Governo e Nações Unidas marcam os Dois Anos da Passagem do Ciclone Idai pelo País
Cerimônia conjunta assinala os dois anos da passagem do ciclone Idai por Sofala. Mais de 600 pessoas perderam suas vidas e 1,8 milhão foram afetadas.
Beira, Moçambique - Em 2019, os ciclones Idai e Kenneth atingiram Moçambique em março e abril, a primeira vez que o país sofreu dois ciclones devastadores na mesma temporada, num período de apenas seis semanas. O ciclone Idai deixou mais de 600 mortos e juntos os ciclones Idai e Kenneth afetaram cerca de 1,8 milhão de pessoas e deslocaram 400.000 pessoas.
Para assinalar o aniversário da passagem do ciclone Idai pelo país assim como honrar e lembrar as suas vítimas, o Governo de Moçambique e as Nações Unidas se uniram na Cidade da Beira, a mais afetada pelo ciclone, neste 15 de março, em cerimônia e mesa redonda para discutir os avanços nos esforços de reconstrução e recuperação dos meios de susbsistência.
Estiveram presentes na cerimônia e participaram da mesa redonda a S.Exa. Stella da Graça Pinto Novo Zeca, Secretária de Estado para a Província de Sofala, S.Exa. Lourenço Bulha, Governador da Província de Sofala, o Ilustre Administrador do Distrito da Beira, João Ubisse Oliveira, o Vereador José Manuel em Representação do Presidente do Conselho Autárquico da Cidade da Beira, Francisco Pereira, Director Executivo do Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclones (GREPOC) e a Coordenadora Residente e Coordenadora Humanitária para Moçambique, Myrta Kaulard. O evento contou também com a presença de outros membros do governo, de Entidades das Nações Unidas e de organizações da sociedade civil.
Cerimônia
Durante a cerimônia, homenagem foi prestada a todas e a todos que perderam as suas vidas e foram afetados pelo ciclone Idai há dois anos bem como ao Presidente do Conselho Autárquico da Beira, Engenheiro Daviz Simango, que faleceu recentemente.
A S.Exa. Stella da Graça frisou que a caminhada para a reconstrução da Cidade da Beira ainda é longa, contudo passos rumo à resiliência e à superação das vulnerabilidades estão sendo dados. Ainda assim, a Secretária de Estado faz um balanço positivo em termos de acções de mitigação dos efeitos do ciclone, com destaque para o reassentamento das populações que perderam suas casas e bens. Ao todo, 93.392 pessoas foram relocadas para novos assentamentos criados pelo governo em áreas mais seguras.
“A mensagem é clara, a resiliência deve estar no centro de tudo o que fazemos”, S.Exa. Stella da Graça Pinto Novo Zeca, Secretária de Estado para a Província de Sofala.
Dirigindo aos presentes, S.Exa. Lourenço Bulha, Governador de Província de Sofala partilhou as actividades do governo e dos apoios de parceiros de cooperação no âmbito da reconstrução pós-ciclone e o processo em curso.
O Chefe do Conselho Executivo Provincial de Sofala convidou aos parceiros de cooperação para continuar a apoiar na reconstrução pós ciclone e reiterou para a observância rigorosa, de novos padrões de construção resilientes de modo que as populações possam viver com total autossuficiência.
Myrta Kaulard, Coordenadora Residente das Nações Unidas e Coordenadora Humanitária para Moçambique, começou sua intervenção mostrando aos presentes a mensagem de vídeo gravada pelo Secretário-Geral da ONU, António Guterres, para assinalar a data.
Como o Secretário-Geral, a Chefe da ONU Moçambique fez menção a tripla ameaça que Moçambique sofre com os eventos climáticos extremos, a COVID-19 e a insegurança, lembrando a recente tempestade tropical Chalane e o ciclone Eloíse que fustigaram a Província de Sofala em 2021.
