Formação profissional salva-vidas: Jovens em Moçambique contam-nos o porquê
08 agosto 2023
Com o apoio do ACNUR e do IFPELAC, jovens deslocados internos e membros vulneráveis da comunidade de acolhimento recebem treinamento em habilidades para a vida.
MAPUTO, Moçambique –Além de suas casas, muitos jovens deslocados internamente e refugiados também podem perder o acesso a habilidades, confiança, círculos sociais, aspirações e sonhos.
Aisha, uma jovem deslocada de 23 anos de Palma, Cabo Delgado, viveu isto na pele. Por meio do programa de formação profissional da Agência de Refugiados da ONU (ACNUR), ela agora tem oportunidade de atingir o seu potencial e apoiar a sua família.
Quando teve que fugir de Palma em 2021, após ataques de grupos armados não-estatais, Aisha e sua família tiveram que rapidamente empacotar poucos pertences e pegar um barco com destino a Pemba, capital da Província, onde foram acolhidas por um membro de sua família.
Dois anos após, Aisha pode concluir seu ensino secundário e foi uma das jovens escolhidas para se juntar ao programa oferecido pelo governo de Moçambique por meio do Instituto Alberto Cassimo de Formação Profissional e Estudos do Trabalho (IFPELAC), com apoio do ACNUR.
“Nunca pensei que aprenderia a construir uma casa tão rápido”, comenta Aisha ao demonstrar com seus colegas o que acabou de aprender na sala de aula.
“Com este treinamento, vou poder ajudar minha família e minha família a manter a casa onde estamos”, afirma. “Agora, vivemos em 15 pessoas numa única casa e muitos não tem emprego fixo”.
O programa de treinamento profissional incentiva a inscrição de refugiados, requerentes de asilo, deslocados internos e membros vulneráveis de comunidade de acolhimento em formação técnica e profissional.
Os cursos ministrados destinam-se a apoiar o aumento das oportunidades de empregabilidade abrangendo alvenaria, tijolo, soldadura, panificação, cabeleireiro, processamento de alimentos, instalação elétrica, refrigeração e canalização.
Primeiro, os jovens são treinados por quatro meses com experiência prática e teórica ao mesmo tempo em que recebem um salário fixo. Após a conclusão, por meio de parcerias com o setor privado, os jovens são encaminhados para programas de estágios renumerados – onde iniciam sua vida profissional com habilidades que levarão para toda a vida.
Regina, outra estudante, compartilha que o programa instilou uma nova confiança nela sobre seu futuro. Ela agora tem ambições de abrir seu próprio negócio de eletricista após a conclusão do treinamento.
“Meu sonho é que após o estágio, eu possa me juntar com meus colegas e abrir um negócio de serviços de eletricista”, comenta Regina feliz ilustrando o potencial transformador desta iniciativa para capacitar jovens.
Para além das estatísticas, o impacto deste programa é profundamente humano – algo testemunhado na atitude positiva e voltada para o futuro dos participantes. Ao oferecer uma linha de vida para jovens deslocados internos, membros de comunidades de acolhimento e refugiados, o programa mostra o poder transformador da educação.
Para a Coordenadora Residente da ONU e Coordenadora Humanitária, Dra. Catherine Sozi, que visitou o projeto, é preciso “investir ainda mais para que todos tenham acesso à educação, treinamento e empregos decentes para atingirem todo o seu potencial”.
Nadimo Assumane, morador no Assentamento de Refugiados de Maratane na Província de Nampula, é exemplo de como o programa pode ajudar a atingir tal objetivo. Selecionado para participar de um curso de formação em soldagem dentro do programa apoiado por ACNUR e IFPELAC em 2021, agora ele possui seu próprio negócio.
"Eu estava tão animado, fiz o curso por três meses e a partir daí minha vida mudou; Aprendi tudo o que hoje me permite sustentar minha família, aprendi a usar habilidades técnicas para ganhar a vida e construir um futuro melhor”, afirma Nadimo.
Hoje com 23 anos, Nadimo dirige uma oficina de solda, fabrica grades de janelas, portões e presta serviços de conserto e usa sua renda para sustentar a família, principalmente a educação dos irmãos, pois agora acredita que a educação é essencial.
“Hoje, vejo como o apoio em material escolar e treinamento foi de grande importância na minha vida; Agora, aprecio como os programas que o ACNUR oferece ajudam a tirar os jovens das ruas”, diz Nadimo.
Seu atual plano é retribuir à sua prória comunidade treinando outras pessoas em soldagem e serralheria.
“Fui um dos melhores alunos da turma e uma das minhas metas de longo prazo é ensinar o que posso fazer a outros jovens; Há muitos jovens com potencial, mas muitas vezes faltam oportunidades”, afirma Nadimo.
441 pessoas da Província de Cabo Delgado e 372 pessoas da Província de Nampula beneficiaram destas formações apenas em 2022.
Um total de 1,4 milhão de pessoas já foram assistidas com o apoio das 25 entidades das Nações Unidas em Moçambique apenas este ano no norte do país, entre janeiro e junho de 2023, entre elas Aisha, Regina e Nadimo.