No Japão, ONU pede apoio financeiro para países em desenvolvimento e ação climática
Secretário-geral participa de Encontro de Cúpula do G7, que ocorre na cidade japonesa de Hiroshima.
NOVA IORQUE, EUA - O líder das Nações Unidas participou do Encontro de Cúpula do G7, no Japão, onde alertou para a urgência de apoio de economias avançadas a nações em desenvolvimento que ainda sofrem com as consequências da pandemia e da crise econômica global.
António Guterres falou a jornalistas na cidade de Hiroshima, onde afirmou que o G7 é crucial para a ação climática no mundo.
Acesso desigual à vacina
O secretário-geral da ONU lembrou que o impacto esmagador da pandemia de Covid-19, a crise climática, a invasão da Rússia à Ucrânia, os níveis insustentáveis da dívida, as altas taxas de juros e a inflação estão arrasando economias emergentes e em desenvolvimento.
O G7 é formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.
Para o chefe das Nações Unidas, os problemas que afetam os países pobres têm três dimensões: moral, prática e relacionada ao poder. Guterres lembrou que a pobreza e a fome estão crescendo e o desenvolvimento se afundando.
Ao tratar do aspecto moral, António Guterres citou uma tendência injusta da estrutura econômico-financeira global em favor dos países ricos e que tem gerado uma grande frustração no mundo em desenvolvimento.
O líder das Nações Unidas falou do acesso desigual à vacina contra a Covid-19 em vários cantos do globo.
Ao mencionar a recuperação, ele notou que os países ricos conseguiram se restabelecer do impacto da pandemia com políticas monetárias e fiscais ao imprimir dinheiro e gastar o que precisavam.
Já os países em desenvolvimento não puderam fazer o mesmo.
G7 e África
O Fundo Monetário Internacional, FMI, alocou US$ 650 bilhões em SDRs, ou direitos especiais de saques, durante a pandemia basicamente criando dinheiro do nada. Os países do G7 com 772 milhões de habitantes receberam US$ 282 bilhões. Já o continente africano, com uma população de 1,3 bilhão de pessoas obteve apenas US$ 34 bilhões.
Desde a pandemia, 52 países ao redor do globo estão em dificuldade de endividamento ou enfrentam financiamentos de mercado extremamente caros. Guterres lembra que nações de renda média incluindo pequenos Estados-ilha em desenvolvimento não são habilitados para financiamentos concessionais e não têm acesso ao alívio da dívida.
Para ele, existe algo moralmente errado com as regras do sistema que permitem o que ele chama de injustiças.
Ao citar o segundo ponto relacionado à dimensão de poder, o secretário-geral afirmou que o sistema Bretton Woods e o Conselho de Segurança refletem as relações de poder de 1945.
Modelos de negócio precisam mudar
A arquitetura global financeira está anacrônica é disfuncional e injusta. Para o secretário-geral, é hora de reformar ambas as instituições e refletir as relações de poder de hoje.
Como terceiro ponto, Guterres ressaltou um problema prático que é a urgência de se fazer mais para apoiar as economias em desenvolvimento.
Ele lembrou que a ONU propôs o Estímulo ODS que ofereceria um mecanismo efetivo para o alívio da dívida além de aumentar, a longo prazo, o contingente de financiamento.
António Guterres acredita que se os Bancos Multilaterais de Desenvolvimento cooperaram e mudarem seus modelos de negócios e abordagem de risco, eles poderiam de forma massiva elevar o financiamento privado para países em desenvolvimento a um custo razoável.
O secretário-geral diz que as ferramentas de inovação financeira podem viabilizar swaps que convertam a dívida em investimentos na adaptação do clima.
António Guterres declarou que os países do G7, que são as sete democracias mais ricas do mundo, são centrais para a ação climática.
Hora de recuperar tempo perdido sobre clima
Ele alerta que o mundo está caminhando para um aumento de temperatura de 2.8ºC até o fim deste século. E os próximos cinco anos podem ser os mais quentes desde o início do registro de temperatura. Para o chefe da ONU, a ação climática está funcionando, mas num ritmo de 10 anos de atraso.
O chefe da ONU destacou que a Agenda de Aceleração quer recuperar o tempo perdido ao pedir a todos os países do G7 que alcancem uma rede de zero carbono, se possível, até 2040. Já as economias em desenvolvimento devem bater a meta até 2050.
O Pacto da Solidariedade Climática pede a todo o G7 que mobilize recursos financeiros e técnicos para apoiar as economias emergentes na aceleração da descarbonização, para que o planeta permaneça no limite 1.5ºC.
Sistemas de alerta e fim do carvão
Guterres voltou a pedir aos países do grupo que eliminem de vez o uso de carvão como combustível até 2030. E, ao mesmo tempo, façam justiça climática lembrando que os países que menos causaram a crise são os que mais sofrem com ela.
O secretário-geral das Nações Unidas defendeu o aumento de sistemas de alerta de acidentes para ajudar as comunidades na linha de frente. Cerca de 50% do financiamento para o clima para países em desenvolvimento deve ir para a adaptação.
Assista ao vídeo em inglês:
António Guterres encerrou o discurso no G7, em Hiroshima, dizendo que está na hora de os países desenvolvidos fornecerem os US$ 100 bilhões prometidos, por ano, às nações em desenvolvimento, como previsto no Acordo de Paris sobre Mudança Climática. Além disso, o Fundo de Perdas e Danos, acordado na COP27, em Sharm el-Sheik, tem que ser operacionalizado.
Hiroshima: inspiração e solidariedade
O chefe da ONU agradeceu ao Japão por patrocinar o um Fundo de Liderança Jovem para um Mundo sem Armas Nucleares e lembrou que a cidade de Hiroshima é um símbolo global das consequências trágicas de uma situação na qual países param de cooperar e de resolver suas disputas de forma pacífica.
Guterres disse que em Hiroshima, ele sempre se sente inspirado pela coragem e resiliências dos hibakusha, como são conhecidos os sobreviventes do ataque com a bomba atômica contra a cidade, em 1945.
Para ele, em Hiroshima, é hora de o G7 demonstrar solidariedade e liderança globais.