Apoiando a Educação para Todos em Moçambique
UNHCR apoia a construção de salas de aula.
Escola secundária no campo de refugiados vista como uma necessidade crítica pelos refugiados e pela comunidade anfitriã.
Campo de refugiados de Maratane, Moçambique - O barulho alto de crianças no recreio pode ser ouvido quando se caminha até a escola primária no campo de refugiados de Maratane, em Moçambique, no início da tarde.
A escola primária que atende tanto a população refugiada quanto a anfitriã agora tem 2.325 alunos matriculados. Graças ao apoio do ACNUR, em 2015, dois novos blocos de salas de aula foram construídos para acomodar o crescente número de alunos.
No entanto, no mesmo tempo, havia uma demanda crescente por uma escola secundária no campo de Maratane também. Anteriormente, estes estudantes teriam de viajar para escolas localizadas a cerca de 35 kms de distância, em Nampula, a capital provincial e a cidade mais próxima do campo. Decidiu-se, portanto, que esses dois novos blocos de aulas seriam usados à tarde para acomodar os alunos do ensino médio.
Desde então, o número de matrículas na escola secundária tem crescido bastante à medida que pais refugiados e moçambicanos tentam garantir que seus filhos recebam educação. Actualmente, há 244 alunos matriculados na escola secundária.
Jacqueline Kashindi, 17 anos, está na 10ª classe do ensino médio. Sua família fugiu de sua aldeia em Kivu Sul, na República Democrática do Congo, em 2011. Ela mora com seus pais e seus cinco irmãos e irmãs no campo de Maratane. Quando chegou a Moçambique, foi difícil adaptar-se à sua nova casa no início e sentia falta das suas amigas no Congo, mas logo conseguiu falar português e passou a gostar de ir à escola. Suas disciplinas favoritas são biologia e português.
“Adoro melhorar meu português porque será útil para o meu futuro”, diz Kashindi. Ela gostaria de ser a primeira da sua família a ir para a universidade algum dia e espera se tornar médica. Ela também tem muitos amigos, incluindo moçambicanos.
"Não importa de onde somos, o que importa é que estamos juntos hoje estudando", diz Kashindi. Também matriculado na 9ª classe na escola está o moçambicano Denis Cesario Muteba, de 26 anos. Ao crescer, ele teve que abandonar a escola depois que sua mãe morreu assim que ele terminou a escola primária. Ele lutou para ajudar seu pai fazendo trabalhos provisórios (biscates) para sustentar a família por muitos anos. Ele viu como amigos de sua idade concluíram a escola e conseguiram melhores oportunidades, então ele decidiu que precisava completar o ensino médio. Com a ajuda de uma igreja local, ele se matriculou na escola secundária em Maratane em Janeiro de 2017. “O primeiro dia de escola foi o dia mais feliz da minha vida. Não foi apenas meu primeiro dia de escola, mas o primeiro dia de um futuro melhor para mim”, diz Muteba.
Ele gosta da escola em Maratane porque as propinas são acessíveis e os professores são bons. Sua disciplina favorita é também biologia e ele gostaria de ser um bioquímico algum dia. Ele também gosta de ir à escola com os refugiados. “Em Moçambique, recebemos refugiados aqui como irmãos”, diz Muteba.
Segundo Felix Bernardo Omar, diretor da Escola Secundária Maratane, ”a abertura da escola é um benefício para a comunidade. Em vez de os pais terem de encontrar formas de enviar os seus filhos para escolas em Nampula, a cerca de 35 kms de distância, podem agora estudar perto das suas casas”. “Isso ajuda os alunos a se concentrarem melhor em seus estudos, em vez de serem confrontados com distrações ou dificuldades em viajar para Nampula”, diz Omar.
O maior desafio, no entanto, é ter que dividir as instalações com a escola primária. Eles só têm seis salas de aula disponíveis, o que significa que elas só podem ter seis fluxos de classes, enquanto outras são lecionadas sob a sombra dos cajueiros no pátio da escola.
Para acomodar o crescente número de alunos que frequentam a escola, as autoridades moçambicanas localizaram um local para construir uma nova escola secundária, mas ainda não conseguiram identificar fundos para os custos.
“Poderíamos realmente mudar a vida das crianças se a escola for construída”, diz John Woja, Chefe de Gabinete do ACNUR em Nampula. “Ajudaria também a escola primária de Maratane para reduzir a superlotação recuperando o uso dos blocos construídos originalmente para eles. "O montante total necessário para construir e mobiliar a escola, incluindo latrinas e pontos de água, é de USD 300.000. “Nós gostaríamos de ajudar o Ministério da Educação a construir a nova escola, mas actualmente nossas restrições de financiamento não nos permitem fazê-lo. Então, até que isso aconteça, as escolas primária e secundária precisarão partilhar suas instalações ”, diz Woja. E, por enquanto, Kashindi e Muteba não se importam de ter que fazer isso desde que possam continuar seus estudos.
O campo de refugiados de Maratane está localizado na província de Nampula, no nordeste de Moçambique, e actualmente abriga mais de 9.000 refugiados, principalmente da região dos Grandes Lagos e do Corno da África.