Alimentação da machamba aos pratos de milhares de estudantes
A ONU trabalha em projetos interligados e complementares para melhorar os sistemas alimentares como um todo em Moçambique.
MAPUTO, Moçambique – A semente para a melhoria dos sistemas alimentares em Moçambique está no campo. Estima-se que cerca de 70% dos moçambicanos sobrevivam graças à prática da agricultura de subsistência e de pequena escala. Na Província da Zambézia, esse número é ainda maior, quase 94% das pessoas sobrevivem do campo. No entanto, quando ocorrem eventos climáticos extremos, milhares de pessoas que dependem da agricultura também correm o risco de ficar sem acesso à alimentação de qualidade.
No bairro de Licuar, localizado no Distrito de Nicoadala, na Zambézia, um grupo de 30 pequenos agricultores, em sua maioria mulheres, mostra na prática como a melhoria da qualidade de vida da população de Moçambique deve começar pelo campo.
A Associação da Escola de Campo de Agricultores Curungo iniciou seu trabalho coletivo na machamba durante a temporada de cultivo de 2022/2023, como parte do programa PROMOVE Agribiz, implementado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
O grupo recebeu treinamento em práticas de agricultura sustentável e resiliente ao clima e pôde aplicar os ensinamentos em dois talhões coletivos de 500 m² cada, em uma área de baixada às margens do Rio Licuar. Os agricultores plantaram no sistema de campo de policultura com alimentos ricos nutricionalmente e complementares em termos dos recursos naturais necessários para seu cultivo, visando à preservação do solo e da água.
“Aprendemos a preparar um pesticida e fertilizante ecológico com base em ingredientes locais, como esterco, folhas de feijões e plantas com propriedades repelentes, como cebola, alho, piri-piri e tabaco”, conta a agricultora Inácia Guilhermo Castigo.
“Descobrimos que tudo que temos no campo é uma riqueza” - Inácia Guilhermo Castigo.
Inácia e os outros aprenderam a preparar papas enriquecidas com vegetais produzidos localmente, como cenoura, beterraba, couve, folha de mandioca e moringa, amaranto (nhewe), folhas de feijão, abóbora, amendoim e coco.
“Antes dávamos para nossas crianças papas só com milho, agora aprendemos a deixar tudo mais nutritivo com os produtos que plantamos”, diz Inácia.
O grupo recebeu orientação e um vale eletrônico para a compra de insumos agrícolas, como sementes e ferramentas. A produção agrícola está a render bem e tem diversos destinos; uma parte foi usada para consumo próprio, melhorando as dietas das famílias dos agricultores. O excedente está sendo vendido para a comunidade, mercados locais e as escolas que fazem parte do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PRONAE) do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, apoiado pelo Programa Mundial para a Alimentação das Nações Unidas (PMA).
“Para avançar na luta contra a fome e insegurança alimentar, as agências da ONU trabalham de forma integrada para melhorar os sistemas alimentares como um todo em Moçambique“, diz a Chefe da ONU em Moçambique, Dra. Catherine Sozi.
Um exemplo disso são os estudantes do PRONAE na Zambézia que agora têm um lanche escolar com um menu variado e nutritivo. “Nós percebemos de forma clara a felicidade nos olhos dos alunos que recebem o lanche escolar“, afirma a Chefe da ONU.
Na Zambézia, mais de 43 mil alunos são beneficiados pelo PRONAE, liderado pelo Governo com o apoio do PMA. Os alunos da Escola Primária Eduardo Mondlane em Nicoadala estão a comer feijoada de vegetais, carril de couve, coco e amendoim, entre outros pratos enriquecidos com os vegetais frescos da machamba da associação Curungo.
“Em nossa comunidade temos famílias carenciadas que não conseguem mal conseguem garantir uma refeição diária; Quando os filhos frequentam a escola, os pais ficam descansados porque sabem que terão uma boa comida e o estomago não vai mais reclamar“, afirma Emiliano de Oliveira Augusto, Diretor da Escola há 3 anos.
“Nossa escola tinha 2 mil alunos antes do PRONAE, depois que passamos a receber o lanche, aumentamos para mais de 4 mil alunos. Os estudantes e a comunidade são beneficiados com o lanche escolar“, conta o diretor.
Em todo o país, o PRONAE fornece lanche a mais de 220 mil alunos em 340 escolas com o apoio do PMA. Na província de Zambézia, o PRONAE fornece refeições diárias em 45 escolas nos distritos de Inhassunge, Milange, Mocuba, Morrumbala, Namacurra e Nicoadala.
As refeições são preparadas com base em um menu diversificado composto por vegetais e cereais que atendem a 30 por cento das necessidades nutricionais diárias das crianças. O programa prioriza a aquisição local, onde os vegetais e alimentos frescos são comprados de agricultores familiares, contribuindo assim para o desenvolvimento econômico da comunidade.
Os sistemas alimentares são uma rede interconectada que engloba desde o cultivo dos alimentos até sua distribuição e consumo. Ao cuidarmos dos agricultores, podemos influenciar o acesso a qualidade dos alimentos consumidos no final dessa cadeia, neste caso, as escolas. Aprimorar os sistemas alimentares é crucial para construir comunidades mais sustentáveis em benefício das pessoas e do planeta.
O programa de lanche escolar é financiado pelos Governos da Alemanha, Canadá, Noruega e Federação Russa.