“Eu sustento meus seis filhos sozinha” - a história de uma mulher rural moçambicana
14 outubro 2020
Na preparação para o Dia Internacional da Mulher Rural em 15 de outubro, a Sra. Mahanjane compartilha sua história.
Chongoene, Moçambique– Alzira Mahanjane, 34, suportou uma década de violência doméstica. Com assistência da AREPACHO, uma organização que recebe apoio da Iniciativa Spotlight, ela aprendeu sobre a violência baseada no género e transformou-se em uma agricultora. Hoje, ela tem orgulho de pagar pelos estudos de seus seis filhos com o produto de seu trabalho.
A Iniviativa Spotlight é uma parceria global entre a União Europeia, as Nações Unidas e governos anfitriões para eliminar a violência contra mulheres e raparigas. Em Moçambique, a iniciativa é liderada pelo Ministério de Género, Criança e Acção Social e trabalha com organizações de base tais como AREPACHO para dar assistência a mulheres e raparigas marginalizadas que experienciam violência, tanto em áreas urbanas como rurais.
Na preparação para o Dia Internacional da Mulher Rural em 15 de outubro, a Sra. Mahanjane compartilha sua história.
“Eu fui casada por dez anos. Meu marido e eu construímos uma casa e tivemos seis filhos juntos, mas nosso casamento não foi feliz. Discutíamos muito e ele me bateu várias vezes" - lzira Mahanjane, 34.
"Um dia, meu marido voltou para casa e disse-me que íamos ver minha família. Ele não explicou o porquê. Quando chegamos, minha família inteira estava esperando por mim. Eu não entendia o que estava acontecendo.
Então, ele disse à minha família que estava ‘me devolvendo’ porque eu estava ‘possuída por demônios’. Meu irmão ficou com tanta raiva que brigou com ele. Meu marido foi embora e eu fiquei para trás.
Depois de duas semanas sem ver meus filhos, voltei para casa apenas para ser expulsa novamente. Eu insisti que não iria embora – essa era também a minha casa!
Ele me bateu várias vezes e cortou meu dedo. Fui ao hospital, onde fui orientada a denunciar o caso na esquadra, mas não quis. Preferi buscar aconselhamento com os líderes comunitários locais. Eles me aconselharam a ficar com meu marido e o convenceram a parar de me mandar embora.
Porém, depois de algum tempo, ele me trocou por outra mulher e fui forçada a fazer biscates para alimentar nossos filhos.
Alguns anos antes, eu havia ingressado na AREPACHO, uma organização de base que ensina agricultura e apoia pessoas vulneráveis".
"Aprendi a cultivar vários tipos de alimentos e conheci um grupo de pessoas que até hoje considero minha família" - lzira Mahanjane, 34.
"Além da agricultura, costumávamos visitar órfãos, crianças vulneráveis e pessoas vivendo com HIV. Lavávamos suas roupas e preparávamos comida para eles.
Meu marido não gostava que eu participasse dessa organização, mas sempre mantive contato com meus colegas activistas.
Hoje, a AREPACHO actua principalmente com jovens sobre planejamento familiar. Mas com as habilidades agrícolas que aprendi, agora trabalho como agricultora e sustento meus seis filhos sozinha. Não foi fácil, mas todos estão na escola e meu filho mais velho, que agora tem 16 anos, está estudando para se tornar eletricista. Durante o fechamento da escola devido à COVID-19, eles me ajudaram a cultivar o campo. Em breve, colheremos milho”.
Apesar de sua vida agitada, a Sra. Mahanjane tem ideias para seu futuro: “Eu quero estudar e, um dia, gostaria de treinar outras pessoas para serem a mudança em suas comunidades para que possam ajudar as mulheres a superar a violência”.
A Sra. Mahanjane é uma das mais de nove milhões de mulheres rurais em Moçambique de acordo com o Censo Populacional de 2017. Elas representam mais de 34% da população de Moçambique e a maioria trabalha na agricultura - a principal fonte de renda para mais de 70% dos moçambicanos[1].
As mulheres rurais moçambicanas enfrentam múltiplas barreiras na denúncia de violência, desde baixos níveis de alfabetização até falta de conhecimento sobre onde encontrar apoio, dificuldade de acesso à justiça, dependência de mecanismos informais de resolução de conflitos ou simplesmente porque acreditam que a violência é normal.
Organizações de base como a AREPACHO são fundamentais no apoio a mulheres e raparigas rurais marginalizadas que sofrem violência. Essas organizações ajudam as(os) sobreviventes a entender a violência e as muitas formas que ela pode assumir assim como os informa sobre onde denunciar e encontrar apoio.
A AREPACHO é uma organização comunitária com sede em Chongoene, Província de Gaza, que capacita as mulheres agricultoras a melhorar sua produtividade e seu acesso aos mercados. Os membros contribuem para reduzir a pobreza em suas comunidades, aumentando a conscientização sobre HIV/AIDS, o planejamento familiar, a segurança alimentar e a violência de género bem como apoiando órfãos e crianças vulneráveis. A AREPACHO é parceira da Gender Links, uma das muitas organizações que trabalham com a Iniciativa Spotlight em Moçambique para promover os direitos das mulheres e acabar com a violência baseada no género.
Em Moçambique, a Iniciativa Spotlight é implementada ao longo de um período de quatro anos (2019-2022) com um compromisso financeiro de US$ 40 milhões pela União Europeia e foco nas seguintes áreas prioritárias: acabar com a violência sexual e baseada no género, eliminar os casamentos prematuros e promover os direitos sexuais e reprodutivos de mulheres e raparigas.