunicação é vital”, afirma Alexandre dos Santos, técnico e locutor da rádio comunitária Chokwe-Kendlemuka, na província de Gaza.
Ele é um dos locutores de rádio que transmite mensagens de alerta precoce nos idiomas locais em seu distrito. Apoiado pelo Programa de Assentamentos Humanos das Nações Unidas (UN-Habitat), seus anúncios de rádio acionaram o comitê local, resultando em cerca de 500 pessoas deixando áreas propensas a desastres para o abrigo de emergência local.
Em Moçambique, as estações de rádio comunitárias desempenham um papel essencial como amplificadores de informação de serviço público e são também instrumentais para atingir os grupos mais vulneráveis, incluindo mulheres, crianças e pessoas com deficiência.
Mensagens de rádio podem ser transmitidas sobre como se preparar para futuros ciclones, alertar a população sobre uma tempestade iminente, divulgar conhecimento sobre como evitar cólera e malária após um ciclone e ser usadas para localizar entes queridos.
Com uma gestão de risco de desastres baseada na comunidade reforçada com tecnologias e informações que permitem ao país antecipar tempestades, ondas de calor, cheias e secas, Moçambique está a dar o exemplo de como os Sistemas de Alerta Antecipado salvam vidas.