MAPUTO, Moçambique - De acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas de 2023 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), o consumo de drogas injectáveis está a aumentar, com mais de 13,2 milhões de consumidores de drogas injectáveis (CDI) em todo o mundo em 2021, contra 11,2 milhões em 2020. No entanto, apesar do número crescente, apenas 1 em cada 5 pessoas com transtornos relacionados ao uso de drogas recebeu tratamento em 2021.
Com efeito, o acesso ao tratamento continua a ser reduzido em todo o mundo devido a uma série de fatores, nomeadamente o receio de sanções legais e o estigma social com que se deparam os CDI, impedindo-os de obter a ajuda que necessitam e prejudicando ainda mais a sua saúde física e mental.
As mulheres, em particular, enfrentam níveis mais elevados de estigma social e de discriminação, além de recearem consequências judiciais e a perda da guarda dos filhos durante o tratamento. Estes factores fazem com que as mulheres continuem sub-representadas no tratamento de transtornos associados à toxicodependência.
Devido a comportamentos de risco específicos, os CDI enfrentam um risco 35 vezes superior de contrair o HIV do que a população em geral. O UNODC, a OMS, a ONUSIDA e o Banco Mundial estimam que 1 em cada 8 CDI vive com o HIV. A transmissão do HIV relacionada com o consumo de drogas é, portanto, um fator que contribui significativamente para a propagação do vírus, incluindo em Moçambique.
De acordo com o inquérito bio-comportamental a pessoas que consomem drogas no país, realizado em 2013/2014, 50,1% e 19,9% das pessoas que consomem drogas nas províncias de Maputo e Nampula/Nacala, respectivamente, eram seropositivas.
Neste contexto, por ocasião do Dia Internacional Contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas 2023, centrado no tema “Colocar as pessoas em primeiro lugar para fortalecer a prevenção, eliminando o estigma e a discriminação”, o UNODC uniu forças com instituições governamentais, nomeadamente o Instituto Nacional de Saúde de Moçambique (INS) e a MozPud, uma organização não-governamental, para organizar o primeiro fórum comunitário de mulheres CDI com HIV/SIDA em Moçambique.
O fórum, que reuniu mais de 20 mulheres toxicodependentes que vivem com o HIV e activistas, serviu de plataforma para discutir as principais necessidades programáticas e estratégias de minimização de danos na óptica das mulheres CDI participantes.
Uma participante partilhou as suas experiências angustiantes que sofreu como resultado de se envolver em trabalho sexual, ao qual recorre devido aos seus transtornos por uso de substâncias, lançando luz sobre a realidade enfrentada por muitas mulheres CID.
Conforme explicou Zenobia Machanguana, Oficial Nacional de Projeto (HIV) do UNODC, “as mulheres que injetam drogas são especialmente propensas a infecções por HIV devido ao uso de seringas contaminadas, ao envolvimento em trabalho sexual para comprar drogas e à sua maior vulnerabilidade ao abuso, agressão e violação sexual”.
Esta intersecção de factores expõe as mulheres CDI a uma multiplicidade de riscos, apontando para a necessidade urgente de apoio e intervenção abrangentes para responder a estas questões.
Os participantes examinaram também os principais resultados da avaliação inicial realizada no âmbito do inquérito bio-comportamental actualmente em curso a nível nacional, que deverá estar concluído em Dezembro de 2023.
Os beneficiários saudaram o trabalho conjunto realizado pelo UNODC, INS e outras autoridades de saúde relevantes na implementação do inquérito, enfatizando que a existência de mais dados sobre os usuários de drogas e as suas vulnerabilidades em Moçambique contribuirá significativamente para aumentar a conscientização pública e reduzir a discriminação social e o estigma.
Consciente da necessidade de uma abordagem abrangente a estes fenómenos complexos e interligados, o UNODC tem, nos últimos anos, reforçado a sua colaboração com múltiplos sectores da sociedade em Moçambique, envolvendo um vasto leque de atores, incluindo agências governamentais, sociedade civil e jovens.
Através de iniciativas como este fórum e outras campanhas, o UNODC tem procurado aumentar a conscientização sobre os efeitos nocivos que as drogas ilícitas representam para indivíduos, famílias, comunidades e a sociedade em geral, defendendo a necessidade de colocar as pessoas em primeiro lugar e reduzir o estigma e a discriminação.
O UNODC continua empenhado em apoiar os esforços das instituições moçambicanas para aumentar a testagem do HIV, reduzir a procura pelas drogas, promover intervenções de minimização de danos e reduzir o estigma que representa um obstáculo aquando da procura de tratamento por parte dos consumidores de droga. Estes esforços estão em linha com a Visão Estratégica do UNODC para África 2030: Área de Investimento 1: Promover a Saúde das Pessoas através do Controlo Equilibrado de Drogas.