“Eu só pensava em levar meus filhos para um lugar seguro. Isso é que me dava força".
METÚGE, Moçambique - O dia 24 de março de 2021 jamais será esquecido por Ana José, de 38 anos de idade. “Eu não sabia o que estava acontecendo. Foram os meus vizinhos que me falaram que os malfeitores tinham chegado. Cruzei com eles e me mandaram fugir para longe, porque ficariam ali por uma semana. Eu não imaginava o que ia acontecer,” lembra Ana emocionada.
Ela vivia em Palma com seu marido José Eduardo e três filhos, Isaura (3 anos), Jhony (11 anos) e António (13 anos). Seu marido estava na machamba quando ela precisou fugir com as crianças. Além do medo por não saber se teria um lugar seguro para si e seus filhos se abrigarem, Ana também não sabia se um dia reencontraria o seu marido. “Nós só reencontramos o meu marido agora, 3 meses depois”.
Ana conta que no momento que teve de fugir, não pôde levar nada, apenas a capulana (roupa) que estava em seu corpo, que, no trajeto, serviu para improvisar para seus filhos dormirem.
Foram cerca de 10 dias a caminhar pelo mato, debaixo de chuva e sol intenso.
“Eu só pensava em levar meus filhos para um lugar seguro. Isso que me dava força”, Ana José, de 38 anos de idade.
Quando finalmente conseguiu abrigo no centro de acomodação de Pachinuapa, na localidade Nangua B, ela teve acesso a um telefone celular e pôde localizar o seu marido, que contou que a casa deles havia sido completamente vandalizada pelos grupos armados. Agora que sabia onde estava sua família, José então seguiu para o distrito de Metúge, ao encontro deles.
Ao lado da tenda de Ana, vive sua filha mais velha, Ernestina e seus dois netos Alejazar e Sabina. Ernestina já havia fugido para Metúge e encontrado abrigo neste centro onde agora vive próximo da sua mãe e irmãos.
Ana conseguiu um espaço para alojar sua família e tem acesso a água limpa e práticas de higiene por meio das latrinas. Ela também recebeu um kit do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) que continha capulanas, baldes com tampas, sabão, pensos higiênicos, purificador de água (certeza) e uma lanterna.
"Eu agradeço muito, porque antes do kit, eu ia cartar água em uma bacia que uma vizinha me emprestou e acumulava muita poeira na água", diz Ana José.
No centro, seus filhos também têm um momento do dia dedicado à actividades lúdicas e educacionais oferecidas por migrantes que também vivem no centro.
“Estou feliz porque embora aqui não seja o meu lar, aqui me sinto segura. Eu fiz amigos aqui e os meus filhos também estão recebendo uma educação. Foi aqui que eles aprenderam a escrever. Eles voltam para a tenda cantando músicas em português. Eu fico muito feliz com isso! O Jhony me disse que agora ele vai aprender a escrever o nome dele”.
O UNICEF e parceiros, com o apoio da Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos da América (USAID) e o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Commonwealth e Desenvolvimento do Reino Unido (FCDO), estão a apoiar as famílias deslocadas no campo de Nangua B com a distribuição de kits de higiene e construção de latrinas e estações para a lavagem de mãos. Atualmente, cerca de 1,060 famílias, sendo 5,300 pessoas internamente deslocadas (IDPs), estão a viver no Centro de acolhimento em Nangua-B.