"Sentimo-nos como um país que pode dar sua contribuição para a paz no mundo"
O mês de presidência de Moçambique do Conselho de Segurança termina nesta sexta-feira. O presidente Filipe Jacinto Nyusi fala em exclusivo à ONU News.
NOVA IORQUE, EUA - O mês de presidência de Moçambique do Conselho de Segurança termina nesta sexta-feira. O presidente Filipe Jacinto Nyusi fala em exclusivo à ONU News, em Nova Iorque. Os destaques são coordenação com o Brasil no Conselho, contraterrorismo, reivindicação de jovens e participação da mulher no poder.
ONU News, ON: O presidente de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, está nas Nações Unidas. Ele veio para dirigir o Conselho de Segurança durante o mês de março. Bem-vindo a esta conversa com a ONU News mais uma vez.
Filipe Jacinto Nyusi, FJN: Muito obrigado. Em representação dos seus colegas queremos agradecer.
ON: Presidente, acaba de sair do Conselho de Segurança que esteve a liderar. Para um país com desafios econômicos, do clima e de vária ordem na frente de um órgão proeminente para questões da paz e segurança. Que diferença é que fez esta presença neste mês?
FJN: A primeira é a presidência efetiva ou presencial. Nesse aspecto, nós quando fomos eleitos para membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas olhamos para o mundo: para a África, para a nossa região e para o nosso próprio país.
Os desafios são enormes, mas quando se trata desses casos é preciso focalizar as matérias para evitar que nos espalhemos e que não resolvamos nada. Então, foi diferente estar aqui.
Quero agradecer às audiências em todos os momentos que tivemos: no primeiro painel, no segundo, incluindo hoje: a presença em nível de estadistas, em nível de secretários de diferentes áreas e de todos os países que estavam aqui conosco a apoiar. Sentimo-nos como um país que pode dar sua contribuição para a matéria que nós escolhemos. Neste caso, como viu, o comportamento dos três dias foram em torno de paz, foram em torno de não guerra, do combate ao terrorismo e, sobretudo, a paz.
ON: E mesmo em relação ao antiterrorismo. Como é que está Moçambique? Que passos ainda tem por dar nessa questão e o que sentiu da comunidade internacional?
FJN: Senti muita solidariedade da comunidade internacional. E que também acolheu a informação que nós demos: a maneira como estamos a combater é um caso de estudo que pode ser visto.
Em Moçambique, nós estamos a combater o terrorismo de duas formas ou três formas: como moçambicanos, as Forças de Defesa e Segurança apoiadas pela força local maioritariamente os veteranos. Mas estamos também a ser apoiados, a partir de 2021, quando foram as tropas de Ruanda em número significativo. Isso é de forma bilateral. E já com a Samim. É a Sadc que se organizou com apoio e se empenham com a força no terreno.
Em 2021 estava uma situação muito forte. Eles estavam ocupando algumas vilas ao nível da província de Cabo Delgado. Mas, neste momento em que estamos a falar, todas as vidas foram recuperadas.
Não existe uma base fixa do terrorista como no passado tiveram na zona de Kathupa, Siri 1 ou 2. Estão agora a combater o atuar de forma dispersa e com alguma calma. O mais importante é que as comunidades e as populações estão a retornar às suas terras de origem, como por exemplo Palma, Quissanga, Macomia, Muidumbe e Mocímboa da Praia.
ON: Falou da cooperação com Ruanda, um país africano. Existem nações com os quais Moçambique tem afinidade, nomeadamente os lusófonos. Está com o Brasil no Conselho de Segurança. Existe algum certo para tratar de temas de preocupação nacional como este?
FJN: Existem acordos de cooperação, mesmo antes de surgimento do terrorismo em Moçambique, em 2017. Esses acordos prevalecem, em nível da defesa e segurança, e têm a sua contribuição indireta, porque daqueles após o que são feitos com Portugal em treinamentos, apoio de formação nas escolas, nas universidades e nas academias. Isso funciona.
Portugal ainda entra com alguma força, porque faz parte da União Europeia. A União Europeia está empenhada na formação, na preparação e no apoio com material não letal. Quem está a liderar o processo de treinamento militar ainda é Portugal.
Existe além da solidariedade, não só com Portugal e o Brasil, mas também com Angola. Angola é um membro da Sadc que está empenhado com a contribuição financeira para apoiar as Forças da Sadc e não só. Com algum efetivo no terreno para apoio à área de comando.
ON: E é desejável ter o apoio destes países de língua portuguesa para combater problemas como o terrorismo?
FJN: Seria importante, mas o problema é que nem em todo momento o apoio é pronto nessas condições. Devem ter vivido, na altura quando toda a gente pressionava que Moçambique tinha que pedir apoio. Tínhamos que nos organizar, porque os apoios os pedidos e ofertas eram inúmeras vindas de todo o mundo e organizações.
