Alimentação escolar leva ao aumento das matrículas nas escolas em Moçambique

A frequência e as matrículas dos estudantes aumentaram nas escolas atendidas pelo Programa de Alimentação Escolar do Programa Mundial de Alimentos em 2019.
Maputo, Moçambique - A promessa de distribuição de cestas de alimentos para levar para a casa é um incentivo para que as crianças que enfrentam extrema insegurança alimentar compareçam às aulas. A alimentação escolas é também um incentivo para que a família encoraje a permanência dos alunos na escola.
Na província de Sofala, no centro de Moçambique, muitas famílias ainda lutam para obter meios de subsistência decentes - essa província foi a mais afetada quando o ciclone Idai atingiu Moçambique há um ano atrás com fortes chuvas e inundações, destruindo, atrasando e reduzindo as colheitas.
Entre Março e Julho de 2019, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) beneficiou 1,8 milhão de pessoas com assistência alimentar em Moçambique. Em Outubro de 2019, para ajudar as crianças e suas famílias afectadas pelo ciclone Idai a resistirem à temporada das secas em Sofala, o Ministério Alemão de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (BMZ) financiou por seis meses o Programa de Alimentação Escolar do PMA.
Nos distritos de Buzi, Chemba, Chibabava, Muanza e Nhamatanda, 31.000 crianças e 600 professores de 81 escolas receberam uma cesta de alimentos com arroz, feijão, óleo e sal para levar para casa e sustentar suas famílias. Quando o novo ano escolar começou em 2020, cerca de 8.000 crianças a mais foram matriculadas nessas escolas beneficiárias.
“No ano letivo de 2020, verificamos um aumento de 25% nas matrículas para escolas apoiadas com alimentos para levar para casa em Sofala”, diz Espinola Caribe, chefe do escritório do PMA na Beira, capital da província. "Os pais das crianças estão mais dispostos a garantir que elas frequentem as escolas onde recebem comida para ajudar a sustentar suas famílias em tempos difíceis".
Na Escola Primária Completa 25 de Junho Tica, no distrito de Nhamatanda, o ciclone Idai destruiu 14 das 33 salas de aula. “Quando cheguei aqui depois do ciclone, chorei. Todas as salas de aula que construímos com materiais locais foram destruídas pelo ciclone. Eu estava destruída”, diz a directora da escola, Sandra Maibeque.
Enquanto a escola foi usada como abrigo para a comunidade por três semanas após o ciclone Idai, a directora Sandra reuniu pais e funcionários para reconstruírem juntos as salas de aula destruídas. “Percebi que o governo não teria dinheiro para apoiar uma recuperação escolar completa, então comprei chapas e pregos com o dinheiro que tínhamos de um fundo do governo, recebi lonas de doações da ONU e fiz o que vocês podem ver hoje”, diz ela.
Logo depois do ciclone, muitos alunos ainda não conseguiam se matricular na escola ou assistir às aulas, mas as coisas começaram a mudar quando a assistência alimentar do PMA chegou em Outubro de 2019. "A alimentação escolar elevou a moral da escola novamente", diz Sandra. "Os pais de crianças que sofrem de fome porque suas machambas familiares foram destruídas pelo Idai começaram a enviar seus filhos para a nossa escola porque tínhamos um programa alimentar".
As matrículas na escola aumentaram de 3.004 alunos em 2019 para 3.359 em 2020.
“Embora o aumento das matrículas escolares possa significar salas de aula mais cheias, um aumento de 25% nas matrículas devido à distribuição de alimentos é uma evidência de que o programa de alimentação escolar é um meio importante para melhorar os resultados no sector da educação”, diz Pedro Mortara, oficial do programa de alimentação escolar do PMA.
“Essas crianças vêm todos os dias à escola porque têm medo de perder a assistência alimentar; no final do mês sabem que receberão a cesta de alimentos”, diz Sandra.
O programa de Alimentação Escolar financiado pela Alemanha chegou ao fim em Abril de 2020, cumprindo o objectivo de apoiar os alunos e famílias durante a pior parte da temporada de seca em Sofala.
Em 1 de Abril de 2020, o Governo de Moçambique anunciou o Estado de Emergência de 30 dias em resposta à pandemia do COVID-19 – prorrogado por mais 30 dias.
As escolas foram fechadas e as aulas suspensas. O PMA Moçambique está negociando com doadores, parceiros locais e Governo para continuar as actividades do programa de alimentação escolar, com algumas adaptações de saúde e segurança para evitar a infecção da COVID-19.
Durante a crise do COVID-19 e o fechamento das escolas, os estudantes e suas famílias teriam alguma segurança alimentar garantida com a continuidade do programa de alimentação escolar até o fim da pandemia e após seu término na volta às aulas – para garantir que todos os alunos sejam incentivados a retomar as actividades escolares. Isso, é claro, requer fundos.
“O apoio adicional em forma de assistência alimentar para manter as crianças frequentando a escola por períodos mais longos, em vez de terem que ajudar seus pais a ganhar a vida trabalhando na terra ou a abandonar a escola devido ao casamento e gravidez precoce, significa mudar o futuro das crianças e de suas famílias ”, diz Pedro Mortara.
O PMA está a mobilizar a comunidade doadora para continuar melhorando a vida das 39.000 crianças matriculadas nas 81 escolas participantes deste projecto - bem como a de suas famílias ao longo do ano. Desta forma, iremos aumentar os bons resultados do programa de alimentação escolar e garantir que as crianças em idade escolar de Moçambique recebam assistência alimentar essencial durante tempos difíceis.
Como disse Espinola Caribe, “A alimentação escolar é um exemplo concreto de como a resposta humanitária em situação de crise pode ser transformada em modelo de desenvolvimento e uma solução durável para apoiar as famílias enquanto elas reconstroem seus meios de subsistência”.
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