Entidades da ONU Moçambique chamaram para ação global contra as mudanças climáticas e realizam ações locais para marcar a data.
MAPUTO, Moçambique - O mundo enfrenta um aumento exponencial da fome e insegurança alimentar, que tendem a ser agravados pela crise climática caso não se mobilize uma ação global urgente para ajudar as comunidades a se adaptarem aos choques climáticos, alertaram as Entidades da ONU baseadas em Roma neste Dia Mundial da Alimentação.
Especificadamente, participaram das comemorações em Moçambique o Programa Mundial para a Alimentação (PMA), a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) por meio de comunicado de imprensa.
“A crise climática tem o potencial de destruir a humanidade; O mundo não está preparado para um aumento sem precedentes da fome que veremos se não investirmos em iniciativas que ajudem as comunidades vulneráveis a se adaptarem e desenvolverem resiliência às mudanças climáticas”, disse o Diretor Executivo do PMA em Roma, David Beasley.
“A crise climática está a gravar a crise alimentar”, afirmou David Beasley.
As comunidades mais vulneráveis, que em sua grande maioria dependem da agricultura, pesca e pecuária, são as que menos contribuem para a crise climática e, no entanto, são as que mais sofrem com os impactos das mudanças climáticas e contam com meios limitados para mitigá-los.
Moçambique é um dos países mais vulneráveis da África às mudanças climáticas. Menos de dois anos depois que os ciclones Kenneth e Idai deixaram 2,2 milhões de moçambicanos em extrema necessidade, o ciclone Eloise atingiu a costa no mesmo sítio do Idai em Janeiro deste ano afetando mais de 360 mil pessoas.
Os ciclones atingiram comunidades já estressadas pelas condições de seca e infestações de pragas, levam a perdas agrícolas, destruição de infraestrutura, bens e meios de subsistência, bem como podem levar ao deslocamento interno e a agravar conflitos.
Com base no tema do Dia Mundial da Alimentação de 2021, "Nossas ações são o nosso futuro - Melhor produção, melhor nutrição, melhor ambiente e uma vida melhor", Entidades da ONU apelam que líderes mundiais para que reconheçam a ligação entre a fome e a crise climática, convidando-lhes a redobrar os esforços para enfrentar as mudanças climáticas com foco na 26ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26) neste final de outubro.
Em mensagem de vídeo, a Coordenadora Residente das Nações Unidas e Coordenadora Humanitária para Moçambique frisou que não se pode haver conversas separadas sobre alimentos, clima, saúde, nutrição, energia e ambiente.
“Comida é vida. […] Sistemas alimentares sustentáveis são a ferramenta-chave para o futuro de todas e todos” - Myrta Kaulard, Chefe da ONU Moçambique.
Para marcar a data do Dia Mundial da Alimentação de 2021 (16 de Outubro), o PMA e a FAO se juntaram com os governos central e provinciais e parceiros para uma série de eventos em todo o país.
Em Maputo, no último dia 15, o PMA e a FAO se juntaram ao Secretário de Estado de Maputo, ao Secretariado Técnico para a Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN para um evento em sítio aberto numa escola e uma feira de agricultores e alimentos locais.
A comemoração também marcou o Dia da Mulher Rural. Os intervenientes lembraram que são as mulheres as grandes responsáveis pela agricultura familiar em Moçambique.
“O PMA continuará a fornecer assistência alimentar que salva vidas aos mais necessitados, mas precisamos que as comunidades tornem-se mais resilientes aos choques climáticos”, disse Antonella D’Aprile, Diretora Nacional e Representante Residente do PMA no em Moçambique“.
“O PMA está a apoiar os pequenos agricultores a prepararem-se para a próxima temporada de plantio e continuaremos a fazê-lo” - Antonella D’Aprile, Representante Residente do PMA.
Legenda: Diretora do PMA em Moçambique, Antonella Daprille apontou efeito de ciclones e tempestades atingindo comunidades afetadas pela seca.
O Representante Residente da Organização da Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, em Moçambique, Hernâni Coelho da Silva, considerou que o sucesso do apelo global pelo fim da fome depende das ações conjuntas.
Ele declarou haver um elevando índice de pessoas que passam fome no país, o que pode dificultar algumas ações na erradicar o problema que está aliado à má-nutrição até 2030.
“A transformação do nosso sistema alimentar passa pelo imperativo da integração de políticas humanitárias, de desenvolvimento e de construção da paz, assim como, pela ampliação da resiliência climática”, afirmou o Representante da FAO.
“Também passa pelo fortalecimento da resiliência dos mais vulneráveis às adversidades econômicas, pela redução do custo de transação, pelo fortalecimento do ambiente alimentar e do comportamento dos consumidores”, explicou Hernâni Coelho da Silva, Representante da FAO em Moçambique.
Legenda: Representante da FAO em Moçambique, Hernâni Coelho da Silva, disse que futuro da agricultura do empenho individual.
O chefe da FAO em Moçambique elogiou a decisão do governo em alocar pelo menos 10% do Orçamento Geral do Estado para o sector de agricultura. Para ele, a medida demonstra a importância deste sector para o combate à pobreza e erradicação da fome.
Por meio de comunicado de imprensa Samuel Chakwera, Representante Residente do ACNUR em Moçambique, reconheceu o apoio fundamental do Governo Moçambicano em atender as principais necessidades de refugiados e requerentes de asilo no país.
“Em 2019 o Governo da República de Moçambique disponibilizou dois mil hectares para a prática de actividades de subsistência no Assentamento de Maratane, permitindo que refugiados exerçam actividades agrícolas e de pecuária.”, disse Samuel Chakwera, representante do ACNUR em Moçambique.
Entre os deslocados há pessoas com habilidades, experiência e motivação necessárias para aprimorarem seus meios de subsistência e contribuirem para a economia das comunidades anfitriãs, o que poderia ser feito através da criação de mecanismos associados a produção de comida.
Feiras de alimentos, mesas redondas, demonstrações culinárias, campanhas de conscientização nutricional e outras atividades culturais decorreram por todo o país em parceria com governos locais e provinciais.
Legenda: Feira de alimentos e discussão sobre boa nutrição na Província de Manica contou com a participação do Governo Provincial e da comunidade.