Mensagem da Dr.ª Matshidiso Moeti, Directora Regional da OMS para a África, por ocasião do Dia Mundial do Cancro
04 fevereiro 2021
- Mensagem da Dr.ª Matshidiso Moeti, Directora Regional da Organização Mundial da Saúde para a África, por ocasião do Dia Mundial do Cancro.
Brazzaville, República do Congo - Neste 4 de Fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) junta-se à comunidade internacional para comemorar o Dia Mundial do Cancro sob o tema “Eu sou e eu vou”, marcando assim o fim de uma campanha de três anos que tem procurado reduzir o medo em torno do cancro, melhorar a compreensão desta doença e mudar comportamentos e atitudes em relação à mesma.
Nos últimos 20 anos, o número de novos casos de cancro mais do que duplicou na Região Africana, passando de 338 000 casos notificados em 2002 para quase 846 000 casos em 2020. As formas mais comuns são o cancro da mama, o cancro do colo do útero, o cancro da próstata, o cancro do intestino, o cancro do cólon, o cancro do recto e o cancro do fígado. Os factores de risco associados ao cancro incluem a idade avançada e história familiar; o consumo de tabaco e álcool; uma alimentação rica em açúcar, sal e gordura; a falta de actividade física; o excesso de peso; e a exposição a certos produtos químicos, entre outros.
A interferência da indústria, nomeadamente através da promoção e comercialização de produtos cancerígenos (como o tabaco, por exemplo), constitui um desafio cada vez maior. Quarenta e quatro países da Região ratificaram a Convenção-Quadro da OMS para a Luta Antitabágica com vista à redução do tabagismo, e 20 ratificaram o Protocolo da OMS para a Eliminação do Comércio Ilícito de Produtos do Tabaco.
Na maioria dos países africanos, as comunidades têm acesso limitado aos serviços de rastreio, detecção precoce, diagnóstico e tratamento do cancro. Por exemplo, apenas cerca de 30% das crianças africanas diagnosticadas com cancro sobrevivem, em comparação com 80% das crianças em economias de rendimento elevado. Os desafios no acesso a cuidados oncológicos são ainda mais agravados em tempos de crise, como na actual pandemia de COVID-19.
A Região Africana também tem o fardo mais elevado de cancro do colo do útero entre as regiões da OMS. A adopção, em 2020, pela Assembleia Mundial da Saúde, da Estratégia Mundial para acelerar a eliminação do cancro do colo do útero enquanto problema de saúde pública foi portanto de grande relevância para os países africanos. Os primeiros países que implementaram esta estratégia, isto é, o Essuatíni, a Guiné, o Maláui, o Uganda, o Ruanda e a Zâmbia, estão agora a expandir os seus programas de luta contra o cancro do colo do útero.
A introdução da vacina contra o vírus do papiloma humano (HPV) deve ser reforçada para a prevenção do cancro do colo do útero. Até à data, 17 países africanos alargaram a vacinação contra o HPV a todo o território nacional, incluindo o Ruanda e o Zimbabué, que estão ambos a alcançar uma elevada cobertura vacinal a nível nacional graças ao compromisso assumido pelos seus governos e parceiros.
No futuro, o crescente fardo do cancro exercerá pressões adicionais sobre os sistemas de saúde com recursos limitados e sobre os doentes e as suas famílias que deverão suportar custos catastróficos para acederem aos serviços.
À medida que os países procuram atingir a cobertura universal de saúde com o apoio da OMS, a prestação de serviços para o cancro, incluindo os cuidados paliativos, deverá ser integrada em pacotes de prestações e regimes de segurança social. Para reforçar os serviços de oncologia, é necessário o desenvolvimento das capacidades dos profissionais de saúde a nível distrital, juntamente com a implementação de um sistema de vigilância abrangente e o investimento em inovações digitais que melhorem o acesso a cuidados oncológicos.
Por último, gostaria de recordar que todos temos um papel a desempenhar na redução do estigma em torno do cancro, na melhoria da compreensão desta doença e na sensibilização das pessoas para a importância do rastreio e cuidados precoces.