Afirma Wizno Nahnombe, monitor de campo do PMA resgatado durante ataque que deixou mais de 50.000 pessoas deslocadas e precisando de assistência humanitária.
PEMBA, Moçambique - Dia 24 de março é um dia que Wizno Nahnombe jamais esquecerá. Ele estava a almoçar em um restaurante com outros colegas em um restaurante no centro da vila de Palma, na Província de Cabo Delgado. Era apenas mais um dia comum de trabalho para o monitor de campo do Programa Mundial para a Alimentação (PMA) das Nações Unidas.
“Recebi um telefonema no rádio perguntando como estava a situação em Palma”, disse ele. “De onde comíamos não dava para perceber que a aldeia estava a ser atacada, por isso informei que estava tudo calmo”.
Wizno não poderia estar mais errado. Poucos minutos depois, outra ligação confirmou o pior: um verdadeiro ataque armado estava a ocorrer a poucos quilômetros de onde ele estava.
“Quando ouvi a palavra 'ataque', não acreditei”, disse Wizno. Tudo parecia normal.
Legenda: O trabalhador da linha de frente do PMA, Wizno Nahnombe, estava na vila de Palma durante o ataque em março.
Como todos os trabalhadores da linha de frente do PMA Moçambique em Cabo Delgado, Wizno foi treinado em protocolos de segurança específicos.
Wizno imediatamente ligou para um colega do PMA e foi aconselhado a manter a calma e buscar refúgio no que se pensava ser um porto seguro - um hotel próximo usado pelos trabalhadores humanitários e outros - até que a ajuda chegasse.
Wizno manteve contato constante com a equipa do PMA no escritório de Pemba, a capital da província. “Admito que não foi fácil ficar calmo, mas seguimos todos os conselhos de segurança”, afirma. Ele estava com outro colega do PMA e muitos outros trabalhadores.
“Acabamos dormindo no hotel. Passamos a noite ouvindo tiros. A certa altura, os homens armados se aproximaram de nós - eles até atiraram na porta do hotel!”
Wizno é moçambicano, trabalha como Monitor de Campo do PMA, a apoiar a distribuição de alimentos de emergência para as mais de 800 mil pessoas deslocadas assistidas pelo PMA em Cabo Delgado.
Ele e os outros não conseguiram dormir durante aquela noite. Na tarde seguinte, Wizno e outras pessoas que estavam se refugiando dentro do hotel foram evacuadas para uma base segura próxima.
“Por um momento pensei que íamos ficar para trás”, diz. “Mas logo percebi que era mais do que um simples membro do PMA; a ONU havia se tornado minha família”
“O PMA me mostrou que estaria comigo o tempo todo. Meus colegas me ligavam o tempo todo, sempre me dando força”, afirma. “Foi notável para mim ver um colega do PMA dizendo 'Estou com você, nunca iremos deixá-lo' ”.
À noite, Wizno finalmente foi evacuado para a cidade de Pemba pelo Serviço Aéreo Humanitário das Nações Unidas (UNHAS) administrado pelo PMA. O UNHAS, que tem como objetivo transportar cargas e funcionários humanitários, evacuou exepcionalmnete 380 pessoas durante os ataques.
Legenda: Mulheres deslocadas da aldeia de Palma agrupadas para uma distribuição geral de alimentos no distrito de Mueda.
Desde 2017, grupos armados não estatais vêm atacando aldeias, destruindo famílias e forçando as pessoas a deixarem suas casas. Até hoje, mais de 730 mil pessoas foram forçadas a deixar suas vilas e machambas, fazendo de Cabo Delgado uma das crises de deslocamento que cresce mais rápido do mundo. Devido ao conflito em curso, o deslocamento e a perda de meios de subsistência e geração de renda, quase um milhão de pessoas estão a sofrer de insegurança alimentar no norte de Moçambique.
O Diretor Executivo do PMA, David Beasley que visitou Cabo Delgado em junho, declarou que “estas comunidades inocentes agora dependem completamente de agentes humanitários como o PMA para lhes fornecer alimentos que salvam vidas e ajudá-los a se recuperarem”.
Wizno é um dos muitos heróis da linha de frente da Nações Unidas que trabalham em conflitos, desastres naturais e guerras para salvar vidas.
Relembrando seu contato com a violência, ele diz: “Claro, eu fiquei traumatizado. Demorei para me recuperar. Agora que o trauma passou, estou me sentindo bem e pronto para a próxima batalha. Minha arma é minha vida”.