“É preciso aumentar o financiamento para a Resposta Humanitária em Cabo Delgado”
19 junho 2021
Legenda: Mais de 730 mil pessoas foram deslocadas devidos à insegurança e a crise humanitária na Província de Cabo Delgado. Mais da metade desse número é composto por mulheres.
Afirmou Myrta Kaulard durante briefing virtual sobre a crise humanitária em Cabo Delgado para Estados-membros das Nações Unidas.
Maputo, Mocambique - A Coordenadora Residente das Nações Unidas e Coordenadora Humanitária em Moçambique, Myrta Kaulard, considerou ontem que a crise em Cabo Delgado ainda está para durar e que é urgente um reforço de apoio.
A crise "não é algo que vai desaparecer depressa" e "é preciso aumentar o financiamento para a Resposta Humanitária em Cabo Delgado, especialmente no próximo mês que vai ser crítico", referiu em um briefing virtual sobre a crise humanitária em Cabo Delgado para Estados-membros das Nações Unidas organizado pelo Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários.
Também participaram do evento os Diretores de Emergência Globais do PMA, UNICEF, IOM, UNHCR e FAO que visitaram o país recentemente, os representantes em Moçambique das ONGs internacioanis Save the Children and ICRC e dos representantes dos EUA, França, Japão, Países Baixos e União Europeia na sede das Nações Unidas em Nova Iorque.
No encontro, Myrta Kaulard agradeceu pela "diplomacia humanitária" exercida dentro e fora de Moçambique, bem como às autoridades moçambicanas por um "diálogo constante" que permitiu melhorar o processo de atribuição de vistos para especialistas da ONU entrarem no país e ajudarem nas operações humanitárias.
Legenda: De 16 de Outubro a 11 de Novembro, mais de 14.400 pessoas deslocadas internamente chegaram de barco à praia de Paquitequete em Pemba, Cabo Delgado.
"Tem havido melhorias [na atribuição] de vistos para as Nações Unidas", referiu, acrescentando que é preciso também cuidar do mesmo tipo de processo para as organizações não-governamentais.
"Mas o que vejo [por parte das autoridades] é uma vontade de resolver os assuntos pendentes e a plataforma que foi criada está a discuti-los", sublinhou a Coordenadora Residente da ONU e Coordenadora Humanitária para Moçambique.
Myrta Kaulard faz alusão a uma plataforma criada para coordenação entre ações civis e militares. Trata-se de um grupo que está também a tentar ultrapassar as dificuldades de acesso humanitário a zonas inseguras.
"O acesso é outro desafio e nisso vejo que a plataforma para coordenação civil e militar está a abrir [caminho] e a desenvolver-se. Precisamos de ir para Afungi e áreas em redor", sublinhou, assinalando que "há um diálogo intenso" e que as últimas visitas de dirigentes da ONU ao país "têm ajudado" a desbloquear a situação.
A península de Afungi é uma das zonas que acolhe milhares de deslocados da vizinha vila de Palma, atacada por grupos armados não estatais em março, que precisam de alimentos e cuidados básicos.
"Só espero que não tenhamos outro ciclone na próxima época" de tempestades, a partir de outubro, referiu aquela responsável, realçando que "as chuvas podem ser devastadoras sem eles".
Myrta Kaulard destacou ainda a abertura e compreensão do Ministério Público em Cabo Delgado para fazer face aos casos de abusos e exploração sexual entre deslocados.
Legenda: Os recentes ataques em Palma forçaram a saída de pelo menos 11.000 pessoas da região, com milhares de outras presas dentro da área.
A violência e o conflito no norte de Moçambique continuaram a gerar deslocamentos massivos, aumentando a necessidade de assistência humanitária na região.
O número de pessoas deslocadas internamente devido aos ataques aumentou de 172.000 em abril de 2020 para mais de 732.000 pessoas no final de abril de 2021. Mais recentemente, o ataque a Palma em 24 de março e confrontos em todo o distrito forçaram quase 68.000 pessoas a fugir suas casas e mudem-se para áreas mais seguras.
O deslocamento repetido e a destruição dos meios de subsistência estão exaurindo os recursos escassos das famílias, levando a uma grave crise de fome em meio a várias emergências de saúde e proteção. No total, mais de 900.000 pessoas estão sob insegurança alimentar severa em Cabo Delgado, Nampula e Niassa.
Deslocamento repetido e a conseqüente destruição dos meios de subsistência e recursos já escassos das famílias, aumentam a adoção de mecanismos negativos de enfrentamento, incluindo o casamento prematuro.
Mulheres e crianças correm maior risco de violência de gênero, exploração sexual e abuso, pois famílias foram separadas quando seu membros fugiram da violência. Mais de 380 crianças desacompanhadas chegaram de Palma para outro distritos de Cabo Delgado em abril de 2021.
Apesar dos obstáculos, as agências humanitárias foram capazes de ajudar mais de 710.000 pessoas no norte de Moçambique nos primeiros quatro meses de 2021.
Legenda: Milhares de pessoas foram deslocadas pelo conflito na província moçambicana de Cabo Delgado.
No entanto, a grave falta de financiamento está dificultando a resposta. Apenas 10% dos US$ 254 milhões necessários no apelo lançado no Plano de Respostsa Humanitária para Cabo Delgado em dezembro 2020 foram recebidos até à data, de acordo com o Financial Tracking Service (FTS) do OCHA.
O Fundo Central de Resposta à Emergência da ONU (CERF em sua sigla em inglês) é atualmente o maior doadorregistrado em 2021, com US$ 5 milhões alocados para Resposta Rápida à crise de Palma e mais US$ 5 milhões recém-anunciados da janela de Emergências Subfinanciadas.
Os doadores estão se intensificando e acordos adicionais estão sendo assinados. No entanto, mais financiamento é necessário agora para garantir que os agentes humanitários pode ampliar sua resposta às necessidades em rápido crescimento.