A Tempestade Tropical Filipo agrava o deslocamento e as necessidades humanitárias em Moçambique
22 março 2024
- Cerca de 8.000 casas foram parcial ou totalmente danificadas pela tempestade tropical em Moçambique.
MAPUTO, Moçambique - Mais de 48.000 pessoas foram afectadas nas províncias de Gaza, Inhambane, Maputo e Sofala pela passagem da tempestade tropical Filipo que atingiu Moçambique no dia 12 de Março. Ventos fortes e chuvas torrenciais causaram estragos nas províncias do centro e sul, provocando inundações generalizadas e deixando um rasto de destruição, incluindo danos em casas, meios de subsistência e infraestruturas essenciais.
"O telhado foi totalmente derrubado. Foi quando eu corri para resgatar o meu filho", conta Inocência Fernando, moradora de uma das áreas atingidas. "Perdi meus coqueiros, cajueiros, minhas roupas voaram e nem sei onde foram parar as telhas".
Produtos alimentares, água potável, saneamento, saúde e abrigo são as necessidades mais urgentes identificadas através de uma avaliação multissectorial conjunta da Organização Internacional para as Migrações (OIM), do Instituto Nacional de Gestão de Catástrofes (INGD), da UNICEF, do PAM e do OCHA. Além disso, a reconstrução e a reabilitação das infraestruturas danificadas foram também identificadas como prioridades essenciais, com 8.000 casas parcialmente ou totalmente danificadas, juntamente com 146 escolas, numerosos centros de saúde, postes eléctricos e estradas.
A Organização enviou 344 kits de abrigo, incluindo lonas, cobertores térmicos e redes mosquiteiras, para ajudar as famílias afectadas pela tempestade no Distrito de Machanga, Província de Sofala, sendo necessários muito mais kits para satisfazer as necessidades provocadas pelo impacto.
As equipas da OIM responsáveis pela Matriz de Monitoria de Deslocamentos (DTM) e pela Gestão e Coordenação de Abrigamento (CCCM) estão a apoiar o Governo na recolha de dados sobre as deslocações, no acompanhamento das necessidades das populações afectadas e na coordenação dos esforços com o objetivo de suprir as necessidades imediatas.
O impacto da tempestade tropical agravou as vulnerabilidades existentes no país e aumentou as necessidades crescentes decorrentes das crises actuais que o país já enfrenta, incluindo os surtos de cólera nas regiões centro e norte do país. As chuvas fortes e as inundações aumentaram os riscos de propagação da cólera e agravaram os desafios resultantes da recente escalada do conflito e das subsequentes deslocações da população.
Moçambique está entre os dez países mais vulneráveis às alterações climáticas e aos riscos naturais. Nos últimos anos, as alterações climáticas causaram catástrofes mais intensas e frequentes, resultando em perdas e danos significativos, incluindo deslocações em massa da população. A sua localização ao longo da linha costeira expõe o país aos ciclones sazonais da região da África Austral, que afectam a agricultura, da qual o país depende fortemente.
As mudanças climáticas representam um grande obstáculo ao desenvolvimento socioeconómico de Moçambique, aumentando os desafios resultantes da fragilidade, dos conflitos e da violência. De acordo com o Relatório do Banco Mundial sobre o Clima e o Desenvolvimento de Moçambique, caso não haja medidas de adaptação, mais 1,6 milhões de pessoas poderão entrar na zona de pobreza até 2050.
"Com os frequentes riscos naturais e os conflitos em curso a agravar a crise humanitária, o percurso com vista à recuperação das comunidades afectadas será longo e desafiante. É imperativo que a comunidade internacional intensifique o seu apoio para garantir que as pessoas afectadas recebam a assistência de que necessitam para reconstruir as suas vidas e comunidades, abrindo caminho para soluções sustentáveis" afirma Laura Tomm-Bonde, Chefe de Missão da OIM em Moçambique.
Desde Dezembro de 2023, Moçambique está a viver uma crise humanitária cada vez mais acentuada, marcada por uma escalada do conflito nas províncias do norte e por choques climáticos graves que afectam as províncias do centro e do sul. Estima-se que mais de 160.000 pessoas em todo o país tenham sido recentemente afectadas pela violência e por catástrofes, juntamente com as mais de 700.000 já deslocadas devido ao conflito.
A OIM necessita de apoio para responder às necessidades das populações afectadas pelo conflito no norte e pelos choques climáticos no centro e sul de Moçambique. Apenas 15 por cento dos 43 milhões de dólares solicitados pela OIM no âmbito do Plano de Resposta Humanitária (HRP) de 413 milhões de dólares para 2024 foram financiados até à data presente. A OIM estima que serão necessários mais 3,9 milhões de dólares para responder às necessidades decorrentes do aumento da violência nas regiões do norte e do impacto da tempestade tropical. Sem apoio financeiro adicional, a resposta essencial e a prestação de serviços podem ser comprometidas, deixando milhares de pessoas numa situação de extrema vulnerabilidade sem acesso a assistência necessária para salvar vidas.
