“Quando a ajuda chega às pessoas necessitadas, um sentimento de satisfação nos envolve”
19 agosto 2020
Isabel Santos, Assistente de Logística do PMA, trabalha na linha de frente da luta contra a pandemia. Ela é uma das muitas heroínas que a ONU homenageia hoje.
Maputo, Moçambique - Isabel Patel Santos, Assistente de Logística do Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas (PMA) na Cadeia de Suprimento em Moçambique, é uma das trabalhadoras da linha de frente na luta contra o novo coronavírus. Isabel compartilhou connosco sua experiência de trabalho em tempos de COVID-19 e contou-nos sua impressionante e aspiracional história e trajetória como trabalhadora da ONU em Moçambique. Por meio de sua história, as Nações Unidas em Moçambique homenageiam a todos os trabalhadores humanitários no país.
Isabel Patel dos Santos ingressou no PMA em Março de 2004, como trabalhadora eventual. “A motivação era trabalhar todos os dias para ter os 10 dólares diários, que eram pagos no fim do mês. Isso em Sofala no descarregamento de carga de um navio que atracou no Porto da Beira”, conta Isabel.
No final de seu primeiro contrato, a então Directora de Operações lhe pediu para ficar mais tempo e Isabel acabou trabalhando para o PMA por mais quatro meses. Segundo Isabel, “a Directora de Operações queria que continuasse porque dizia que era mais flexível que muitos homens”. Essa foi sua porta de entrada na Agênica das Nações Unidas responsável por prover assistência alimentar para milhões de pessoas ao redor do mundo.
Após sua primeira experiência como funcionária eventual do PMA, Isabel decidiu ingressar em um curso aduaneiro de seis meses, nas Alfândegas, para que pudesse continuar trabalhando na área de logística. Sua sorte mudou quando, em Janeiro de 2005, um navio com grande carga de limentos do PMA atracou no Porto da Cidade da Beira. Isabel foi, mais uma vez, contratada pela agência da ONU, mas agora como Assistente de Armazém, cargo que ocupou por dois anos.
Durante seus mais de 15 anos apoiando a assistência alimentar a moçambicanos e moçambicanas, Isabel trabalhou durante diversas emergências humanitárias como as cheias do Rio Zambeze em 2007 e as cheias do Rio Limpopo em 2013. Especializada em armazéns, operações de processamento, operações aéreas e, agora, em operações de importação, Isabel é uma das muitas heroínas da vida real em Moçambique. Sua poderosa história motiva a todos nas Nações Unidas para podermos continuar a assistir a todos aqueles que mais necessitam.
Como tem sido a jornada em Logística desde o início da pandemia da COVID-19?
Isabel Patel Santos - Talvez comece a descrever alguns momentos antes da COVID-19, o pânico que sentia antes mesmo de um único caso ser notificado no país. Eu estava "vigilante" assistindo a todas as notícias relacionadas à COVID-19, monitorando como a doença se aproximou do nosso país quando chegou à África do Sul. Ouvi alguém dizer que estava indo para lá e perguntei o porquê. No final de semana seguinte, o primeiro caso positivo da doença foi diagnosticado no país e pensei comigo mesmo “vamos dar um jeito”. O pânico sumiu.
Agora, já trabalhando em tempos de COVID-19, acredito que a primeira semana tenha sido a mais difícil, porque minha linha de trabalho demanda a impressão de muitos documentos e eu não conseguia fazer isso facilmente em casa. Então, logo na segunda semana escolhi um dia para ir ao escritório trabalhar no que já foi processado. Dessa maneira, acabei trabalhando até tarde no escritório vazio. Na semana seguinte, comecei a ir ao escritório duas vezes por semana, às segundas e às sextas-feiras, depois três dias por semana e, agora, quase todos os dias.
Essa nova normalidade acaba sendo prática para mim, uma vez que consigo respeitar todas as regras de distanciamento e prevenção contra a COVID-19 e reúno em um só lugar todas as condições para fazer todo o trabalho urgente.
Adaptada ao novo normal?
Isabel Patel Santos - Uma coisa que venho tentando evitar é o contacto com outros funcionários ou terceiros o máximo possível, mas devido à natureza do meu trabalho isso não é fácil. Por exemplo, para que possamos importar algo de maneira eficiente, tenho que vir ao escritório na maioria das vezes, processar os documentos principais e levá-los pessoalmente até as instituições do Estado como o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) e diversas Autoridades Aduaneiras. Aqui é onde encontro uma barreira, já que trabalho todos os dias e as instituições trabalham presencialmente a cada 15 dias. Quando estamos com pressa para processar algo, há a possibilidade do prazo coincidir com os 15 dias em que o responsável por aquela actividade específica não está de plantão. Isso tem sido um problema.
Outros desafios em logística durante a COVID-19?
Isabel Patel Santos - O desafio que tenho vivido é a quantidade de impressão de documentos que tenho que fazer, tenho dificuldade de me adaptar apenas ao uso do computador. Além disso, há a necessidade de contactar os nossos parceiros de maneira presencial, uma vez que são vários os casos que temos que estar necessariamente presentes para resolver um problema. Contudo, se eu pudesse indicar um desafio específico, indicaria a facilidade em e o tempo necessário para processar uma actividade dentro do meu setor que foi reduzido significativamente.
Como você se sente como alguém que trabalha na maioria das vezes nos bastidores?
Isabel Patel Santos - Quando a ajuda chega às pessoas necessitadas, um sentimento de satisfação nos envolve, mas a verdade é que dentro do PMA não sentimos a diferença entre trabalhar nos bastidores ou no terreno, pois, trabalhamos como uma equipa. Quando recebemos a nota certificando que o apoio chegou aos beneficiários, é a nossa grande satisfação. Contamos uns com os outros e apoiámos uns aos outros. Esta é uma cadeia e precisamos uns dos outros; independentemente da posição de cada funcionário, sentimo-nos parte de uma equipe que trabalha pelo mesmo objectivo. Se um falhar, todos falham. Quando tudo funciona da maneira correta, a satisfação é de todos.
Qual é a receita para trabalhar com sucesso em tempos de COVID-19?
Isabel Patel Santos - O segredo é uma planificação adequada. Um final feliz requer uma boa planificação. Embora a resposta de emergência exija uma acção rápida, ela precisa ser bem planificada.