Legenda: A preservação de grãos com sacos herméticos está ajudando a proteger a segurança alimentar e a geração de renda dos pequenos agricultores em Moçambique.
Algo tão simples como um saco de vácuo para armazenar grãos está a garantir a subsistência de agricultores em Moçambique.
MAPUTO, Moçambique - Na primeira vez que o agricultor Francisco Tongadza abriu seus sacos herméticos de sorgo armazenados seis meses antes não acreditou no que viu. “Os grãos estavam como novos”, disse o chefe de uma família de 18 pessoas - das quais 16 são crianças e adolescentes em idade escolar.
Francisco conta com sua produção de sorgo para alimentar a família e vende o excedente no mercado local. Com o que ganha, Francisco consegue comprar uma variedade maior de alimentos e outros produtos para a família.
Ao longo de anos de trabalho no campo, Francisco costumava perder metade do sorgo que cultivava por causa da má conservação.
Desde o ano passado, ele participa dos treinamentos para evitar perdas pós-colheita do Programa Mundial para a Alimentação das Nações Unidas (PMA). Com uma tecnologia tão simples como o saco de vácuo, Francisco consegue conservar o seu sorgo durante meses e vendê-lo a um preço melhor no mercado.
Legenda: Os pequenos agricultores são geralmente mulheres em Moçambique.
Para garantir a fome zero, é necessário melhorar o sistema alimentar por completo do “campo à mesa”, cuidando da produção, armazenamento, acesso aos mercados e consumo de alimentos mais nutritivos.
Setenta por cento dos moçambicanos vivem em áreas rurais e dependem da agricultura para sobreviver. De acordo com o Banco Mundial, a cada 10 quilos de alimentos colhidos nos campos de Moçambique, 3 quilos são perdidos por problemas no processamento, transporte e armazenamento.
Perdas pós-colheita tão altas são um desastre para as famílias de pequenos agricultores, eles correm um risco sério de passar fome.
Estima-se que as perdas sejam ainda maiores na província de Tete onde metade dos alimentos colhidos perde-se, revelou um inquérito recente do PMA.
Mais de 30 por cento das perdas ocorrem poucas semanas após a colheita devido ao manuseio inadequado e ao armazenamento doméstico ineficaz, que aumenta o risco de contaminações e intoxicação alimentar.
Para reverter esta realidade, o PMA implementou o projeto Zero Perdas Pós-Colheita em seis distritos da província de Tete, promovendo o uso de sacos herméticos, que são sacos para armazenar alimentos onde o ar externo não entra, o que evita que os grãos estraguem.
O projeto Zero Perdas Pós-Colheita também fomentou a integração do mercado ao ligar agricultores, agro-processadores e escolas para o fornecimento de alimentos produzidos localmente.
“No ano passado, guardei quatro sacos herméticos de 20 quilos cada um cheios de sorgo. Eu os vendi seis meses depois por um preço muito mais alto do que após a colheita ”, diz Francisco.
Legenda: Francisco Tongadza e seus 70 sacos herméticos que garantem renda para alimentar sua família de 18 pessoas.
Ele recebeu três sacos herméticas do PMA durante os treinamentos e depois comprou mais sacos que foram disponibilizados nos mercados locais a um preço acessível .
Os sacos estão a permitir que Francisco vislumbre uma melhora em sua renda. Nesta temporada, ele mantém 70 sacos herméticos de 50 quilos de sorgo, e espera vender seu produto quando o preço for mais alto.
“Este ano vou lucrar ainda mais. Com esse dinheiro vou terminar o telhado da minha casa e matricular todos os meus 16 filhos na escola”, afirma Francisco.
Sua produtividade continua igual no campo, mas metade de seu sorgo não se estraga mais.
Lucrecia Tomas de 56 anos cultiva maçaroca, amendoim, soja e feijão em seu pequeno terreno de 3 hectares. Antes, a produção era destinada ao consumo imediato de seus 8 familiares e à venda imediata no mercado local afectando, assim,a capacidade das comunidades de se tornarem autosufissientes em longo prazo.
Ao aderir ao projeto de perdas pós-colheita, Lucrecia aprendeu a usar os sacos herméticos e conseguiu poupar sua produção de grãos para ser consumida no futuro e vendida depois a um preço melhor em comparação com os preços da época da colheita. Ela também comprou alguns sacos extras.
“Foi um investimento lucrativo. O milho parece ter ficado apenas uma semana guardado, não seis meses ”, conta a agricultora.
Legenda: Lucrecia Tomas contsa como está satisfeita com a qualidade dos grãos armazenados nos sacos herméticos.
Lucrécia está alíviada com a nova opção de armazenamento. Com os sacos herméticos, ela não precisa mais usar produtos químicos para conservar seus grãos. “Costumava tossir muito e tinha problemas respiratórios com os produtos. Também precisávamos mergulhar os grãos na água para poder cozinhar. Agora é mais saudável ”, explica Lucrécia.
Lucrécia e os outros participantes de sua associação de agricultores aprenderam a medir a humidade de seus grãos guardados usando um outro objeto simples: uma garrafa de vidro. Com a comida durando mais, os agricultores também aprenderam técnicas culinárias para ter na mesa pratos mais nutritivos o ano todo. O projeto conseguiu reduzir as perdas dos agricultores participantes em Tete de 50 por cento para menos de 9 por cento.
O projeto Zero Perdas Pós-colheita financiado pela Cartier Philanthropy treinou mais de 20 mil agricultores e 65 extensionistas do governo e beneficiou mais de 8 mil crianças com o fornecimento de alimentação escolar cultivada localmente.
Em 2021, o PMA irá implementar a segunda fase deste projeto com o objetivo de alcançar mais agricultores e estabelecer um sistema de produção sustentável garantindo a disponibilidade de sacos herméticos em todo o país, envolvendo os setores público e privado.