NOVA IORQUE, EUA - A chegada de Moçambique ao Conselho de Segurança, no início deste mês, tem despertado uma série de reflexões sobre o significado para o país ocupar um assento rotativo no órgão da ONU que trata de paz e segurança internacionais.
A nação africana de língua portuguesa venceu a campanha para o Conselho com 192 dos 193 votos possíveis da Assembleia Geral, na eleição em junho passado.
Mudanças climáticas e conflitos
O mandato de Moçambique deve durar dois anos com foco no combate ao terrorismo, os efeitos das mudanças climáticas sobre conflitos e outros pontos.
A ONU News ouviu representantes da sociedade civil em Maputo, capital do país, para saber as expectativas para o mandato que expira no fim de 2024.
O jornalista independente, Tomás Viera Mário, acredita que o país tem muito que partilhar, e uma das áreas é a gestão de conflito.
“É sobretudo partilhar a sua própria experiência em gestão de conflito, construção da paz, porque somos um país que deu exemplo de que se pode transitar da guerra para paz com segurança e construir-se uma democracia mais ou menos estável no contexto do nosso nível de desenvolvimento, portanto, é uma experiência que Moçambique pode partilhar com o mundo”.
Agenda mundial
Tomás Viera Mário lembra que Moçambique também enfrenta, há vários, anos os desafios da mudança climática com uma série de desastres naturais. E é essa resiliência na hora de responder às catástrofes climáticas que pode ajudar o país a brilhar em Nova Iorque.
Crise climática
“Temos oportunidade de influenciar a agenda mundial para olhar para a crise climática como uma questão central. E nós, como país do Terceiro Mundo, podemos ser porta-vozes dos países mais pobres, que são os mais afetados. As pequenas ilhas, os países do litoral que não sendo os principais poluidores são, entretanto, as principais vítimas da crise climática. Então penso que esta é uma área onde nós, neste órgão, podemos também brilhar”.
Somente em 2019, Moçambique enfrentou dois ciclones: Idai e Kenneth, que arrasaram as áreas do norte e centro da nação africana. E, como é de praxe, nesses desastres, os mais afetados são mulheres e crianças.
Para a especialista em estudos de gênero na Universidade São Tomás de Moçambique, Rayma Raja, a integração de Moçambique ao Conselho de Segurança será oportuna para que os próprios moçambicanos pensem mais sobre essa parcela da população: crianças e mulheres.
Mulheres chefes de família
“Especificamente no meio rural, estas mulheres não têm acesso ao emprego, e quando elas são chefes de família por exemplo, perdem definitivamente a terra que têm por causa das incertezas, os deslocamentos por questões de mudanças climáticas, de guerras; Há sempre esta mudança forçosa, e depois são reassentadas numa comunidade em que não têm meios de como trabalhar, como se sustentar porque lá também os espaços estão ocupados por outras famílias”.
Já a Deputada da Assembleia da República, Ivone Soares, presidente da ONG Leda, que significa Liderança, Educação, Democracia, Arte e Ambiente, cita que a presença de Moçambique no Conselho de Segurança deve favorecer o país e o órgão da ONU na luta contra o terrorismo.
Combate ao terrorismo
“Neste momento, em que o nosso país está a combater grupos armados não estatais, no norte do nosso belo Moçambique, importa realmente termos esta oportunidade de conjugar esforços com as potências mundiais que tem mais experiência do combate do terrorismo para ver como é que nós também podemos livrar o povo moçambicano de situações de confrontação e passarmos para discutir as ideias divergentes que houver”.
Durante a presença no Conselho de Segurança da ONU, Moçambique pretende contribuir para a manutenção da paz e segurança internacionais como condição central para o desenvolvimento sustentável em todo o mundo.
Interesses nacionais e africanos
O país também quer promover os interesses nacionais, da África e da Comunidade de Desenvolvimento do Sul da África, SADC, no Conselho de Segurança.
Moçambique passa a integrar, no órgão da ONU, o grupo dos três países africanos chamado A3, composto por Gabão, Gana e Moçambique.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas é o órgão responsável por observar e decidir sobre qualquer potencial problema que possa comprometer a paz mundial.