Programa televisivo de educação ajuda na aprendizagem das crianças durante a COVID-19
Para apoiar a continuidade da aprendizagem durante o encerramento das escolas, o UNICEF está a apoiar programas de educação televisivo e radiofónico.
Maputo, Moçambique - "Sentimos a falta dos nossos professores, eles eram muito simpáticos e ajudavam a resolver os nossos exercícios complexos, mas com o coronavírus precisamos de nos adaptar e aprender a resolver os nossos exercícios sozinhos em casa", disseram Alzira Ngomane, de 17 anos, e o seu irmão Amilcar Ngomane, de 14 anos, no bairro de Albazine, na cidade de Maputo. Desde que a sua escola foi encerrada em Março de 2020, como medida preventiva devido à pandemia da COVID-19, eles estão agora a estudar em casa utilizando o programa de televisão Telescola da Televisão de Moçambique (TVM).
Todas as tardes, durante 30 minutos, Alzira e Amilcar colocam os seus cadernos na pequena mesa de madeira na sua sala de estar e ligam a televisão para acompanhar as aulas transmitidas pela TVM, todos os dias a partir das 15 horas. Ambos reconhecem que não é o mesmo que estar numa sala de aula com os seus colegas e professores, e que apesar do pouco tempo conseguem lembrar-se de algumas matérias e fazer os seus exercícios.
Alzira estuda na Escola Secundária Eduardo Mondlane, na 12ª classe, e sonha em ser uma Engenheira Civil. A sua escola fechou há 6 meses quando o Governo de Moçambique declarou o Estado de Emergência devido ao coronavírus. "Tento manter uma rotina enquanto estou em casa, acordo e faço as minhas tarefas domésticas, depois estudo e assisto a Telescola. Sem a Telescola, seria difícil compreender as matérias e resolver alguns exercícios, os professores que participam na Telescola esclarecem muitas das minhas dúvidas, e eu consigo fazer as fichas de exercício que nos dão na escola e também compreender melhor a matéria", contou Alzira.
"Na escola, era mais fácil obter respostas às minhas perguntas porque tínhamos o professor presente, em casa é mais difícil estudar e concentrar-me. Sonho em ser um arquitecto porque eu gosto de desenhar. Sei que preciso de ir à escola para realizar o meu sonho, e, com as escolas fechadas, a Telescola está a ajudar-me a continuar a estudar em casa para que eu possa continuar a trabalhar para realizar o meu sonho", disse Amilcar.
Para apoiar a continuidade da aprendizagem das crianças durante o encerramento das escolas, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), com financiamento do programa Educação Não Pode Esperar (Education Cannot Wait - ECW), está a apoiar a Telescola (programa de educação televisiva) e programas de educação radiofónicos, incluindo a tradução para as línguas locais e a emissão em rádios comunitárias. Por exemplo, a TVM emite cerca de 1,5 a 2,5 horas de Telescola por dia para apoiar a continuidade da aprendizagem das crianças do ensino primário e secundário. Durante a COVID-19, o encerramento das escolas e as restrições de movimentação seguiram-se em Moçambique, dificultando a aprendizagem de milhões de crianças. Até Setembro de 2020, o Governo ainda não tinha decidido sobre a reabertura das escolas primárias e secundárias.
Constância Guiama, de 56 anos, professora do 2º ciclo - uma das várias professoras que aceitou o desafio de ensinar na Telescola - diz que "esta experiência tem sido uma mais-valia tanto para os professores que participam como para aqueles alunos que as acompanham a partir de casa. Eu faço parte do programa Telescola desde o seu início em 2005, pelo que quando as escolas fecharam devido ao coronavírus só fazia sentido voltar a ensinar e apoiar os alunos através da Telescola", disse Constância.
A professora Constância também utiliza plataformas digitais para ensinar e apoiar os seus alunos. Uma vez por semana ela dá aulas utilizando a aplicação Zoom, para que possa ter uma interacção com os seus alunos. Alguns dos seus alunos não podem participar nas aulas online devido à situação financeira que nem sempre lhes permite ter acesso à Internet, "recebo reclamações de alguns dos meus alunos de não poderem ter acesso à Internet para participar nas minhas chamadas Zoom ou ler as minhas explicações no WhatsApp, pelo que a Telescola ajuda a complementar este problema".
Herika Manhiça, de 17 anos, e a sua irmã Laurina Manhiça, de 12 anos, estão também a utilizar a Telescola para estudar e aprender de casa. Elas vivem no Bairro das Mahotas, na cidade de Maputo. Herika estuda na Escola Secundária de Laulane na 12ª classe, e a sua irmã estuda na Escola Primária Completa Estrela do Oriente na 7ª classe. Ambas partilham o mesmo sonho de se tornarem médicas.
"O nosso dia é diferente agora, temos de ficar em quarentena em casa, e aprendemos que temos de usar sempre uma máscara se quisermos ir lá fora e lavar as mãos com água e sabão para nos protegermos do coronavírus. Assim que o coronavírus começou, a nossa escola fechou, e deram-nos fichas de exercícios para que pudéssemos estudar em casa. Foi difícil fazer alguns dos exercícios sem apoio, pois algumas matérias eram novas, mas com a Telescola ficou mais fácil, pois através da nossa televisão podemos aprender todos os dias novas matérias e os professores também nos ensinam a resolver alguns exercícios difíceis. Todos pensávamos que o coronavírus fosse passar rapidamente e que íamos voltar à escola em breve, mas infelizmente, não é esse o caso agora", contou Herika.
Com o que aprendeu na Telescola, Herika decidiu ensinar à sua irmã mais nova e aos seus amigos em casa: "Eu uso o portão da minha casa para os ensinar. Se eu sei ler, tenho de ensinar os outros a ler também", concluiu Herika.