"A vida civil vale mais a pena do que a vida militar"
08 março 2023
Rosa é uma dos mais de 5.000 beneficiários do processo de desarmamento, desmobilização e reintegração (DDR) em Moçambique. Leia a sua história:
MAPUTO, Moçambique - Em 1988, com apenas 11 anos, Rosa deixou a capital Maputo e ingressou na Resistência Nacional Moçambicana (Renamo). Ela viu sua adolescência ser levada pelo conflito. Quando terminou, Rosa desejava constituir família, cuidar dela e proporcionar uma infância que nunca teve em um ambiente tranquilo. O primeiro filho nasceu em 1993 e, nos anos seguintes, Rosa deu à luz mais três filhos, todos no distrito de Maringué, província de Sofala, Moçambique.
Os anos passaram e Rosa juntamente com muitos outros combatentes da Renamo construíram os seus meios de subsistência e envelheceram juntos no mato. Rosa lembra-se de trabalhar na sua machamba (campo) junto com a família e outros combatentes para produzir milho, feijão, mandioca e legumes.
Embora sempre sentisse necessidade de saber sobre os familiares que deixou para trás em Maputo, a morte do marido durante os anos de instabilidade que começaram em 2012 alimentou ainda mais o seu desejo de se reconectar.
"Eu não sabia onde estava minha família; Pedi a uma delegação que veio de Maputo para nos visitar na Serra da Gorongosa para procurá-los, e eles disseram que os encontraram", comentou alegremente Rosa.
Em 2019, quando a notícia do Acordo de Maputo de Paz e Reconciliação Nacional chegou até ela, seus olhos brilharam com a possibilidade de reencontrar sua família. Ela não sabia se encontraria seus pais e irmãos e poderia apresentá-los aos filhos, mostrar-lhes que eles também têm família. Ela só queria voltar para casa.
Rosa é um dos mais de 5.000 ex-combatentes da Renamo que concluíram o desarmamento e a desmobilização e iniciaram a sua jornada de reintegração de volta às suas comunidades e de volta às suas famílias.
Seu pai não viveu para vê-la voltar, mas as lágrimas de sua mãe ao chegar também carregaram muito da saudade de seu pai. Seus irmãos abriram as portas para ela e seus filhos como se ela nunca tivesse saído.
“Vale mais a pena viver a vida civil do que a vida militar”, comenta Rosa.
Os vizinhos, diz ela, também a receberam de braços abertos. "Fui apresentar-me à administração local; Eu contei minha história, não tenho problemas com ninguém”, ela afirma.
Seu sonho agora é construir um futuro para seus filhos. Com o subsídio de reinserção, conseguiu matricular os filhos na escola para que continuem a estudar em Maputo, e comprar material escolar.
O futuro de Rosa e sua família é promissor, mas acima de tudo pacífico.
Acordo de Maputo para a Paz e a Reconciliação Nacional
Testemunhado por vários ex e atuais presidentes do continente africano, o Acordo de Maputo, assinado em agosto de 2019, facilitou o fim de anos de conflito, buscando trazer a paz definitiva a Moçambique.
Para apoiar a implementação do Acordo de Paz e o programa de desarmamento, desmobilização e reintegração, o Secretário-Geral das Nações Unidas nomeou Mirko Manzoni como seu Enviado Pessoal para Moçambique.