Legenda: 380 pessoas foram transportadas de forma emergencial pelo Serviço Aéreo Humanitário das Nações Unidas (UNHAS em sua sigla em inglês) administrado pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) após os ataques a Palma.
A jornada de uma mãe e seus filhos em busca de segurança em Cabo Delgado
Pemba, Moçambique - Pela manhã, Isabel* escutou alguns rumores de que bandidos estavam próximos à vila de Palma. Mas ela pensou que fosse brincadeira das pessoas – uma brincadeira triste que tornou-se comum na vida de mais de 700.000 mil pessoas deslocadas internamente desde 2017 quando iniciaram os primeiros ataques de grupos armados não estatais no norte de Moçambique.
Isabel só acreditou que os rumores eram reais quando escutou os tiros ao meio-dia. Era dia 24 de março em Palma. “Eu saí correndo do meu terreno onde estava a trabalhar com meu marido”, lembra Isabel.
“Nem conseguimos entrar em casa, nós seguimos a multidão em fuga. Mal chegamos ao mar, começamos a ver o incêndio e a escutar o barulho de armas pesadas, eram 14 horas”.
Isabel e a multidão entraram no mar. “Cruzamos o mar caminhando até às 21 horas. Deus é pai porque o mar estava meio seco – a água só chegou ao nosso peito”, diz Isabel. O grupo conseguiu atravessar o mar para a margem oposta.
“Mas os bandidos nos seguiram com armas, nos rodearam e começaram a atirar, tivemos que fugir para o mato porque o mar estava fundo já”.
O grupo se espalhou pelo mato e teve que dormir escondido.
No dia seguinte, Isabel e um grupo de pessoas continuaram a caminhada até a base do projeto de gás natural em Afungi.
“Tinham muitas pessoas, vimos que era perigoso ficar na multidão porque os bandidos poderiam estar misturados connosco. Formamos um grupo menor com alguns trabalhadores de empresas locais e pedimos ajuda na porta do projeto”, diz Isabel.
“Conferiram nossa identidade e nos deixaram entrar. Ficamos até sexta feira no pátio”, lembra.
“Teve um voo do PMA, selecionaram algumas pessoas para ir junto, tive sorte, fui selecionada”, diz Isabel emocionada.
Legenda: Pessoas formam fila para embarcar em voo do Serviço Aéreo Humanitário das Nações Unidas administrado pelo PMA após ataques em Palma, Cabo Delgado, em março de 2021.
Isabel foi uma das 380 pessoas transportadas de forma emergencial pelo Serviço Aéreo Humanitário das Nações Unidas (UNHAS em sua sigla em inglês) administrado pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) após os ataques a Palma.
O UNHAS apoiou excepcionalmente o transporte de emergência de civis que escaparam da violência em Palma para Pemba, incluindo mulheres e crianças e pessoas feridas ou doentes. Entre os dias 24 e 31 de março, o UNHAS evacuou um total de 380 pessoas mais vulneráveis.
Os voos de transporte emergencial de civis foram um trabalho extraordinário do PMA para ajudar as pessoas que mais necessitavam fugir dos ataques seguindo os princípios humanitários e o imperativo “human rights up front”, que garante que as abordagens dos direitos humanos para a prevenção de atrocidades e graves violações dos direitos sejam parte integrante do trabalho da ONU em qualquer país.
O mandato da UNHAS é fornecer acesso para trabalhadores humanitários e carga a locais remotos. O UNHAS continuou o transporte de trabalhadores humanitários e carga humanitária essencial para outras operações do PMA na Província de Cabo Delgado.
Ao todo, cerca de 30.000 pessoas fugiram da vila costeira de Palma desde que ela foi atacada por grupos armados não estatais em 24 de março.
Isabel e seus dois filhos chegaram em segurança a Pemba dois dias depois do início dos ataques.
“Em Pemba tive que pedir dinheiro emprestado porque perdi tudo ao fugir e meus documentos caíram no mar”, conta Isabel.
Embora agora ela esteja segura na casa de seu pai e sua madrasta no Distrito de Montepuez, Isabel ainda não conseguiu relaxar e precisa juntar forças para recomeçar a vida do zero.
“Descansar de que jeito?”.
Legenda: O Serviço Aéreo Humanitários das Nações Unidas, administrado pelo PMA, está à disposição para ajudar a comunidade humanitária a chegar a locais remotos.
Em Dezembro, S.Exa. a Ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Veronica Macamo Dlhovo, e a Coordenadora Residente da ONU e Coordenadora Humanitária para Moçambique, Myrta Kaulard, lançaram o Plano de Resposta Humanitária, solicitando US$ 254 milhões para assistir 1,1 milhões de deslocados internos e comunidades de acolhedoras nas Províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa ao longo de 2021.
“Somos gratos aos doadores internacionais que estão a apoiar a resposta a esta crise. Mas estamos muito preocupados com os deslocados e as famílias acolhedoras”, diz Myrta Kaulard, Coordenadora Residente das Nações Unidas e Coordenadora Humanitária para Moçambique.
“Nos ainda nem chegamos na metade do caminho. As Províncias do Norte estão a acolher mais de 700 mil deslocados internos e nossos estoques estão perto do fim. A menos que recebamos novas doações não seremos capazes de continuar essa assistência tão necessária” - Myrta Kaulard, Coordenadora Residente das Nações Unidas e Coordenadora Humanitária para Moçambique.
Segurança Alimentar e Nutricional
Em resposta aos ataques a Palma, o Programa Mundial de Alimentos da ONU está a fornecer desde as primeiras 24 horas assistência alimentar de emergência aos deslocados pela violência em centros de acomodação temporária como Isabel.
A assistência incluiu biscoitos energéticos e uma cesta alimentar de resposta imediata para consumo rápido com arroz, óleo vegetal, alimentos enlatados como sardinha e feijão e pacotes de biscoito.
Legenda: Família receve assistência alimentar do PMA na Província de Cabo Delgado.
Em resposta à crise de deslocados internos, o PMA prestou assistência alimentar a 545.000 pessoas deslocadas no Norte de Moçambique em Março.
No entanto, a crescente insegurança em Cabo Delgado está a aumentar o número de famílias forçadas a abandonar suas casas para salvarem suas vidas.
Para atender ao aumento de famílias deslocadas e acolhedoras nas Províncias de Cabo Delgado, Nampula, Niassa e Zambézia, o PMA precisa mobilizar US$ 121 milhões até dezembro de 2021.
Se novos fundos não forem mobilizados, a assistência alimentar que salva vidas prestada pelo PMA poderá ser reduzida ou até mesmo interrompida. Os programas do PMA incluem assistência alimentar essencial, nutrição, recuperação dos meios de susbsistência e as operações de transporte humanitário do UNHAS.