MAPUTO, Moçambique - O secretário-geral da ONU, António Guterres, esteve no Conselho de Segurança nesta quinta-feira (23), para alertar os países membros do órgão sobre a escassez de tempo para reverter os impactos climáticos e evitar uma crise. Para o chefe das Nações Unidas, a “nossa janela de oportunidade” para prevenir os piores impactos climáticos está se “fechando rapidamente”.
Chamando a atenção para o relatório “profundamente alarmante” do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgado no mês passado, Guterres esclareceu que “é necessária uma ação climática muito mais ousada” para manter a paz e a segurança internacionais. Ele convocou as nações industrializadas do G20 a intensificarem e conduzirem ações de contenção antes da Conferência do Clima da ONU (COP26), marcada para o início de novembro.
Multiplicadores de risco
Num cenário de incêndios florestais, inundações, secas e outros eventos climáticos extremos, o chefe da ONU disse que “nenhuma região está imune” e destacou que a crise climática é “particularmente profunda” em situações onde existe o agravamento por conflitos.
Descrevendo a mudança climática e a má gestão ambiental como “multiplicadores de risco”, ele explicou que, no ano passado, desastres relacionados ao clima deslocaram mais de 30 milhões de pessoas e que 90% dos refugiados vêm de países menos capazes de se adaptar à crise climática.
Muitos desses refugiados são hospedados por Estados que também sofrem os impactos das mudanças climáticas, "agravando o desafio para as comunidades anfitriãs e os orçamentos nacionais", disse Guterres aos embaixadores, acrescentando que a pandemia de COVID-19 também está minando a capacidade dos governos de responder aos desastres climáticos e construir resiliência.
Ações prioritárias
Sustentando que “não é tarde para agir”, o secretário-geral da ONU destacou três “prioridades absolutas”, começando com um limite máximo para o aquecimento global de 1,5 °C.
Para evitar impactos climáticos catastróficos, ele instou todos os Estados-membros a tornarem mais ambiciosas, ainda antes da COP26, suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — compromisso por meio dos quais os países se comprometem com as ações climáticas. Guterres também pediu que os países traduzam esses planos em “ações concretas e imediatas”.
“Coletivamente, precisamos de um corte de 45% nas emissões globais até 2030”, disse ele.
A “metade” esquecida
Para lidar com os terríveis impactos da crise climática, Guterres enfatizou a necessidade de adaptação e resiliência, valores que ele afirmou representarem pelo menos metade do esforço climático global para apoiar as transições.
“Simplesmente não podemos alcançar nossos objetivos climáticos compartilhados - nem alcançar a esperança de paz e segurança duradouras - se a resiliência e a adaptação continuarem a ser a metade esquecida da equação climática”, disse ele.
Reforço mútuo
A adaptação ao clima e a construção da paz “podem e devem reforçar-se mutuamente”, disse ele, destacando os projetos transfronteiriços na África Ocidental e Central que “permitiram o diálogo e promoveram uma gestão mais transparente dos escassos recursos naturais”.
Observando que “mulheres e meninas enfrentam riscos duplos diante de mudanças climáticas e conflitos”, Guterres também ressaltou a importância da participação feminina e de “liderança significativas” a fim de trazer “resultados sustentáveis que beneficiem mais pessoas”.
O secretário-geral explicou que a ONU está integrando em um único eixo os riscos climáticos, prevenção de conflitos, iniciativas de construção da paz e análises políticas.
“O Mecanismo de Segurança Climática está apoiando missões de campo, equipes nacionais e organizações regionais e sub-regionais ... [e] o trabalho está ganhando força em países e regiões onde o Conselho de Segurança reconheceu que as mudanças climáticas e ecológicas estão minando a estabilidade”, disse ele.
Missões de paz
Reconhecendo que 80% das emissões de carbono da ONU são oriundas das seis maiores operações de manutenção da paz da organização, Guterres disse que a é necessário melhorar.
Ele assegurou que a ONU está trabalhando em novas abordagens que permitirão alterar o fornecimento de energia para fonte renováveis, que continuarão “além do tempo de vida de nossas missões”.
“Todos nós fazemos parte da solução. Vamos todos trabalhar juntos para mitigar e nos adaptar às mudanças climáticas para construir sociedades pacíficas e resilientes ”, concluiu o secretário-geral.
Tempo de agir
Presidindo a reunião, o primeiro-ministro da Irlanda, Micheál Martin, ressaltou a importância do órgão composto por 15 Estados-membros assumir um papel de protagonismo na avaliação e mitigação do clima, inclusive por meio de operações e mandatos de manutenção da paz. “As pessoas afetadas por conflitos causados pelas mudanças climáticas dependem da liderança deste Conselho”, disse ele. “Agora é o momento de agir”.