ONU 75 em Moçambique: “Devem-se criar oportunidades de empego para os jovens como resposta à pandemia”
Consulta global das Nações Unidas para marcar os 75 anos da organização teve a participação de 1,5 milhão de pessoas de 195 países, incluindo Moçambique.
Maputo, Moçambique – “A pandemia veio aumentar a falta de empregos, especialmente para os jovens”, afirma Horcílio Zavala de 22 anos. Conselheiro da Plataforma SMS Biz, Horcílio participou da consulta global das Nações Unidas para marcar os 75 anos da organização. Ele é uma das 1,5 milhão de pessoas de 195 países que participaram da campanha por meio de entrevistas e diálogos.
“Fiquei muito feliz quando tomei conhecimento da possibilidade de participar da maior conversa global sobre a ONU”, afirmou Horcílio. Como conselheiro da Plataforma SMS Biz* – uma plataforma de aconselhamento entre pares em que jovens podem obter informações sobre saúde sexual e reprodutiva em tempo real usando o seu celular –, Horcílio teve a oportunidade de influenciar jovens sobre a importância de participar do debate sobre o futuro que queremos e fomentou a participação de ainda mais jovens na consulta.
Para ele, o desafio da falta de empregos deve ser resolvido com a criação de mais escolas de formação profissional e de fundos específicos para financiar ideias de autoemprego e empreendedorismo juvenil.
Aumento das desigualdades
“Outro aspecto que me preocupa é o aumento das desigualdades” afirma Horcílio. “É preciso aumentar os canais de debate e incluir os jovens nos diálogos sobre questões ligadas a nós mesmos”, continuou.
Horcílio também afirma que “a pandemia da COVID-19 veio nos lembrar que todos os países do mundo estão interligados e que não se pode pensar em ultrapassar esta crise global sem uma estreita cooperação global entre os países”.
“Esta crise é um desafio, mas também é uma oportunidade para que os países possam criar mecanismos para impulsionar a cooperação internacional”, Horcílio Zavala.
ONU 75
A iniciativa da consulta sobre a ONU em seus 75 anos foi lançada pelo Secretário-Geral, António Guterres, para compreender as esperanças e receios do público para o futuro, bem como as suas expectativas e ideias para a cooperação internacional.
Em comunicado, António Guterres disse que “a consulta ONU 75 mostrou que 97% dos entrevistados apoiam a cooperação internacional para enfrentar os desafios globais”.
Segundo o chefe da ONU, “isso representa um compromisso muito forte com o multilateralismo e com a missão das Nações Unidas” e agora cabe aos Estados-membros e Secretariado da ONU “atender às expectativas das pessoas que servem”.
Nas prioridades pós-COVID-19, o mundo se une sobre um acesso melhor a serviços básicos acessíveis, saúde, educação de qualidade, água e saneamento. As pessoas também defendem mais solidariedade com as comunidades e lugares mais atingidos.
Em todo o mundo, a maior prioridade imediata e de curto prazo era o acesso universal à saúde. Entrevistados em todas as regiões identificaram as mudanças climáticas e as questões ambientais como o principal desafio global de longo prazo.
Outras prioridades de longo prazo variam de acordo com os níveis de renda, mas incluem oportunidades de emprego, respeito pelos direitos humanos e redução de conflitos.
Entrevistados em países com maior desenvolvimento humano dão mais prioridade ao meio ambiente e aos direitos humanos. Por outro lado, pessoas em países de baixo desenvolvimento humano destacam resolução de conflitos e necessidades básicas, como emprego, saúde e educação.
ONU 75 em Moçambique
Em Moçambique, cerca de 45 mil pessoas participaram da consulta, colocando o país em segundo lugar na lista de países com mais participantes. A maioria dos moçambicanos optou por participa da consulta via SMS por meio da Plataforma SMS Biz.
Assim como Horcílio, mais da metade dos participantes moçambicanos (56%) relatou que aconselharia o Secretário-Geral das Nações Unidas a criar empregos para jovens. Três de cada quatro moçambicanos afirmaram acreditar que até o ano 2045 suas condições de vida serão melhores.
50% dos moçambicanos e moçambicanas que participaram na consulta relataram que a ONU e outras organizações internacionais devem priorizar o acesso à água potável, saneamento e saúde.
Do mesmo modo, 43% dos participantes acreditam que os riscos relacionados à saúde (por exemplo, pandemias, aumento da resistência a antibióticos) afetarão mais nosso futuro.
Desafios
Entrevistados em todas as regiões do mundo identificaram as mudanças climáticas e as questões ambientais como o principal desafio global de longo prazo.
A criação de mais oportunidades de emprego para jovens representa o maior desafio identificado pelos moçambicanos que participaram da consulta.
No país, metade dos participantes relataram que um grande desafio para os próximos 25 anos serão melhorar o acesso à educação e aos serviços de saúde, bem como aumentar a equidade entre homens e mulheres.
Papel da ONU
Muitos entrevistados também esperaram que as Nações Unidas tenham um papel de liderança para enfrentar os desafios globais imediatos. Muitos também desejam que a organização seja mais inclusiva, engajada, responsável e eficaz.
Os participantes também apelaram à ONU por liderança moral e um Conselho de Segurança reformado, representativo e ágil.
Pessoas de todo o mundo pediram e um sistema da ONU inclusivo e participativo, com melhor compreensão do trabalho da organização, e que mostra mais cuidado com as necessidades das pessoas.
*A Plataforma SMS Biz é parte do Rapariga Biz, um programa conjunto das Nações Unidas, liderado pelo Governo de Moçambique, e implementado pelo UNFPA, UNICEF, ONU MULHERES e UNESCO. O programa visa alcançar um milhão de raparigas e jovens mulheres vulneráveis nas províncias da Zambézia e Nampula, com informação sobre saúde e direitos sexuais e reprodutivos, liderança, empoderamento, cidadania e direitos humanos, com o objectivo de prevenir as uniões prematuras e a gravidez na adolescência. A iniciativa é financiada pela Embaixada da Suécia e pelo Governo do Canadá.
*Artigo produzido com a contribuição dos relatos colhidos por Helena Guiliche.