ONU pede união de esforços para reduzir impactos das mudanças climáticas em Moçambique
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Para assinalar o terceiro aniversário da passagem do ciclone Idai, a Chefe da ONU, Myrta Kaulard, frisa a importância da adaptação às mudanças climáticas.
MAPUTO, Moçambique - A Coordenadora Residente das Nações Unidas e Coordenadora Humanitária para Moçambique defendeu hoje uma união de esforços para mitigar os impactos das mudanças climáticas no país, quando se assinala o terceiro ano após a passagem do ciclone Idai.
“Neste triste aniversário, vamos unir esforços para apoiar o Governo e o povo de Moçambique a acelerar a redução do risco de desastres e a adaptar-se às mudanças climáticas”, declarou Myrta Kaulard.
A declaração assinala o terceiro ano após a passagem dos ciclones Idai e Kenneth que atingiram Moçambique em março e abril de 2019, a primeira vez que o país sofreu com ciclones tão devastadores em seis semanas.
Os ciclones devastaram sete províncias e 64 distritos, causaram a morte de 648 pessoas, feriram quase 1.700 pessoas; deslocaram 400.000 pessoas, danificaram ou destruíram mais de 277.700 casas; e destruíram total ou parcialmente mais de 4.200 salas de aula.
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A forte liderança das instituições moçambicanas e o apoio generoso e imediato da comunidade internacional e a massiva resposta humanitária prestada a Moçambique salvaram inúmeras vidas, aliviaram o sofrimento das pessoas afectadas e preservaram a sua dignidade e integridade como ser humano.
Para a Coordenadora Residente das Nações Unidas em Moçambique, os cíclicos desastres naturais que o país enfrenta provam a necessidade de medidas para combater as mudanças climáticas e melhorar a capacidade de adaptação do país.
“A devastação em Moçambique demonstra quão urgente é tomar medidas imediatas para combater as mudanças climáticas e aumentar visivelmente o apoio às nações de baixo rendimento na linha de frente”, declarou Myrta Kaulard.
A Coordenadora ressaltou que o terceiro ano após a passagem do Idai ocorre numa altura em que o país procura enfrentar os danos provocados por dois outros eventos climáticos extremos que se abateram sobre Moçambique neste ano, o ciclone Gombe e a tempestade Ana.
“Ao assinalarmos o terceiro aniversário do ciclone tropical Idai, o ciclone Gombe e a tempestade Ana mostram-nos mais uma vez a difícil situação dos países de baixo rendimento mais vulneráveis quando também são expostos aos impactos das mudanças climáticas", continuou a chefa da ONU.
"O povo de Moçambique os vive todos os anos e sua resiliência e força são admiráveis”, frisou Myrta Kaulard.
Moçambique enfrenta anualmente chuvas e ciclones durante o período chuvoso, que decorre entre outubro e abril.
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Assistência humanitária
No total, cerca de 1,85 milhão de pessoas necessitaram assistência humanitária para salvar e manter suas vidas.
O custo estimado de recuperação e reconstrução foi calculado em US$ 3,2 bilhões na Avaliação das Necessidades Pós-Desastre conduzida pelo Governo de Moçambique. Destes, US$ 1,3 bilhão em fundos foram prometidos plea comunidade internacional para apoiar os esforços de reconstrução.
Pelo menos 2,3 milhões de pessoas receberam assistência alimentar, mais de 700.000 crianças foram examinadas para desnutrição aguda e 646.000 pessoas receberam apoio crítico para meios emergenciais de subsistência.
Mais de 1 milhão de pessoas, cerca de 800.000 delas apenas na Província de Sofala, foram vacinadas contra a cólera, na sequência dos surtos declarados após os ciclones.
Mais de 141.000 famílias receberam assistência em termos de abrigos e aproximadamente 1,4 milhão de pessoas receberam apoio para ter acesso seguro a água potável e saneamento, incluindo kits de dignidade para mulheres e raparigas.
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Um total de 386.000 mulheres e raparigas foram alcançadas com programas voltados para a redução da violência de gênero e apoio às sobreviventes.
Mais de 500.000 crianças e 10.000 professores se beneficiaram de 378 Espaços Temporários de Aprendizagem para garantir que eles pudessem retornar à escola o mais rápido possível para que os alunos pudessem fazer seus exames finais e não perder um ano completo de seus estudos, apesar dos ciclones.
Recuperação e Reconstrução
Os esforços de recuperação e reconstrução liderados pelo governo têm abordado as causas profundas da vulnerabilidade e construção de resiliência contra futuros desastres com foco na recuperação dos meios de subsistência, habitação resiliente e infraestrutura comunitária.
O UN-Habitat apoiou o Gabinete de Reconstrução na concepção e atualização de novos padrões de construção resilientes e esforços para converter novos assentamentos em novas aldeias onde as pessoas possam viver com total autossuficiência.
Junto com o UNICEF, o UN-Habitat está fornecendo apoio ao Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano para a reconstrução e reabilitação de 150 salas de aula e 14 blocos administrativos que beneficiará aprox. 30.000 alunos na Província de Sofala.
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Mais de 1.100 casas estão sendo construídas/reabilitadas, bem como 18 infraestruturas públicas, incluindo mercados, bibliotecas e escolas, também na Província de Sofala como parte do projeto habitacional do PNUD no âmbito do Mecanismo de Recuperação, programa com um orçamento total de US$ 88 milhões para apoiar a recuperação resiliente ao longo de um período de cinco anos.
Por meio dele, mais de 37 mil famílias afetadas em Sofala já foram apoiadas com atividades periódicas de geração de renda para que pudessem recuperar seus meios de vida e restabelecer a economia local. Ao mesmo tempo, a Organização Internacional do Trabalho tem treinado homens e mulheres da Cidade da Beira para que possam ganhar novas habilidades e ingressar no mercado de trabalho.
Recorrência de choques clímáticos em curtos ciclos
As pessoas na África Austral e em outros países de baixo rendimento estão à beira da crise climática global, apesar de terem feito muito pouco para causá-la. A região está aquecendo duas vezes a taxa global e as tempestades tropicais estão se tornando mais intensas e frequentes.
Moçambique é o terceiro país africano mais vulnerável a riscos de desastres, de acordo com o Relatório de Avaliação Global da ONU sobre Redução de Riscos de Desastres.
Assim como acontecera no Ciclone Idai, a passagem da tempestade tropical Chalane em 2020, do ciclone tropical Eloise em 2021, da tempestade Ana, depressão tropical Dumako e ciclone Gombe em janeiro, fevereiro e março de 2022 demostra como a recorrência desses choques climáticos em ciclos mais curtos comparado com o tempo necessário para build back better desafia os esforços para reduzir a vulnerabilidade e os riscos de desastres, assim como, adaprtar-se às mudanças climáticas.
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