"A violência de cada choque climático e a sua frequência está a aumentar a fragilidade e vulnerabilidade da população, das infraestruturas e do país como um todo de maneira a retardar a desafiar a possibilidade de reconstruir-se melhor e reconstruir para durar;
É urgente investir em resiliência climática em Moçambique", Myrta Kaulard.
Myrta Kaulard mencionou o início da vacinação contra a COVID-19 como uma luz no fim do túnel e lembrou a necessidade de reconhecer que não voltaremos a vida de antes e que devemos continuar a respeitar as medidas de prevenção. “Por isso, há também a necessidade de investimento contínuo na resiliência a choques de saúde”, afirmou.
Sobre a insegurança, Myrta afirmou que o deslocamento em massa está a tornar comunidades inteiras mais vulneráveis e a desafiar os recursos das pessoas e do país.
Por fim, a Coordenadora Residente da ONU e Coordenadora Humanitária para Moçambique frisou que as mulheres e raparigas são as mais afetadas em cada uma das três ameaças mencionados pelo Secretário-Geral: insegurança, mudanças climáticas e COVID-19.
“Mulheres e raparigas também são as que menos são ouvidas e as que menos participam nas soluções que elas precisam para que possam ser protegidas dessas ameaças e possam tornar-se resilientes”, Myrta Kaulard.
As mulheres estão também extremamente vulneráveis ao abuso e a exploração sexual na prestação de assistência humanitária.
"Estou muito feliz que a Rede para a Proteção contra o Abuso e a Exploração foi estabelecido na Província de Sofala durante a resposta ao ciclone Idai e que, agora, baseado na experiência da Província, uma rede similar está sendo estabelecido em Cabo Delgado", Myrta Kaulard.
Engenheiro Francisco Pereira, Diretor Executivo do GREPOC, apelou maior celeridade dos parceiros no desembolso dos valores para continuar a apoiar no Programa de Reconstrução Pós-Ciclone e reiterou para a observância rigorosa, de novos padrões de construção resilientes de modo que as populações possam viver com total resguardo.
O Presidente do Conselho Autárquico da Beira, S.Exa. Albano Carige, defendeu a consciencialização conjunta sobre a cultura de superação e adaptação aos fenômenos naturais.
Carige disse ainda que cada munícipe deve continuar com ações de reconstrução das suas habitações como foram de tornar a cidade cada vez resiliente às mudanças climáticas.
Por fim, a S.Exa. Secretária de Estado para a Província de Sofala, Stella da Graça, agradeceu o apoio da comunidade internacional, da comunidade humanitária, das Nações Unidas e da sociedade civil para que a resiliência seja adotada por todas e todos. Para ela, “mostramos a todo o mundo que somos capazes de passar por qualquer adversidade quando trabalhos juntos”.
Choques climáticos
Assim como acontecera no Ciclone Idai, a passagem do ciclone tropical Eloise na noite de 23 de Janeiro de 2021 e anteriormente, a tempestade tropical Chalane em 30 de Dezembro de 2020 afetaram profundamente as Províncias de Sofala, em particular a área do Buzi, Manica, parte sul da Zambézia, Inhambane e Gaza no meio da pandemia da COVID-19.
Dessas províncias, Sofala foi a que sofreu o maior impacto, relatando danos significativos e milhares de pessoas afetadas. De acordo com o Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres, 441.686 pessoas foram afetadas e mais de 56.000 casas foram severamente danificadas ou destruídas. No total, 43.327 pessoas foram deslocadas, enquanto 34.566 pessoas foram evacuadas.
A recorrência desses choques climáticos em ciclos mais curtos comparado com o tempo necessário para reconstrui melhor desafia os esforços para reduzir a vulnerabilidade, recuperar, build back better (reconstruir melhor), build to last (construir para durar) e vulnerabilidades acumuladas.
Há necessidade urgente de investimentos renovados e intensificados na resiliência climática na Província de Sofala.