No Campo de Reassentamento de Metuge, muitas famílias contam apenas com a assistência alimentar para sobreviver.
PEMBA, Moçambique - Em abril, Bibiana teve que deixar sua casa, machamba e todos os seus pertences para trás por causa da violência em sua vila natal, Muidumbe, ao norte da Província de Cabo Delgado. Ao ver o movimento de grupo armado não-estatal próximo a sua casa, ela só teve tempo e meios para agarrar seus dois filhos. Bibiana fugiu com os filhos e o marido para o mato para se esconder dos ataques armados.
Os ataques continuaram, Bibiana e sua família nunca mais voltaram e não sabem o que aconteceu com a casa. A família caminhou até a vila de Mueda, onde alguns parentes deram dinheiro para que a família pudesse pagar por um carro que os levou até a cidade de Pemba. Para Bibiana, fugir para Pemba, capital provincial, foi a única opção para escapar da violência, proteger seus filhos de 15 e 4 anos e talvez encontrar alguma chance de sustento enquanto espera a paz voltar a sua terra natal.
Mas a sorte não mudou muito quando Bibiana chegou em Pemba. A família foi encaminhada ao campo de reassentamento de Metuge, a uma hora de carro do centro de Pemba por estradas muito acidentadas. Bibiana não encontrou nenhum trabalho e a família passou a viver das pequenas economias e favores dos vizinhos do campo de reassentamento. Depois de alguns meses na pobreza, vendo a situação piorar, seu marido a deixou com os dois filhos e nunca mais voltou.
“Eu estava tão triste que não conseguia parar de pensar. A vida é difícil para uma mulher com filhos sozinha, fui abandonada”, disse Bibiana.
Hoje em dia, ela não gosta nem de pensar por que seu marido foi embora. Ela não teve tempo de se queixar com duas crianças para criar e alimentar sozinha, em um local diferente e na condição de deslocada interna. Sua prioridade é encontrar uma maneira deles sobreviverem.
Em Metuge, para poder viver em melhores condições, Bibiana teve que ir sozinha ao mato para coletar madeira e barro e construir a casa em que sua familia agora mora. Ela tem conseguido mandar as crianças para a escola, mas a situação da família está piorando porque ela ainda não conseguiu encontrar um trabalho. A família estava a sobreviver apenas com o resto da pequena ajuda que recebeu dos parentes e pedindo favores aos vizinhos do campo de deslocados, a maioria em situação parecida com ela.
Legenda: Centro de Acomodação na EPC 22 de Junho em Metuge, Cabo Delgado.
Por muito tempo, Bibiana não sabia do programa de assistência alimentar. Mas os vizinhos disseram que ela poderia receber alimentos do Programa Mundial para a Alimentação das Nações Unidas (PMA). Bibiana contou sua situação a um monitor do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) que fez contato com o monitor de campo do PMA e seu parceiro local, Médicos com África CUAMM, em Metuge para comprovar sua situação e ser incluída no programa de assistência alimentar. Bibiana recebeu seu primeiro cesta de alimentos para sua família no sábado passado, com arroz, feijão e óleo.
“Agora tenho mais força porque sei que nossa comida pelo menos está garantida”, disse Bibiana.
Mais forte, mas ainda sem outras opções de sustento, Bibiana emprestou 500 meticais dos vizinhos para alugar um pequeno pedaço de terra para plantar milho, mandioca, abóbora e outros alimentos. Ainda vai demorar um pouco para as plantas crescerem e poderem complementar a nutrição da família ou ser vendidas. Provavelmente só depois de março do próximo ano.
“Sabendo que tenho comida para meus filhos, fico mais feliz. Eles vão ficar mais fortes para continuar estudando e vou poder trabalhar no campo para melhorar de vida”, disse Bibiana.
No distrito de Metuge, o PMA está entregando assistência alimentar a 156.715 pessoas deslocadas. Ao todo, nas províncias do norte, mais de 900 mil pessoas receberam assistência alimentar no mês de Novembro, com o apoio de doadores como Irlanda, USAID, Canadá, CERF, ECHO, França, Japão, Noruega, Espanha, Suécia e Reino Unido.
Legenda: Crianças no Campo de Reassentamento de Taratara, em Cabo Delgado.
Pedidos de ajuda como o de Bibiana, bem como reclamações, dúvidas, críticas e sugestões são recebidos e canalizados por um mecanismo interinstitucional da ajuda humanitária chamado Linha Verde 1458.
Este número é gratuíto, atende em línguas locais e está disponível todos os dias da semana. O número 1458 é utilizado pela população afetada e atores humanitários para assuntos relacionados à assistência humanitária, incluindo para alegações de abuso. Desde sua criação, em maio de 2019, a Linha Verde já registrou 24.716 casos, com uma taxa de resposta de 84%.