Discurso da Coordenadora Residente das Nações Unidas em Moçambique, Myrta Kaulard, por ocasião do Dia Internacional dos Direitos Humanos
Discurso da Coordenadora Residente das Nações Unidas em Moçambique, Myrta Kaulard, por ocasião do Dia Internacional dos Direitos Humanos de 2020.
MAPUTO, Moçambique
- Sua Excelência Sr. Presidente da República de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi
- Venerando Juiz Presidente do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos, Juiz Sylvain Ore
- Sua Excelência Sra. Ministra da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Helena Kida
- Sua Excelência Sr. Embaixador da União Europeia em Moçambique
- Sua Excelência a Senhora Embaixadora de Portugal em Mocambique
- Sua Excelência Presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos
- Excmo. Juiz Paulo Sérgio Pinto de Albuquerque;
- Distintos convidados, todo protocolo observado
- Senhoras e senhores,
É com grande honra e apreço que em nome das Nações Unidas, dirijo-me a esta magna audiência para comemorar o dia internacional dos direitos humanos. O dia 10 de dezembro marca o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e conclui também a campanha dos 16 dias de ativismo. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada em um momento em que o mundo estava se recuperando da Segunda Guerra Mundial. A Declaração buscou articular as aspirações dos Povos das Nações Unidas, por uma vida de paz, dignidade e direitos.
Este dia é uma oportunidade para reafirmar a importância dos direitos humanos na reconstrução do mundo que queremos, com solidariedade, cooperação e humanidade compartilhada. Em seu Apelo à Ação pelos Direitos Humanos, o Secretário Geral da ONU notou o papel central dos direitos humanos para a resposta às crises, para a igualdade de género, para a participação pública, para a justiça climática e para o desenvolvimento sustentável. Temos responsabilidade coletiva de respeitar e garantir o cumprimento dos direitos humanos.
O lema do Dia dos Direitos Humanos deste ano está relacionado à pandemia do COVID-19 e ressalta a necessidade de Recuperar Melhor, garantindo que os direitos humanos estejam no centro dos esforços de recuperação. Como afirmou a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, para que isso aconteça, devemos aceitar as lições dos eventos recentes, que incluem a necessidade de:
Um: acabar com a discriminação de qualquer tipo. Assim como condições pré-existentes tornam as pessoas mais frágeis no contexto da Pandemia - as lacunas no respeito aos direitos humanos tornam sociedades mais vulnerávéis. Se uma pessoa está em risco, todos estão em risco. Discriminação, exclusão e outras violações dos direitos humanos prejudicam a todos nós.
Dois: reduzir as desigualdades. A proteção social universal, o acesso a saúde universal e outros sistemas de garantia dos direitos fundamentais não podem ser vistos como luxos. Estes mantêm as sociedades de pé e podem moldar um futuro mais justo. Os mais vulneráveis, incluindo, por exemplo, pessoas com deficiência, idosos e aqueles que vivem em extrema pobreza precisam de apoio adicional para desfrutar de seus direitos humanos básicos.
Três: encorajar a participação, especialmente de crianças e jovens. Se não queremos deixar ninguém para trás, é essencial garantir a plena participação e inclusão da população nas tomadas de decisão e na formulação de políticas públicas. Todas as vozes têm o direito de serem ouvidas. Neste aspecto gostaria sobretudo ressaltar a importância de igualdade de genêro. A diversidade, o pluralismo politico e social são fundamentais para democracia. Garatindo a inclusão de mulheres e raparigas, atores e influenciadores sociais, podemos assim nos assegurar que ninguém fique para trás.
Quatro: aumentar e intensificar nossa determinação e esforços para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, uma Agenda concreta para os direitos humanos universais. Isto não é apenas o correto a fazer – mais é o necessário e o inteligente. E só há uma maneira de fazer isso: defendendo os direitos humanos. Porque os direitos humanos geram sociedades justas e resilientes.
Para nos ajudar neste trabalho, gostaria de voltar nossa atenção à Declaração Universal dos Direitos Humanos. Após 72 anos, este instrumento continua a servir como um farol para todos nós, nos ajudando a enfrentar velhos e novos desafios. Embora não seja um documento vinculativo, a DUDH inspirou mais de 60 instrumentos de direitos humanos que, juntos, constituem um padrão internacional de direitos humanos.
Moçambique é Estado Parte de vários destes pactos e convenções. O país ratificou 7 (sete) dos 9 (nove) principais tratados internacionais de direitos humanos da ONU e é parte de vários instrumentos regionais da União Africana e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral – (SADC em sua sigla em inglês). Um marco recente inclui a adesão à Convenção de Kampala da União Africana em janeiro deste ano, demonstrando o compromisso de Moçambique em proteger, assistir e fornecer soluções para as populações deslocadas internamente.
O pleno respeito e a implementação destes direitos serão fundamentais para que o mundo e Moçambique avancem e construam a resiliência de que necessitam para enfrentar o impacto das mudanças climáticas; para tornar cidades e assentamentos humanos mais seguros, inclusivos e sustentáveis; para prevenir, responder e recuperar melhor da pandemia COVID-19 e, significativamente, ser capaz de alcançar os objetivos da União Africana presentes no apelo da instituição feito este ano para “silenciar as armas” e acelerar o alcance do desenvolvimento sustentável para todas e para todos.
Não devemos olhar para os direitos humanos como algo que pode ser negociado ou deixado de lado quando as coisas se tornam difíceis. O respeito, a proteção e o cumprimento dos direitos humanos são de fato a pedra angular da paz e do desenvolvimento e vice-versa.
O evento de hoje e o lançamento dessas duas publicações é um passo importante para ajudar a reforçar essa mensagem e para todos nós nos comprometermos novamente com os padrões de direitos humanos. A Coletânea de todos os principais tratados de direitos humanos que nasceram da UDHR permitirá maior conhecimento e impacto destes instrumentos entre governantes, parlamentares, juristas, acadêmicos, a sociedade civil e a população em geral.
Por outro lado, a publicação que comporta uma reflexão mais ampla sobre a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos é de particular relevância. Mais do que qualquer outro instrumento regional de direitos humanos, a Carta Africana é a que encapsula melhor a essência da UDHR, visto que não apenas inclui proteções para direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, mas também inclui considerações em torno do meio ambiente e dos direitos à autodeterminação. A Carta Africana é a melhor expressão dos ideais africanos e ferramenta para a Unidade e Solidariedade regional.
Esses instrumentos ajudam a nos mostrar o caminho. No entanto, é nossa responsabilidade tomar medidas para tornar os direitos humanos uma realidade. Como Nações Unidas, gostaria de aproveitar esta oportunidade para reiterar o nosso compromisso e disponibilidade para apoiar Moçambique neste esforço.
Os direitos humanos são a melhor vacina que temos aos desafios globais. Não há paz sem desenvolvimento sustentável, não há desenvolvimento sustentável sem paz, e não há paz nem desenvolvimento sustentável sem direitos humanos e inclusão.
Por fim gostaria me juntar ao apelo de hoje do Secretário-Geral da ONU, para agirmos coletivamente, com os direitos humanos na frente e no centro, para recuperarmos da pandemia da Covid-19 e construirmos um futuro melhor para todos.
Estamos Juntos. Obrigada. Kanimambo.