Um país para ser apoiado precisa de saber que precisa, o tipo de apoio e como tem que ser. Senão depois vira uma confusão e uma salada. Neste caso concreto é bem-vindo o apoio de diferentes formas. Temos estado em contacto com esses países todos para explicar as nossas necessidades e como pode ser dado.
Grandes partes dos apoios são canalizados de forma monetária, porque nós tivemos deslocados de guerra e continuamos a ter ainda. São muitas famílias. Então, agora estamos a precisar saber dos apoios para reconstrução. Muitas famílias então agora estão a precisar de apoio para reconstrução e acredito que através dessas vias, esses apoios virão.
ON: Presidente, no centro destas crises estão jovens em Moçambique. Pelas imagens que tivemos ultimamente, parece que eles não estão muito satisfeitos. Tem alguma mensagem para os jovens, depois da sua presença aqui no Conselho de Segurança onde falou do papel deles para a reconciliação e para a paz, o que jovens têm a ouvir de si como líder da nação para os levar ao futuro?
FJN: Todos os processos de Moçambique são liderados pela juventude desde o passado. É a força motriz e a razão da existência de Moçambique. Os jovens estão a participar nos projetos de reconstrução. Estamos agora a priorizar. Criamos uma Secretaria de Estado exatamente para olhar para a juventude, para suas preocupações e para que esses jovens façam parte da solução.
O jovem é livre e agora. Fala. No passado se calhar não tivesse essa mesma facilidade de falar como agora. E como me sugere a palavra de conforto é que estamos com os jovens. Tivemos agora uma situação das imagens que mencionou, onde eu já apareci a explicar o que tem que fazer, qual o papel do polícia e o cidadão qual é sua responsabilidade perante a necessidade de se poder manifestar. Esperamos que essas questões serão corrigidas, daquilo que está malfeito depois de uma averiguação que está a ser feita a nível das forças de segurança. Mas cabe-me aqui encorajar a juventude a sentir-se dona da pátria, de Moçambique e dos destinos de Moçambique.
Esses destinos devem continuar a ser feitos com empenho, com amor, com carinho, com patriotismo e todos os problemas que surgirem em Moçambique, o jovem tem que saber que faz parte da solução. Vamos dar espaço cada vez mais.
ON: A última questão é com respeito à inclusão na governação. Com respeito à mulher, vê uma mulher ocupando este seu lugar em breve em Moçambique.
FJN: Essas perguntas em Moçambique não se fazem desta forma. Esse lugar ocupa quem deve ocupar naquela altura por opção do povo e pelas competências que o povo achar. Nós, em Moçambique, não temos o problema de “mulher ou não mulher”. As mulheres têm espaço mesmo e por mérito próprio.
A mulher que é presidente da Assembleia da República não foi preciso uma reunião, nem sequer uma concertação. A mulher que é presidente do Conselho Constitucional é uma pessoa que está dentro daquela casa e que a conhece. A presidente do Tribunal Administrativo, que é mulher, a procuradora, idem. A Autoridade Tributária também é mulher. Portanto pode ver que grande parte ou algumas bancadas já foram chefiadas por mulheres. Então não é um problema que se faz arranjos, que é preciso uma espécie de xadrez. A competência quando surge as coisas aparecem.
Eu acredito que Moçambique está nessa fase muito avançada. As mulheres estão no meu governo. São mulheres que entram, não porque temos que preencher o número. Elas estão aí precisamente porque nós desenhamos primeiro o perfil de quem pode ser, e aparece homem ou mulher. Muitas mulheres ganham e ficam assim.
ON: Em quanto tempo vê uma mulher num cargo como o seu?
FJN: Não sabia em quanto tempo eu viria a ser presidente. Não sei se devo responder a essa pergunta, senão estaria a manipular a opinião ou a realidade de como o país se governa.
ON: Algum acréscimo para concluir a nossa conversa, presidente?
FJN: Agradecer o trabalho. Nós tivemos três dias muito intensos. No primeiro, presidimos o tema principal: o antiterrorismo e a questão do extremismo violento e formas de o combater de forma multilateral, tendo em conta as regiões.
Trabalhamos com a Comissão de Consolidação de Paz. Foi um diálogo muito participativo, no qual os países colocaram as opiniões, suas participações e situaram sobre os países. Agora, continua a questão de como silenciar armas em África.
Nós quisemos estar presentes e vender o que Moçambique e a África estão a fazer nessas matérias concretas. Ficamos honrados e compensados pela audiência que estivemos e continuamos e continuamos a ter em todos os momentos. Deixar o nosso compromisso: com país continuaremos a dar a nossa contribuição para pacíficos do mundo. Há muitos problemas, incluindo questões climáticas. Poderíamos ter falado deles aqui, mas incluídos esqueçam podemos ter falado aqui, mas para não nos espalharmos escolhemos o foco na paz ao nível do continente.