"A pior parte foi ouvir os disparos e gritos e pensar – serei o próximo?"
06 abril 2021
Programa Mundial para a Alimentação prepara assistência de emergência para mais de 50.000 pessoas que fogem de ataques na Província de Cabo Delgado.
Pemba, Moçambique - Quarta-feira 24 de Março estava um dia ensolarado na vila de Palma no Norte de Mocambique. Crianças jogavam futebol com uma lata de refresco. Embora tudo parecesse habitual, as pessoas conseguiam sentir que a atmosfera não era normal. Rumores se espalharam rapidamente de que a pacata cidade seria atacada.
“Eu estava em casa, eram cerca das dezasseis horas”, conta Maria, mãe de duas crianças, que encontrou abrigo com sua família em um centro temporário de acomodação em Pemba — depois de aguentar 24 horas de viagem de barco ao longo da costa de 400 km de Palma.
“Ouvi disparos de longe, seguidos de gritos. Corri de volta ao quintal, carreguei minhas duas crianças, e fugi para o mato”, continua Maria.
O Programa Mundial para a Alimentação (PMA) tem trabalhado de forma estreita com as autoridades locais e tanto com deslocados internos como com comunidades acolhedoras, com o escalar da insegurança no norte de Mocambique. Ataques continuados por grupos armados não estatais ja forçaram o deslocamento de mais de 668.000 pessoas, 80.000 das quais — nos distritos inseguros de Nangade e Macomia, e na cidade portuária de Mocímboa da Praia — estão actualmente privadas de assistência humanitária.
O ataque a Palma no mês passado deixou mais de 50.000 pessoas, que fugiram, necessitadas de assistência humanitária urgente. O PMA estima que mais de 23.000 pessoas foram deixadas para trás.
“Esta é uma catástrofe humanitária além de proporções épicas”, disse Antonella D’Aprile, Representante Residente e Directora Nacional do PMA em Moçambique.
“Pessoas a fugirem de Palma estão completamente traumatizadas pela violência que testemunharam nos últimos dias, e agora, mais do que nunca, elas precisam da nossa ajuda. Nossa prioridade é salvar vidas e assegurar que a assistência de emergência chegue àqueles que mais dela precisam”, afirma Antonella D'Aprile.
UNHAS evacua centenas
Em resposta aos ataques a Palma, o PMA fornece assistência alimentar de emergência que inclui biscoitos fortificados e de elavado teor energético e cestas alimentares de arroz, feijões secos e lentilhas, óleo vegetal, comida enlatada como sardinhas e feijões, e água para as pessoas que chegaram por via aérea, marítima ou mesmo percorrendo intermináveis quilómetros a pé.
O Serviço Aéreo Humanitário das Nações Unidas (UNHAS), administrado pelo PMA, evacuou 380 civis em necessidade — mulheres, crianças e pessoas feridas — que foram ligandos a serviços de urgência.
No entanto, por questões de segurança, o PMA foi forçado a suspender temporariamente os voos de Afungi para Pemba. O UNHAS continuará a prestar apoio a outras operações do PMA no norte de Moçambique.
Apesar dos desafios logísticos e de segurança, o PMA planeja assistir 750.000 pessoas deslocadas pela violência que começou em 2017, bem como membros vulneráveis das comunidades acolhedoras nas Províncias de Cabo Delgado, Nampula, Niassa e Zambézia nos próximos meses.
O PMA requer US$ 10,5 milhões por mês para fornecer assistência, e US $ 98 milhões são necessários para garantir assistência ininterrupta pelos próximos 12 meses.
A arena esportiva no centro de Pemba está lotada de famílias. Eles têm cestas alimentares de emergência e comida quente - neste dia, uma ração de frango com arroz e uma banana.
As operações que salvam vidas do PMA no norte de Moçambique são apoiadas por generosas doações recebidas do Canadá, França, União Europeia, Irlanda, Japão, Noruega, República da Coreia, Suécia, Reino Unido e USAID.