Aos 85 anos, Amélia olha pro futuro com a certeza de ter um lar mais seguro para seus netos
18 janeiro 2021
Sendo a chefe da família e viúva, Amélia recebe apoio para a reabilitação completa de sua casa pelo programa Mecanismo de Recuperação do PNUD.
Maputo, Moçambique - Em 14 de março de 2019, a história de Amélia Nicolasse Serra seguia para outra direção com a chegada do Ciclone Idai em Moçambique. Moradora da cidade da Beira, ela sentiu os ventos arrasadores destruírem parte da sua casa naquela madrugada.
“Fui amparada por uma vizinha e depois voltei a morar lá nas condições péssimas em que estava. Passei a viver só em um lado da casa e tentei remendar as chapas em cima”, Amélia lembra.
Naquela altura, a senhora contava com a ajuda dos vizinhos para reparar os danos a partir dos materiais e destroços que conseguiam. Seu bairro da Manga foi um dos mais afectados pelo desastre, trazendo consigo cheias e doenças – um momento desafiador para a comunidade se reeguer.
Em Moçambique, o impacto do Ciclone causou perda de vidas, destruição generalizada de infraestruturas e abrigos, bem como a interrupção de serviços essenciais, mercados e meios de subsistência. Os efeitos do desastre foram ainda mais impactantes devido às vulnerabilidades pré-existentes que caracterizam as áreas mais afetadas. Moçambique ocupa o terceiro lugar entre os países africanos mais afetados por perigos relacionados com o clima e é um dos dez países, no mundo, com menor Índice de Desenvolvimento Humano (2020).
Não é de se assustar que a Sra. Amélia já tenha sentido essas estatísticas na própria vida. A senhora moçambicana já enfrentou ao menos dois grandes ciclones, incontáveis cheias e produções agrícolas perdidas. Apesar de todos os anos vividos regados de trabalho árduo, Amélia ainda precisa encontrar a energia para cuidar dos cinco netos órfãos.
Sendo a chefe da família e viúva, o apoio que recebe é o da reabilitação completa de sua casa pelo programa Mecanismo de Recuperação (MRF) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), junto aos parceiros doadores – Canadá, China, Finlândia, Holanda, Índia, Noruega e União Europeia. Amélia tem sua casa reabilitada nos padrões de construção resiliente (Building Back Better) para que não volte a sofrer na época de tempestades cíclicas em Moçambique.
“Neste momento, vivo a base do apoio do governo e das organizações. Na idade que tenho não aguento mais fazer trabalhos de muito esforço. Na machamba já não tenho plantado”, relata.
A ajuda integrada que tem recebido com programas sociais e de recuperação das instituições de desenvolvimento tem sido o ponto fundamental, sobretudo para ultrapassar a pandemia da COVID-19 com mais recursos. Uma nova latrina ainda foi adicionada ao trabalho de reconstrução da casa para garantir condições de higiene mais adequadas à família.
No âmbito do programa Mecanismo de Recuperação, outros membros de sua comunidade no bairro da Manga participam das atividades que incentivam o auto-emprego com kits de pequenos negócios, grupos de poupança, treinamentos em habilidades, empregos temporários por meio de transferência de renda (cash-for-work).
Outras 320 famílias vivendo em condições similares a de Amélia também estão sendo contempladas com a reabilitação de suas casas nessa fase do programa MRF na cidade da Beira. Na província de Sofala, cerca de 190.000 pessoas tem sido apoiadas pelo programa com atividades de geração de renda e/ou reconstrução de infraestruturas comunitárias e públicas.
Preparando a família para a temporada de chuvas
Ao fim de dezembro de 2020, mais uma vez a rotina foi interrompida pelo clima. Previsões indicavam que a tempestade tropical Chalane* entraria em Moçambique. Aqueles que já tinham assistido o impacto do ciclone há dois anos, temiam ver a cena se repetir.
Nesse sentido, eles receberam apoio do PNUD e dos parceiros de campo sobre as medidas de fortalecimento de suas casas e se anteciparam frente ao impacto esperado. A própria Amélia também pôde passar pela tempestade dentro de sua casa, agora forte e segura. Madeiras e sacos de areia também foram instalados nas janelas e telhado pela equipe do projecto como forma de prevenção.
“Nesta tempestade não abandonei minha casa. Preferi ficar dentro dela, porque agora entendi que já tenho uma boa cobertura e fiquei ali até passar a ventania toda. […] Ao meu ver essa casa está muito forte por conta do material usado. Como eu vejo está muito bem preparada para nunca mais eu precisar sair por qualquer chuva”, comemora Amélia.
Com a reconstrução da casa, Amélia já pode seguir sua rotina aliviada e mais adaptada às mudanças do clima. “A chuva caía dentro de casa e ela estava a demolir-se. Eu não estava bem. O estado da minha vida já mudou, porque a casa vai estar mais segura. Eu estou com o coração todo aberto e feliz, porque eu não imaginava que viveria assim”.
*Ainda, a tempestade tropical Chalane deixou cerca de 30 mil casas parcial ou totalmente destruídas em Moçambique, e, aproximadatamente, 75 mil pessoas afetadas, as mesmas que sofreram com o Ciclone Idai de 2019.