“Minha grande satisfação foi ver as famílias se reerguerem”
No segundo aniversário do ciclone Idai, o PMA ajuda na conquista da resiliência das comunidades.
Maputo, Moçambique - Há dois anos, Abel Júlio Cossa vivia a experiência mais forte de sua vida. Abel fora convocado às pressas para trabalhar na Província de Sofala em antecipação ao ciclone tropical Idai, previsto para atingir a cidade da Beira no dia 14 de Março de 2019. Ele estava na linha de frente a distribuir a assistência alimentar pelo Programa Mundial para Alimentação (PMA), que apoiou 1,8 milhão de pessoas com alimentos na fase de emergência e reconstrução.
“O PMA, prevendo a destruição causada pelo ciclone que estava a chegar, nos contratou para estarmos de prontidão e iniciar a assistência alimentar às pessoas afetadas na primeira hora”, recorda Abel.
“Estive um mês na cidade da Beira a distribuir farinha de milho e soja nos centros de acolhimento para as pessoas desalojadas", continua.
O Idai devastou quatro províncias e 50 distritos de Moçambique, impactou directamente a vida de 1,85 milhão de pessoas, destruiu casas e inundou 700.000 hectares de plantações.
O Banco Mundial estima que a perda económica pode ter atingido os US$ 258 milhões. Nas primeiras seis semanas após o Idai, o PMA conseguiu mobilizar recursos para apoiar 1,3 milhão de pessoas e alcançou os 1,8 milhão nos meses seguintes nas quatro províncias afectadas.
No primeiro mês de assistência emergencial, Abel subiu num helicóptero pela primeira vez na vida e começou a fazer viagens diárias de helicóptero do aeroporto da cidade da Beira para levar alimentos aos distritos que estavam completamente isolados depois da passagem do ciclone Idai.
“No começo eu tive medo, mas depois de 30 dias a voar todos os dias eu até me acostumei”, conta Abel.
“A assistência do PMA me marcou muito porque pela via aérea nós conseguimos alcançar pessoas nas vilas que não tinham mais nada. Foi um desafio porque as pessoas, no desespero da fome, não querem e nem podem esperar”, relembra.
Depois da fase de emergência aguda, Abel foi trabalhar no Distrito de Nhamatanda prestando assistência alimentar na fase de reconstrução pós-ciclone. Apenas nesse distrito, o PMA assistiu 60 mil famílias afectadas com um cabaz básico de alimentos.
“A minha grande satisfação foi ver as famílias se reerguerem de novo. A assistência alimentar do PMA permitiu que as pessoas pudessem trabalhar para reconstruir suas casas e machambas destruídas pelo ciclone”, diz Abel.
“As pessoas diziam que a comida do PMA permitia que elas trabalhassem para comprar chapas de metal e reconstruir suas casas”.
“No início, quando comecei a trabalhar aqui eu quase chorava ao ver pessoas a viver na rua porque perderam tudo. Hoje é uma satisfação entrar nas comunidades apoiadas em Nhamatanda e ver que as casas estão reconstruídas e a vida está quase a voltar ao normal”, conta Abel.
Ele está envolvido no programa de construção de resiliência “Food Assistance for Assets”, onde as famílias recebem assistência alimentar para trabalhar em suas machambas ou em recuperação de bens activos de suas comunidades, como pontes, escolas, etc.
“As famílias assistidas conseguiram recuperar suas machambas e já não dependem tanto de assistência alimentar. Junto com os parceiros em campo, nós ensinamos técnicas para que as pessoas produzam mais em menos espaço”.
De Novembro de 2019 a Abril de 2020, o PMA atendeu a 588.135 pessoas na Província de Sofala na fase de reconstrução. De Maio a Outubro de 2020, o PMA continuou a apoiar 54.430 pessoas em 28 centros de reassentamento e mais 45 mil pessoas vulneráveis nas comunidades.
Hoje, o programa atende apenas 1611 famílias em situação de vulnerabilidade no distrito em que Abel trabalha, Nhamatanda.
O número de famílias atendidas nesse distrito diminuiu de 60 mil para 1611 por dois motivos. O primeiro é bom, já que muitas famílias conseguiram se reerguer e conquistar sua independência. O outro motivo nem tanto: os recursos vindos de doações internacionais diminuíram, assim o PMA e parceiros fazem uma selecção das famílias em extrema vulnerabilidade para continuar a receber a assistência.
A assistência para a resiliência é de extrema mais-valia para Moçambique, um dos países mais exposto aos efeitos das mudanças climáticas e entre os dez países com maior risco de desastres.
Por isso, apesar do progresso conquistado pelas famílias assistidas pelo PMA, dois anos após o ciclone Idai, uma nova tempestade tropical chamada Chalane e um novo ciclone chamado Eloíse atingiram a região da Província de Sofala. “Até na minha casa em Nhamatanda o tecto desabou com o Chalane; 660 famílias ficaram desalojadas em Nhamatanda”, conta Abel.
Por isso é tão importante continuar a assistência alimentar durante as emergências e criar programas que apoiem as comunidades na construção de resiliência aos desastres e outros choques, como a Covid-19 e as secas prolongadas.
"A mensagem é de esperança, a assistência alimentar combinada com ajuda para que as pessoas desenvolvam suas vidas funciona. Precisamos continuar”, resume Abel.
Nestes dois anos após o Idai, os programas do PMA que permitiram atender a 1,8 milhão de pessoas afetadas pelo ciclone receberam financiamento de dezenas de doadores do mundo inteiro, são eles: Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, China, Croácia, Dinamarca, União Europeia, Alemanha, Islandia, Irlanda, Japão, Kuwait, Luxemburgo, Malta, Mônaco, Noruega, Portugal, Qatar, Coreia, Rússia, Espanha, Suécia, Suíça, Emirados Árabes Unidos, Reuni Unido, Estados Unidos, UN CERF, Banco Mundial, Big Heart Foundation, Cartier Philanthropy, Dreyfus Foundation, DSM, Ericsson, Global Alliance for Improved Nutrition, Herbalife LTD, International Society of Transport Aircraft Trading Foundation, Japan WFP Friends, Latter Day Saints Church, Michael Kors, Mastercard, Mozambique Rovuma Venture, NGO Canadem, Norwegian Refugee Council, Syngenta, Total Mozambique e Corredor Logístico de Nacala.