MAPUTO, Moçambique - Este 21 de março é o Dia Mundial da Poesia. Proclamada há 24 anos, a data promove a homenagem à poesia, à diversidade das línguas e a trocas entre culturas.
Em Moçambique, jovens dizem que a inspiração não esmoreceu perante circunstâncias como desastres naturais e outras questões que os afetam. Eles falam da arte da declamação como terapia e ferramenta didática.
Da periferia para o mundo
Na conversa com a ONU News, em Maputo, Lorna Zita enfatizou a arte e a poesia como elementos de seu trabalho como revisora e editora da antologia Best New African Poets, destinada a poetas e escritores do continente africano.
A poetisa considera que seu trajeto para a literatura foi inspirado pela professora Olinda, nos arredores de Maputo. Foi ela quem descobriu o talento na sala de aula, enquanto frequentava a escola Primária de Khurula, no bairro da Maxaquene.
Lorna Zita usa o nome artístico “Black Melanin” e considera a poesia o elemento que abriu as portas dela para o mundo.
“Ela representa tudo aquilo que eu sempre acreditei e sonhei, gerar mudanças na sociedade, comunidade onde eu estou inserida; A poesia provou-me que é possível uma menina da periferia vencer as barreiras da vida e projetar se para o mundo".
"Foi através dela que eu me projetei para o Brasil, Reino Unido, Zimbabwe e vários outros lugares onde tive oportunidade de fazer colaborações …eu seria praticamente um ser sem luz sem a poesia, posso assim dizer”, continuou.
Já o escritor Álvaro Fausto Taruma é autor de quatro livros publicados em Moçambique e Portugal. Ele considera difícil definir a poesia, que inspira seus “rabiscos” em livro onde a temática central se alterna entre amor e morte.
“Poesia é um espaço de encontro e de admiração com o mundo. Para mim, toda leitura do mundo resume-se na poesia; Tudo aquilo que vejo e que me permite parar e observar mais uma vez é poesia; A poesia é tudo aquilo que me proporciona ver o mundo de uma segunda vez e de uma segunda perspectiva”.
Poesia é terapia e algo didático
Jovens de Maputo falaram do papel da poesia para as sociedades e como esta forma de expressão terá contribuído para os jovens escritores. Álvaro Taruma falou da função didática.
“Primeiro, porque a poesia nos ensina a imaginar. A imaginação é uma forma de conhecimento também. Então, a partir da poesia nós experimentamos várias possibilidades no sentido cívico. O que funda as nossas sociedades e as diferencia é o pensamento. Para o desenvolvimento deste pensamento, a poesia tem um caráter fundamental.”
A poetisa reconhece que a poesia a fez conhecer o mundo, porém atribui-lhe a função terapêutica
“Eu sempre fui uma menina muito calma e que tinha dificuldade em partilhar as minhas dores com as pessoas Eu encontrava isso através da escrita, tinha um diário que escrevia tudo aquilo que me acontecia e escrevia a poesia de uma forma intuitiva, sem saber que tinha uma veia artística para isso. A poesia foi uma espécie de terapia e continua sendo nos dias de hoje. Mas que uma ferramenta de libertação, eu considero a poesia como uma ferramenta de conscientização.”
Álvaro Fausto Taruma, é formado em sociologia com habilitação em Antropologia. Atualmente cria conteúdo para cinema, rádio, televisão e meios digitais junto a marcas comerciais e agências criativas em Moçambique, Angola e Portugal.
Lorna Zita é produtora cultural, poetisa. É também colaboradora da revista alemã Contemporary and Mentoring Programme.
O Dia Mundial da Poesia foi instituído durante a 30ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, Unesco em 1999.